Nossos amigos tailgaters já sabem que por aqui adoramos falar em sonhos e transformações. Então, sabendo disso, o evento que vai rolar amanhã não pode passar em branco. É de obrigação nossa falar sobre o Draft da NFL. Os mais experientes no esporte já conhecem muito bem tudo que acontecerá entre esta quinta-feira e sábado.
As 32 franquias da NFL, recrutarão jogadores universitários para darem aquele UP (ou não) no elenco. Com isso, então, quem sabe, conseguir finalmente aquele Super Bowl tão desejado. Muitos dizem que aqui realmente damos o start na temporada. É onde começamos a imaginar o que será de cada franquia não só para a temporada, mas também para os próximos anos.
Durante sete rodadas, promessas serão escolhidas e jornadas começarão a ser traçadas (desculpem o clichê). Enquanto isso, temos agitação nos QGs dos times, nas famílias dos jogadores e também em várias casas de apostas. Ou você acha que o Draft da NFL ficaria de fora disso?
Quem será a primeira escolha? Quem será o primeiro QB draftado? Quantas posições fulano cairá? Qual será a piada do Draft? Qual será a escolha bizarra do Oakland Raiders? Ops, desculpe torcedor dos Raiders, mas isso é histórico. Enfim, as apostas são várias, mas vamos ao que interessa: Onde tudo isso começou?
Uma “tesourada”
Já tem algum tempo e a liga que conhecemos hoje nem existia. Inclusive, o formato também era um pouco diferente, quando falamos em contratação de jogadores. Na época (década de 20 e parte da década de 30), todos os jogadores saindo das universidades eram considerados free agents.
Inclusive, esses jogadores chegavam a ser mais conhecidos que os próprios jogadores da liga profissional. Em 1933, Bert Bell, a figura maior do Philadelphia Eagles, pretendia trazer aquele que seria “o cara” da franquia. Na época, esse “o cara” era Stanley “King Kong” Kostka, um fullback e linebacker vindo da Universidade de Minnesota (os Gophers).
Entretanto, quando tudo parecia certo, o Brooklyn Dodgers (sim, eles eram uma franquia de futebol americano naquela época), conseguiu furar o acordo e levar o jogador. Bem, é óbvio que isso deixou Bert Bell enfurecido. Logo após o anúncio, da aquisição de Kostka pelos Dodgers, Bell disse que a liga não teria vida longa.
O “pojéto” do “pofexô” Bert Bell
Para o dono dos Eagles, o sistema existente na época, não permitia que todos os times conseguissem contratos com os bons jogadores vindos do College. Dessa forma, sempre os times com maior mercado, acabavam sendo mais atrativos para esses garotos. Foi então que Bert Bell, que de bobo não tinha nada e era mestre na arte da negociação, conseguiu mexer uns pauzinhos.
Em 19 de maio de 1935, junto com outros donos de franquia, criou um novo plano que deixaria a liga mais competitiva. A propósito, é dessa época a famosa frase de Bert Bell, “a liga é tão forte quanto o seu time mais fraco”. Esse plano, nada mais é, do que o que conhecemos por Draft hoje em dia.
Ou seja, os times escolheriam os seus novos jogadores, na ordem inversa da classificação da temporada passada. Isso deixaria todas as franquias com o mesmo poder para assinar com esses garotos vindos da universidade. Consequentemente, em teoria, os times começariam a ter uma certa igualdade. Parênteses, das quatro grandes ligas americanas, a NFL foi a primeira a instituir o formato do Draft.
O primeiro Draft
Enfim, plano desenhado, proposta aceita, hora da execução. Então, nos dias 8 e 9 de fevereiro de 1936, na Philadelphia, mais precisamente num hotel da família Bell, aconteceu o primeiro Draft. Aposto com você, amigo tailgater, que acerta “de prima” quem teve a primeira escolha geral.
Se você disse Philadelphia Eagles, você acertou. Na temporada de 1935 eles executaram com perfeição o primeiro tank registrado na NFL. Brincadeiras a parte, a campanha dos Eagles foi de duas vitórias e nove derrotas. Sendo assim, o primeiro jogador escolhido num Draft, foi Jay Berwanger. Por coincidência ou não, ele também foi o primeiro vencedor do troféu Heisman, prêmio dado ao jogador mais espetacular do College.
Agora, o ponto mais maluco dessa escolha, é que o excelente plano de Bell, falhou com ele mesmo. Berwanger não aceitou o contrato com os Eagles, pois imaginou que poderia ganhar muito mais dinheiro. Então os Eagles trocaram o direito de negociar o contrato dele, com o Chicago Bears. Entretanto, George Halas, dono dos Bears, também não conseguiu chegar num acordo com Jay Berwanger.
Para deixar mais claro, no primeiro momento, Jay Berwanger rejeitou o contrato. O que o jogador pretendia com isso, era continuar amador e disputar as Olimpíadas de 1936. No entanto, ele acabou sendo cortado da equipe olímpica e voltou a negociar com os Bears. Halas propôs um contrato de U$ 13.500, mas o jogador queria U$ 15.000, então acabou rejeitando esse outro contrato.
