Os inquebráveis (Parte 1)

Tempo de leitura: 9 minutos
Esse texto foi originalmente publicado no MLB da Massa (por mim), essa é uma versão dele.

No podcast que foi ao ar ontem, um nome foi citado em meio a críticas que fizemos ao Robert Manfred, com relação a não punição do Houston Astros. O nome citado é de um inquebrável, ou melhor, de um cara que tem um recorde considerado inquebrável. Diga-se de passagem, talvez o mais inquebrável de todos os inquebráveis.

Enfim, ao final da edição fui descansar a mente, os ouvidos e a coluna (velho!), porém, quem disse que eu consigo ficar parado? Sentado no sofá ao lado de Dona Onça e Baleia, lembrei de uma série de textos (dois!) que escrevi para o MLB da Massa; onde eu comentava sobre os diversos recordes que são considerados inquebráveis e falava um pouco de seus donos.

Então, resolvi resgatar o texto em meus arquivos, para publicarmos para o nosso amigo tailgater. Então vamos lá! Toda a história, o mote para escrever esse texto, começou num jogo em 29/04/2019 entre Giants e Dodgers.

Nesse jogo, Cody Bellinger, no alto de seus 23 aninhos, impulsionara uma corrida, a 37ª naquela temporada. Para os Dodgers, a rebatida não resolveu muito, mas para Bellinger, foi histórica. Foi a primeira vez que alguém conseguiu 37 corridas impulsionadas ante do dia 1 de maio.

Naquele dia Bellinger (“Esse moleque acabou de quebrar um recorde, que outro record será que ele consegue quebrar?”), foi o motivo da coluna, mas dessa vez, foi o nome que surgiu em nosso podcast e que que trouxe a tona essa história de recordes inquebráveis. Então vamos lá, começar por ele mesmo.

Maior número de rebatidas na carreira – 4.256

E o nome citado no podcast, foi o de Pete Rose. Carreira encerrada antes mesmo que eu fosse um projeto de meus pais, mas com o seu nome no livro dos recordes da MLB. Ambidestro e muito versátil, Pete Rose jogou por 24 temporadas na MLB por três times distintos, o Cincinnati Reds, o Philadelphia Phillies e o (extinto) Montreal Expos.

Como nós mesmo comentamos no podcast, Derek Jeter foi um dos que mais próximo ficou de conseguir esse recorde, mas mesma assim é uma distância absurda. O (talvez) maior ícone dos Yankees, encerrou sua carreira com 3.456 rebatidas em suas 20 temporadas jogando pela franquia mais vitoriosa da MLB.

Embora tenham sido quatro temporadas a menos que Pete Rose, provavelmente esse número não seria alcançado tão cedo. Apenas fazendo uma conta de papel de pão, ou seja, usando a média de rebatidas da carreira de Derek Jeter, mais cinco anos seriam necessários. Logicamente, é difícil imaginar que o Jeter (mesmo sendo Jeter), conseguisse manter a média de rebatidas de sua carreira.

Entretanto, se conseguisse manter, seria necessário um pouco mais de tempo que Pete Rose. Mais um ponto, só para terem ideia da dimensão dessa marca; um jogador precisaria de 250 rebatidas por 17 temporadas seguidas, ou então, pouco mais de 200 rebatidas por 21 temporadas seguidas. 

Agora, se você ainda parece esperançoso, talvez o próximo dado pode acabar com isso. Nos últimos 80 anos, apenas o recém aposentado (e gigantesco) Ichiro Suzuki, foi quem conseguiu esse feito. Em 2004, o ídolo japonês, conseguiu 262 rebatidas numa única temporada.

Maior número de at-bat na carreira – 14.053

Bom, poderia ser outro jogador, mas não é. Pete Rose também detém o recorde de maior número de at-bats na MLB. Seguindo a mesma lógica, Derek Jeter foi o que chegou mais próximo de bater a marca, com 11.195, mas ainda sim, muito longe. Hoje podemos encontrar Albert Pujols como o mais próximo de chegar nessa marca, mas para isso precisaria jogar mais algumas temporada. 

