As punições
Falo para os amantes da blue crew e para os torcedores indignados. Essa semana a MLB divulgou as punições ao Houston Astros por conta do escândalo do roubo eletrônico de sinais durante a temporada 2017 e que culminou com a equipe do estado do Texas como campeã da World Series.
Houve quem tenha visto os $5MM de multa, mais a suspensão por 1 ano de Jeff Luhnow e A.J. Hinch, assim como a impossibilidade de draftar nas primeiras e segundas rodadas de 2020 e 2021 como punições suficientes. Luhnow e Hinch foram demitidos pelo presidente da franquia, Jim Crane, no fim do dia em que as punições foram reveladas.
Mas houve também quem viu como bastante insuficiente o que foi imposto aos Astros. Alguns até disseram que valeu a pena o roubo de sinais. Esse aqui que vos escreve considerou um afago o que a MLB definiu como punição para Houston.
Mas foram punições?
Senão, vejamos. Os $5MM de multa. Como disse um amigo, basta aumentar $2 dólares no preço dos ingressos ou $1 dólar no valor do cachorro quente vendido no Minute Maid Park e essa grana será facilmente levantada. Enfim, o que são $5MM para um time com um payroll, para 2020, na casa dos $207MM?
E a suspensão e posterior demissão de Jeff Luhnow e A.J. Hinch? Você pode dizer (não é, Renan do Couto?): “mas demitiram o GM e o manager do time”. Porém, espere um pouco. Uma organização capaz de criar um sofisticado esquema eletrônico de roubo de sinais não teria outros membros aptos para o trabalho de Luhnow e Hinch? Parece que sim, não é, Joe Espada? E o Jim Crane saberá encontrar alguém no covil dos Astros para atuar como GM.
Ah, e a impossibilidade de draftar na 1ª e 2ª rodadas de 2020 e 2021. Os Astros tem 7 divisões em sua estrutura de Minor Leagues. Assim, será que não escolher 4 jogadores é tão prejudicial? Lá pelo ano de 2028 talvez a gente saiba.
Ok! Caro amigo leitor, você vai argumentar que a MLB chegou ao limite máximo das punições que estão previstas em seu caderninho de regras. Mas eu te respondo perguntando: e esportivamente, qual foi a punição dos Astros?
Sem asterisco
A MLB colocou algum asterisco no vencedor da World Series de 2017? Não! Alguém disse que o asterisco quem coloca é a sociedade. Mas o que eu faço com os asteriscos? Em 2050, sem um asterisco oficial, quantos saberão contar a história do roubo de sinais?
Algum jogador dos Astros foi punido? Perderam suas premiações individuais? Nada disso! Tudo segue intacto! Colocaram pelo menos um asterisco (como fizeram com os jogadores dopados)? Ah, esse é outro asterisco que a sociedade vai colocar. Entretanto insisto, o que eu faço com os asteriscos?
Sou torcedor dos Dodgers. Ninguém mais do que nós foi prejudicado por toda essa trapaça. E eu nem vou falar do Alex Cora porque não quero ser grosseiro e desrespeitoso. Porém, para ele, só desejo uma única coisa: o completo ostracismo.
O roubo eletrônico de sinais cometido por Houston não mudou apenas o resultado dos jogos, mas colocou em dúvida a qualidade de arremessadores. Alguns perderam o emprego.
Oh, pedaço de mim
Muito mais do que isso! Os Astros me tiraram a oportunidade de gritar “é campeão”. Roubaram os abraços da comunidade Dodgers no Brasil e no mundo. Extirparam a oportunidade de Los Angeles se vestir de azul. Essa é a dor da Nação Dodgers hoje. O roubo de sinais não permitiu que eu vestisse minha camisa 42 na manhã seguinte ao título da Blue Crew e com ainda mais orgulho.
Houston arrancou de mim (de nós, fãs dos Dodgers) a chance de ver um dos maiores times da história do baseball coroado como campeão. Não pude dizer ao felipetta e ao henriquetta (amigos de tailgate e torcedores do SF Giants) que eu também vi meu time vencer uma World Series. Pelo contrário, eu tive que agüentar a zoação deles.
No entanto, nada machuca mais do que ter visto a reputação de um dos maiores jogadores de todos os tempos ter sido motivo de chacota. Clayton Kershaw foi moído no jogo 5 (no Minute Maid Park) daquela World Series de 2017.
Um pedaço do kershaw
No jogo 1, no Dodger Stadium, Kersh arremessou 7 entradas, anotou 11K, recebeu 3 rebatidas, cedeu uma corrida e nenhum walk. No jogo 7, também em LA, CK arremessou por 4 innings permitindo duas rebatidas, cedendo 2 walks, nada de corridas e registrando 4K. Mas no jogo 5, em Houston e com roubo de sinais, o #22 esteve por 4.2 entradas e registrou apenas 2K, além de ceder 6 corridas (1HR), 4 rebatidas e 3 walks. Diferente, não?
Stephen A. Smith, comentarista da ESPN americana, falando sobre a punição – fraca – imposta aos Astros e sobre o que ele viu naquele jogo 5 disse, “estávamos na arquibancada e tudo o que eu pensava era ‘como esses caras não conseguem eliminar ninguém?’ Que diabos está acontecendo?”.
Chamaram Kershaw de “pipoqueiro”, “amarelão”. Ele próprio, depois de outros insucessos, chegou a aceitar que tinha problemas para jogar em outubro.
Não, Kersh! Você não tem problema nenhum! Você é gigante! É fantástico! Lamento pelos que te amofinaram! Perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem! Não quero te ver mais com as mãos nos joelhos, arrasado, destruído moralmente. Não, não quero!
Nada de asteriscos
Mas a verdade é que você, JT, Belliboy, CT3, Darvish, Morrow, Ethier, Puig, Muncy, Maeken, Wood, Kiké, todo aquele roster sensacional são muito maiores do que tudo isso. Mas é sofrido pensar que nossa comemoração ficou engastada naquilo que o esporte mais abomina: a desonestidade. E não há asterisco (aquele que a MLB não colocou ou aqueles que a sociedade impõe) capaz de mudar o rumo da história. Afinal, o que eu faço com os asteriscos?