Por fim, ele resolveu arrumar um emprego numa empresa de pneus em Chicago e também ser um dos técnicos da universidade de Chicago nas horas vagas. Ironia do destino ou não, a primeira escolha de Draft da NFL, nunca jogou na liga.
Mais um pouco de história
Hoje, o Draft da NFL tem sete rodadas, mas em seu primeiro ano, eram nove rodadas. Já no ano seguinte, mais uma rodada foi adicionada e em 1939, eram 20 rodadas. Inclusive, em 1938 e 1939, apenas os cinco piores times escolhiam na segunda e quarta rodada. A explicação para essa flutuação na quantidade de rodadas, tem dois grandes motivos.
O primeiro deles foi o aumento considerável de grandes jogadores disponíveis nas universidade. Já o segundo foi pura competição com outra liga. Nos anos 40, a All-America Football Conference crescia muito e acabava roubando alguns jogadores da NFL. Alguns anos depois, em 1960, uma outra liga começava a despontar nos Estados Unidos, a American Football League.
Isso começou a afetar a NFL, pois ela estava comprometendo a contratação de muitos jogadores. Os times da AFL começaram a esconder grandes atletas que já estavam em sua última temporada na universidade. O intuito era não permitir que eles chegassem ao Draft da NFL. Por esse motivo, a NFL decidiu jogar o Draft para a primavera e ficar a frente do que a AFL estava fazendo.
Gil Brandt, que nesse ano entra para o Hall da Fama da NFL, conta que na época, ele e outros scouts, trabalhavam como “babás” dos atletas das universidades. Essa era a forma de escondê-los dos times da outra liga. Brandt, foi quem avaliou jogadores como Roger Staubach, Bob Lilly e Tony Dorsett para o Dallas Cowboys por três décadas.
O papel da TV
A guerra entre as ligas até durou pouco tempo. Em 1966, a fusão entre AFL e NFL acontece e por consequência, o Draft passa a ser conjunto. Entretanto, mesmo com mais times e gerando uma liga mais robusta, o Draft não chamava muita atenção desses atletas universitários, independente de onde quer que acontecessem. Foi aí que entrou a televisão.
Em 1980, ainda bebê, a ESPN chegou em Pete Rozelle, o então comissário da liga e questionou se poderia televisionar o evento. Ou então, no português mais claro, “mas bá chê, tamo nessas carnes?”. A ideia da ESPN era realizar o Draft no New York Sheraton e transmiti-lo nacionalmente.
A princípio Rozelle não entendeu nada da proposta feita pela ESPN, parecia algo maluco, mas aceitou. Com isso, a ESPN começou a criar uma equipe para a transmissão. Bill Fitts foi o primeiro contratado, com o intuito de ser o produtor desse “reality show” chamado NFL Draft. Enfim, como vocês podem imaginar, ou melhor, como podem ver, não é exagero nenhum dizer que o Draft virou um evento bem lucrativo.
Tanto é que em 2010, o Draft acabou passando para o horário nobre na TV americana. Além disso, surgiram os tão famosos Mock Drafts (já fez o seu?), onde especialistas (ou não), especulam as escolhas de cada time. Baseando-se em necessidades das franquias ou em qualquer outra ideia maluca.
Mais uma vez a TV popularizava a NFL. Ao passar dos anos, os “hóspedes” do Draft foram mudando. O Radio City Music Hall, em New York, teve o privilégio de sediar o evento por nove anos seguidos. Só que em 2014, acabaram por programar um evento que conflitava com o Draft e a NFL precisou mudar a data do evento.
O início de um Road Show
Com isso, em 2015 a liga decidiu por trocar os locais do evento, numa forma de Road Show. Primeiro foi Chicago, onde teve um sucesso absurdo e logo depois voltou ao seu local de origem, a Philadelphia. Inclusive, o sucesso também foi absoluto. Ao longo dos três dias do recrutamento, 250.000 pessoas compareceram ao Museu de Artes da Philadelphia, aquele do Rocky Balboa.
No ano passado a festa (do Draft) aconteceu pela primeira vez num estádio. Lá em Dallas, no palácio de Jerry Jones, o AT&T Stadium. Nesse ano os torcedores acompanharão o recrutamento de suas novas estrelas, lá em Nashville, também conhecida como a cidade da música.
Já para o ano que vem, para aqueles que adoram uma bagunça durante a offseason, será perfeito. O Draft será realizado em Las Vegas. A fabulosa cidade de Las Vegas, no estado de Nevada, onde tudo pode e tudo acontece. Só espero que os garotos não se apeguem aquela frase, “o que acontece em Vegas, fica em Vegas”, afinal, a NFL não costuma perdoar badalação (apenas agressão… complicado).
Bert Bell talvez não soubesse, mas gerou muito mais que um equilíbrio na liga. Resta saber o que ele diria se visse tudo isso hoje, e claro, também resta saber quem desse Draft será o próximo astro da liga. Kyler Murray? Dwayne Haskins? Nick Bosa? D.K. Metcalf? Ou será algum esquecido lá para a sexta rodada, na escolha 199, por exemplo, não é mesmo Brady Boy?
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