Para ser mais claro, Pujols está com 39 anos e precisaria jogar até os 45. Para obter esse recorde não precisaria usar tanto o seu talento, apenas precisaria conseguir girar o bastão. Entretanto, será que ele pretende continuar por mais tanto tempo na liga, ou então, será que sua franquia ainda pretende mante-lo do elenco só para um recorde? Duvido. 

Escute nosso podcast para saber como chegamos nesse cara, que tem dois recordes inquebráveis.
Pete Rose, o nome que surgiu em nosso podcast tem dois recordes inquebráveis.
Fonte: AP Images

Maior número de walks na carreira – 2.558

Aqui temos um dos nomes mais controversos da história e o detentor do recorde de hon-rons em uma única temporada. É claro que estou falando de Barry Bonds. O ex-jogador ficou muito conhecido por sua habilidade em rebater bolinhas para além dos ballparks, mas também por ter seu nome envolvido em um escândalo referente ao uso de esteróides.

Em 2000, o personal trainer de Bonds foi acusado de fornecer esteróides para atletas, incluindo jogadores de baseball profissionais. Durante o julgamento, Bonds negou o uso, mas futuramente o caso voltou a tona devido ao livro “Game of Shadows”. No livro, os autores afirmam que Bonds usou estanozolol e mais outros esteróides, então, com isso, Bonds passou a ser investigado por perjúrio.

Ele acabou sendo absolvido, mas foi condenado por obstrução de justiça. A condenação foi mantida em uma apelação feita em 2013, mas revertida em 2015. A figura do jogador é bem controversa por esses motivos, no entanto, a liga não o afastou dos jogos durante todos esses processos.

Sendo assim (boladão ou não), ele seguiu fazendo números lá pelos lados de São Francisco. Em 2001, rebateu 73 home runs, um número bem significativo, mas que hoje em dia, apesar de ser difícil, não parece mais ser tão impossível. Entretanto, outro número (o de walks), parece ser bem difícil de ocorrer.

Bonds não era só um grande rebatedor de hon-rons, ele rebatia bolas para todos os lados. Com isso, em 2004 ele recebeu o walk intencional por 120 vezes. Uma vez que já era considerado grande rebatedor, junto com as notícias dos esteroides, os arremessadores tinham medo de enfrentá-lo.

Barry Bonds não sonha com o Hall da Fama por conta da polêmica com os esteróides.
Barry Bonds foi eleito MVP por sete vezes, sendo quatro em anos consecutivo (2001 a 2004).
Fonte: Getty Images

Maior número de rebatidas duplas na carreira – 792

Tris Speaker, também conhecido como “The Grey Eagle”, jogou por 22 temporadas na MLB, durante 1907 e 1928. Desde então detém esse recorde, que talvez fique com ele até que complete 100 anos (ou mais). Nosso já comentado Barry Bonds, chegou perto desse número (601), mas não conseguiu quebrá-lo. David Ortiz, o Big Papi e Adrian Beltrá, também chegaram próximo da marca, com 632 e 636 respectivamente.

Os dois já “penduraram a luva e o taco” e agora, quem ainda está na ativa e poderia quebrar o recorde é Albert Pujols. Com 645 rebatidas duplas em 19 temporadas, o jogador precisaria manter uma média de 37 rebatidas duplas pelas próximas 4 temporadas. Parece um pouco difícil, ainda mais contando com o declínio normal de um jogador.

The Life and Career of Tris Speaker
Tris Speaker, um recorde que já dura quase um século.
Fonte: retirado do site Imagine Sports

Maior número de rebatidas triplas na carreira – 309

Talvez esse seja o único recorde que conseguimos dizer que realmente nunca será quebrado. Sam Crawford, detentor do recorde, jogou por 19 temporadas na MLB, de 1899 até 1917, com destaque para 1914, quando rebateu 26 triplas. Crawford não era um grande rebatedor de home runs (97 na carreira), mas sabia como conseguir ao menos três bases.

O último jogador que chegou a perseguir essa marca, “de perto” foi Roberto Clemente, que em 1972, de forma absolutamente trágica, não pode seguir buscando o recorde, seus sonhos. Roberto Clemente faleceu num acidente de avião, quando estava a caminho da Nicarágua, para entregar suprimentos ao país que tinha acabado de ser atacado por um terremoto.

