Este texto sobre Tommy Lasorda faz parte da série ‘Hall da Fama’ em que contamos a história de alguns de seus membros. Toda terça-feira uma estrela será apresentada.
É difícil conversar sobre baseball e nessa conversa não ser citado o nome de Tommy Lasorda. Futebolizando, Lasorda foi genial como Telê, folclórico como Joel Santana e longevo como Sir Alex Ferguson. Uma das figuras icônicas do esporte, a imagem de Thomas Charles Lasorda está intrinsecamente ligada à do Brooklyn/Los Angeles Dodgers.
Embora tenha sido um arremessador não mais do que medíocre, sua carreira como manager apaga quaisquer deslizes que Lasorda tenha cometido sobre o montinho. Nesse papel ele esteve junto ao Los Angeles Dodgers de 1976 a 1996. Mas antes, de 1973 a 1976, Tommy foi técnico de terceira-base da Blue Crew. No posto de gestor do time de Los Angeles, Lasorda foi duas vezes campeão da World Series (1981 e 1988) e outras duas vezes eleito o NL Manager of the Year (1983 e 1988).
Contudo, nem só de glórias e boas histórias foi construída a carreira e a imagem de Tommy Lasorda. Ele também esteve envolvido em assuntos espinhosos envolvendo a sexualidade de seu filho e a de um jogador que ele treinou nos Dodgers, além de ter se metido numa hilária briga com o também famoso e excêntrico mascote do Philadelphia Phillies, o Phillie Phanatic.
Um jogador nada promissor
Ao se graduar no Ensino Médio, em 1944, na Norristown High School, Tommy Lasorda assinou um contrato como não-draftado com o Philadelphia Phillies. Em 1945 tinha início a carreira de um jogador nada promissor. Desse ano até 1948 ele caminhou pelos times de minors da franquia da Pensilvânia. Na sua última temporada (1948) antes de se transferir para o Brooklyn Dodgers, Tommy fez, talvez, o melhor jogo de sua tímida carreira de arremessador. Jogando pelo Schenectady Blue Jays contra o Amsterdam Rugmakers Lasorda arremessou por 15 entradas eliminando 25 adversários por strikeout. Além disso, ele foi responsável pela rebatida simples que impulsionou a corrida da vitória.
Em 1949 Tommy Lasorda foi selecionado pelos Dodgers e passou pelo sistema de formação do Brooklyn, de 1950 a 1954, atuando pelo Greenville Spinners e o Montreal Royals. E foi na temporada de 1954 que ele debutou na MLB. Mas foi uma estreia para se esquecer. Jogando contra o St. Louis Cardinals de Wally Moon, Lasorda lançou três wild pitches consecutivos. Após ceder uma corrida em um deles, Lasorda foi retirado imediatamente do jogo.
Sua breve carreira como arremessador terminaria no Kansas City Athletics (atual Oakland A’s), em 1956, aos 28 anos, com números nada invejáveis: ERA 6.48; 58.1IP; 31ER; e 45BB. Além disso foram quatro derrotas e absolutamente nenhuma vitória. A MLB não lamentaria perder o pitcher Tommy Lasorda, já que o manager em que ele se transformaria deixaria as sombras do arremessador de vez enterradas.
O sucesso como manager
Em 1960, Al Campanis, diretor dos olheiros dos Dodgers, contratou Lasorda como scout, posição que ele ocupou até se tornar manager de equipes das minors do time de Los Angeles. Entre 1966 e 1972 ele passou por todos os níveis: Pocatello Chiefs (1966), da Rookie League; Ogden Dodgers (1966-1968), single A; Spokane Indians (1969), da Pacific Coast League (PCL); e Albuquerque Dukes (1972), AAA. Com os Dukes Lasorda seria campeão da PCL.
Uma curiosidade envolvendo Lasorda em sua passagem pelo Ogden foi a estratégia usada por ele para motivar seus comandados. A fim de inspirar confiança dos jovens, Tommy pediu que cada um deles escrevesse uma carta para os jogadores dos Dodgers, na MLB, dizendo que em breve seriam eles a ocuparem aquela posição.
Mas seu sucesso como manager não se restringiu apenas ao baseball dos EUA. Em 1973, Tommy Lasorda teve uma experiência muito bem-sucedida na Liga de Inverno da República Dominicana, quando ele treinou o Tigres del Licey, time com o qual Lasorda foi campeão da Caribbean World Series, em 1973, disputada na Venezuela.
Seu retorno para os Estados Unidos aconteceu em 1973, para se juntar novamente aos Dodgers, que tinha Walter Alston como manager. Como técnico de terceira-base Tommy Lasorda ficou por quatro temporadas com Los Angeles, de 1973 a 1976. Embora tivesse recebido vários convites para se tornar manager de outros times da MLB, Lasorda recusou-os todos, já que ele se acreditava o sucessor natural de Alston.
