Este texto sobre Frank Grant faz parte da série “Hall da Fama” em que contamos a história de alguns de seus membros. Toda terça-feira uma estrela será apresentada.
Ulysses Franklin Grant nasceu Pittsfield (Massachusetts), no dia 1º de agosto de 1865. Estrela do baseball do século XIX e da International League, Grant viu seu brilho reduzido quando as restrições raciais foram impostas ao esporte e os jogadores negros foram banidos, em 1887.
Mas se uma porta se fechava outra fora aberta. Frank Grant se tornou um dos pioneiros das Negro Leagues. A segregação racial no baseball só teria fim em 1947, quando o Brooklyn Dodgers assinou e lançou Jackie Robinson na MLB. Frank Grant é considerado o maior jogador negro do século XIX e sua carreira se estendeu de 1886, quando ele estreia pelo Buffalo Bisons, até 1903, jogando pelo Philadelphia Giants. Entre os Bisons e os PhiladelphiaGiants Frank Grant ainda jogou pelo Cuban Giants (1889, 1891-1897 e 1899); New York Big Gohams (1891); Page Fence Giants (1891); e o Cuban X-Giants (1899).
Carreira profissional
Os primeiro passos de Frank Grant no baseball aconteceram em times semiprofissionais da sua cidade natal e no estado de Nova York. Mas em 1886, aos 20 anos, Grant inicia sua carreira profissional atuando pelo Buffalo Bisons, então um time do baseball onde negros e brancos jogavam juntos. Foi justamente em julho de 1887 que o diretores da International League, por 6 votos a 4, decidiram pelo banimento dos jogadores negros.
No entanto, ainda integrado, o baseball assiste Frank Grant como o líder de rebatidas por Buffalo nas temporadas de 1886-1887. Na última temporada antes da imposição das barreiras raciais no esporte, Grant liderou a International League em home runs (11) e roubos de bases (40). Embora fosse um homem de estatura baixa – menos de 1,70m – Frank combinava consistência (.300) e força no bastão, velocidade para percorrer as bases e habilidade nas ações defensivas. Além disso, Frank Grant era extremamente popular e querido pelos fãs dos Bisons, sobretudo no período segregado. Não era incomum que os torcedores organizassem caravanas para acompanhar o time e seu jogador preferido.
A impressionante qualidade de Frank como jogador de segunda base rendeu comparações com Fred Dunlap, estrela da posição na MLB. E tamanha habilidade também instigava a violência nos oponentes. Grant era obrigado a improvisar caneleiras de madeira para protegê-lo dos carrinhos maldosos dos jogadores adversários. Muitas vezes ele precisou ser movido para o outfield. Não raro, também, eram as tentativas dos arremessadores de o acertarem na caixa de rebatedores.
A alternativa Cuban Giants
A temporada de 1888 vê um crescente sentimento racista entre os times, jogadores e torcedores. Embora os gestores dos Bisons ainda brigassem contra a segregação, muito possivelmente por conta de Frank Grant, os jogadores do time deixavam claro seu desdém pelo companheiro negro. Não restou outra saída para Frank que não se estabelecer no Cuban Giants, primeiro time exclusivamente negro do baseball. O Cuban Giants foi criado em 1885, antes mesmo da segregação, pela fusão de três outros times: Philadelphia Keystone Athletics, o Philadelphia Orions e o WashingtonManhattans.
Tom Bronw, outfielder do Washington Senators na década de 1960, disse em entrevista ao Washington Post, que Grant foi um os maiores jogadores de segunda base jamais visto. Contudo, a ida de Frank para os Giants implicou em um vácuo estatístico, já que o baseball negro era pouco acompanhado pela imprensa da época. O próprio Cuban Giants, nesse tempo, era um time que percorria os EUA fazendo jogos-exibição ou mesmo festivos, ao estilo Harlem Globetrotters, do basquete.
Embora a imprensa branca não desse a devida cobertura aos times negros, foi pelo sucesso de público das partidas do Cuban Giants que o embrião das Negro Leagues fora criado: a National Colored Baseball League. Conquanto as Ligas Negras tenham sido efetivamente criadas em 1920, pelas mãos de Rube Foster, foi ainda no fim do século XIX, com a necessidade de absorver a enorme quantidade de jogadores negros, que a iniciativa de Giants, Gohams, Boston Resolutes e outros times desenhou a estrada do baseball negro.
Uma questão de racismo
O racismo forçou Frank Grant e outros jogadores negros a criarem condições para que continuassem atuando. O racismo também desapareceu com esses jogadores da narrativa do baseball, como se eles fossem um segredo sobre o qual ninguém pudesse falar. Mas é importante ressaltar que Grant e outros tantos que o sucederam foram, também, os pioneiros no processo dessegregação no esporte, já que por conta do sucesso das Negro Leagues e do quão bons eram os jogadores que atuavam lá, foi se tornando insustentável tamanha estupidez.
Foi na pele de Frank Grant, Satchel Paige, Rube Foster, Judy Johnson e tantos mais que os primeiros enormes esforços de integração foram feitos. O peso dessa luta culminou com a chegada em Jackie Robinson na MLB, em 15 de abril de 1947. É preciso se reconhecer que esses foram os primeiros.
Reconhecimento e Hall da Fama
Frank Grant foi um dos grandes jogadores da história do baseball. Mas sua história no esporte talvez conte, acima de tudo, sobre a luta contra o racismo. Grant morreu em 1937, aos 71 anos, e foi enterrado em uma cova sem identificação. O reconhecimento sobre seus feitos foi desenterrado quase 75 anos depois quando da criação do projeto Negro Leagues Baseball Grave Marker.
Grant e tantos outros jogadores negros tiveram sua história, números e feitos reconhecidos. Em 2006 Frank Grant foi indicado ao Hall da Fama do baseball. A MLB, em 2020, reconheceu as Negro Leagues como uma Major. A história deve se perguntar o quanto Grant poderia ter conquistado na MLB se tivesse tido a chance.
Na lápide de Frank Grant hoje se lê,
“Lendário jogador da International League e pioneiro da Negro League”.