De lá para cá, tivemos José Reyes, que até tentou buscar a marca, mas nem em uma única temporada conseguiu alcançar as mesmas 26 rebatidas triplas de Crawford. Sei que existe aquela máxima urbana do “nunca diga nunca”, no entanto, aqui é bem difícil não dizer, que esse recorde nunca será quebrado.

Será que esse é o inquebrável dentre todos os inquebráveis?
Sam Crawford, dono de um recorde que já é centenário.
Fonte: Wikipedia

Maior número de bases roubadas na carreira – 1.406

Ao longo da história tivemos ótimos ladrões de base, mas nenhum foi tão consistente quanto Rickey Henderson. Tanto é que ele também possui os recordes de maior número de temporadas com 70 ou mais roubos de bases (7 temporadas) e até maior número de temporadas com 100 ou mais roubos (3 temporadas).

Henderson encerrou a carreira em 2003 e deixou o segundo colocado na lista de maiores ladrões, com 468 roubos a menos. Assim como o recorde acima (rebatidas triplas), parece surreal imaginar que existam tantas tentativas de roubo de base para que esse recorde seja quebrado. Sendo assim, a revista LIFE, classificou esse recorde como o verdadeiro inquebrável.

Para ter dimensão da dificuldade, um jogador precisaria de uma média de 70 bases roubadas por 20 temporadas para conseguir se aproximar do feito de Henderson. Para deixar mais claro, o jogador até então em atividade que se aproximava de Henderson era Ichiro Suzuki, com 500 bases roubadas.

Rickey Henderson é outro dos inquebráveis.
Rickey Henderson: esse roubou mais base, do que o Dodô rouba estrelas no Mario Party.
Fonte: Site do Hall da Fama do Baseball

Maior número de jogos consecutivos – 2.632

Hoje em dia imaginar qualquer jogador participando de todos os jogos da temporada é muito difícil. Agora, imagine jogar por 17 temporadas seguidas, parece algo mais surreal não é mesmo? Tanto é, que se eu falar os nome dos que conseguiram grandes sequências, talvez sejam desconhecidos da grande maioria.

No entanto, vindo para tempos mais recentes, o último jogador a ter uma grande sequência, foi Alex Rodriguez. Durante os anos de 2000 e 2003, ele jogou por 546 jogos seguidos, ou seja, menos de um quarto do que nosso recordista conseguiu. De qualquer forma, quando Lou Gehrig atingiu a marca de 2.130 jogos consecutivos (lá em 1939), achavam impossível esse número ser batido.

Então em 19 de setembro de 1998, após o Zidane não economizar gols contra o Brasil; Cal Ripken destrui o recorde. A marca foi atingida alguns anos antes, porém o jogador queria mais. Então ele adicionou mais 500 jogos ao recorde e se aposentou. É, não foi bem asssim; ele só tirou um dia de folga e acabou se aposentando três anos depois. Cal Ripken é com certeza o homem de ferro do baseball.

Cal Ripken Jr. manda um olá pra torcida no dia em que completa seu jogo consecutivo de número 2.131. Adeus recorde de Lou Gehrig.
Carl Ripken Jr. no jogo que quebrou o recorde de Lou Gehrig (2131 jogos consecutivo).
Fonte: Denis Paquin / Associated Press

Continuará

Brincamos que “ah, esse recorde realmente é inquebrável”, mas sabemos que todas as marcas aqui são extremamente importantes e gigantes! Esses senhores citados acima são quase super heróis do baseball. No entanto essa é só a primeira parte.

Aí pra cima comentei apenas dos recordes considerados inquebráveis para rebatedores; ainda temos tantos outros considerados inquebráveis para os arremessadores. Mas por enquanto, seguimos assim, no ano passado era uma homenagem ao bom começo de temporada de Bellinger e Yelich, mas nesse ano é por causa de Pete Rose.

Na próxima quarta-feira traremos a segunda parte desse texto. Enquanto isso, aproveita para ouvir o nosso podcast e entender como chegamos no nome de Pete Rose. Aqui embaixo, só um spoiler.

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