E foi o que aconteceu na temporada de 1976, conquanto ainda, por alguns breves momentos, também tivesse Lasorda desempenhado, concomitantemente como manager, a função de técnico de terceira-base.
Manager do LA Dodgers
Walter Alston foi manager dos Dodgers por 23 anos. Depois de sua aposentadoria, Tommy Lasorda assumiu seu lugar, como o próprio Tommy esperava. Ele permaneceria nessa função por 21 temporadas, até 1996.
Em 1977 e 1978, Tommy levou os Dodgers a dois campeonatos consecutivos da National League (NL), se tornando o primeiro manager da NL a conseguir esse feito em suas duas primeiras temporadas. No entanto, o sucesso na Liga Nacional não seria referendado na World Series. Os Dodgers seriam derrotados em ambas pelo New York Yankees.
Entretanto, a história teria um final feliz para Lasorda e para os Dodgers em 1981. De novo contra o New York Yankees! Mas dessa vez o título ficaria em LA depois de uma seca de mais de 15 anos. No entanto, os dois primeiros jogos deram a entender que o rumo da decisão seria o mesmo do das temporadas 1977 e 1978. Os Yankees abriram 2-0 na série. Mas quando a disputa se mudou para Los Angeles as coisas também mudaram.
Contando com grandes atuações no montinho de Steve Howe e do jovem Fernando Valenzuela, além de Ron Cey (um dos MVP da Word Series) no bastão, os Dodgers venceram os quatro jogos seguintes e fecharam a série por 4-2.
Uma outra consagração de World Series aconteceria em 1988, na decisão contra o Oakland A’s, franco favorito. Mas um home run mágico de Kirk Gibson no jogo 1 da série e um Orel Hershiser, eleito MVP da WS, impecável no montinho deram a energia que os Dodgers precisavam para serem campeões novamente.
Depois de se aposentar em 1996, Lasorda continuou trabalhando no baseball. Em 2000, ele foi o manager da seleção olímpica de baseball dos EUA e conduziu o time até a medalha de ouro nos Jogos de Sydney.
Lasorda Jr. e Glenn Burke
Uma das passagens espinhosas da vida de Tommy Lasorda está ligada a seu filho, Tommy Lasorda Jr. (apelidado de Spunky), e a Glenn Burke, jogador que Lasorda treinou nos Dodgers.
Lasorda Jr. e Burke se tornaram amigos quando Glenn jogava pelos Dodgers. Ambos eram gays. E enquanto Glenn jogava por LA, Tommy Lasorda não gostava dele justamente por conta de sua sexualidade. Logo Spunky e Burke começaram uma amizade. Mas nunca se confirmou se eles chegaram a ter um relacionamento.
No entanto, o que se sabia era que Tommy Lasorda nunca admitiu a verdade sobre a sexualidade de seu filho. Spunky morreu em 1991, aos 33 anos, de causas atribuídas à pneumonia; e Burke em 1995, aos 41 anos, por conta da AIDS.
Embora Tommy Lasorda tenha sido uma das figuras do baseball mais envolvidas com a questão racial, do apoio aos jogadores negros, ele também manteve um silêncio ruidoso sobre a questão da homossexualidade de seu filho e, de certa forma, contribuiu para que isso ainda seja um tabu no esporte.
John Casey, editor da revista The Advocate, escreveu sobre a relação entre Lasorda pai e filho e Glenn Burke,
“Tommy Lasorda era mais do que um manager de baseball. Ele era uma das maiores celebridades de Los Angeles, dos anos 1970 até 1990 e, sem dúvida, vinha de uma geração e de uma profissão em que pensar que ser gay era fraqueza e morrer de AIDS era vergonhoso. Talvez a lição que podemos aprender com Tommy Lasorda é que os dias de negação e sombras sobre quem você é parecem quase antiquados e, esperançosamente, estão caminhando para a extinção”.
Hall da Fama
A camisa #2 que Tommy Lasorda usou quando treinava o Los Angeles Dodgers está retirada. Ele se aposentou em 1996 e um anos depois foi eleito para o Hall da Fama do Baseball.
Genial, longevo, folclórico e polêmico, Tommy Lasorda é um figura identitária do esporte ao qual esteve ligado por toda sua vida. Sobre essa profunda ligação ele mesmo melhor a definiu,
“As pessoas perguntam se eu não ficou exausto com o baseball? Como você pode se cansar fazendo aquilo que ama”?
Tommy Lasorda morreu em 07 de janeiro de 2021. Mas sua aura ainda paira sobre o Dodger Stadium.