Esse texto sobre Josh Gibson faz parte de uma série em que estamos contando a história das Negro Leagues, que neste ano completam 100 anos. Para conhecer um pouco mais sobre elas, acesse aqui.
Josh Gibson é mais uma das estrelas da Negro League que não chegou à MLB. E aí, o caro leitor pode estar se perguntando: por que a “História da MLB” está sendo contada por jogadores que não atuaram na MLB? É justamente porque acreditamos que a história também pode ser contada por aquilo que uma pessoa ou instituição não fez, mesmo que pudesse ter feito.
Essa é a história contada a partir de uma abordagem negativa, ou seja, aquilo que não foi feito. E esse “não-fazer” da MLB conta de seus tempos manchados pela segregação e o racismo. A porta fechada para as estrelas das Negro Leagues deixa evidente o período em que a MLB escolheu ser parte da estrutura racista dos EUA.
A Lenda
Josh Gibson é daqueles ídolos cuja história da lenda parece ser maior do que a do jogador. Mas não! Desde sua “improvisada” estreia como profissional até sua indicação ao Hall da Fama, Gibson foi glorioso. Ele está entre os maiores rebatedores do Baseball.
No imaginário das Negro Leagues apenas Satchel Paige é mais icônico do que Gibson. Entretanto, quando se fala de rebatedor de força é nele que se estabelecem os padrões. Havia uma aura de entusiasmo em torno de Josh. Sua presença no batter’s box eletrificava a torcida. Com uma postura meio-agachada, pés alinhados e pernas abertas ele gerava tanta força no swing que fazia dos home runs um padrão em suas atuações.
No entanto, não é exagero daqueles que diziam ser Josh Gibson o “Babe Ruth negro”. A figura mítica de Josh magnetizava a idolatria de jovens negros que o assistiam nas arquibancadas dos ballparks. Alguns torcedores se posicionavam em cantos remotos do estádio e pediam a Gibson um home run naquele ponto.
Exímio catcher
Mas todo reconhecimento aos seus feitos não se resume apenas à força das rebatidas. Josh Gibson era um catcher com um braço ágil e poderoso. Essas qualidades obrigavam os adversários a pensarem duas vezes antes de arriscarem um roubo de base. Porém, como é comum a todo herói, o calcanhar-de-Aquiles de Josh eram os pop ups atrás do home plate. Com 1,86m e pesando quase 100 kg não era tão fácil sair do agachamento para buscar a bolinha. No entanto, apesar desse corpanzil, Josh se movimentava e corria bem as bases.
Josh Gibson foi um “cigano” do baseball. Jogou, além das Negro Leagues, no México, Cuba e Porto Rico. Seus números, em todas essas ligas, nunca foram menos do que espetaculares. Mas sua história nas Ligas Negras foi encerrada com uma média de .354; em duas temporadas no México ele registrou .373; em outras duas em Cuba ele marcou .353; nos jogos-exibição contra muitos jogadores da MLB a marca é de .413; e em Porto Rico, onde ele foi escolhido MVP da liga, ele registrou bárbaros 47,9% de média.
Geórgia e profissional por acidente
Josh Gibson é mais uma das estrelas do baseball nascido no “cinturão da segregação” dos EUA. Foi em 21 de dezembro de 1911, na cidade de Buena Vista (Georgia), que Joshua Gibson veio ao mundo. Mas as “estradas que levam à Geórgia” o trouxeram para Pittsburgh, em 1923, quando seu pai decidiu abandonar uma fazenda com recursos escassos e tentar a vida na Pensilvânia.
A vida na escola foi curta e já aos 16 anos Josh foi introduzido ao baseball organizado. Em 1927 ele se juntou aos Gimbels A.C. Mas o salto para o semiprofissionalismo veio em 1929, quando o Crawfords Colored Giants o convenceu a trocar de casa.
Josh Gibson se tornou um jogador profissional em julho de 1930. Mas a maneira como isso se deu reforça a lenda em torno dele. O catcher do Homestead Grays, Buck Ewing, acabou sofrendo uma contusão na mão. Josh estava vendo a partida nas arquibancadas. Contudo, sua fama já era conhecida. Sabendo de sua presença o general manager do time o convidou para substituir Buck Ewing.
A fama de rebatedor de home runs astronômicos fez tremer o pitcher adversário, Sam Jethroe, do Cleveland Buckeyes. Depois da partida Sam disse:
“Se me dissessem que Josh rebatia a bola a uma milha de distância eu teria acreditado”.
O home run
Os feitos lendários de Josh Gibson fizeram com que muitos especialistas o considerassem o maior rebatedor do baseball; sem ser menos brilhante atrás do home plate. Mas foi rebatendo que Gibson construiu sua carreira e tivesse o segundo maior salário das Negro Leagues, atrás apenas de Satchel Paige.
A mitologia em torno de Joshua conta a história de um home run que saiu do antigo Yankee Stadium. Mas a Sporting News, revista criada em 1886, e considerada a “Bíblia do Baseball”, reportou que a rebatida atingiu 580 pés (quase 177m) ficando a meros 80cm de ultrapassar os limites do estádio.
Morte e Hall da Fama
Josh Gibson não chegou à MLB. Já falamos isso. Sua morte aconteceu pouco antes da quebra das barreiras raciais na MLB, quando Jackie Robinson assinou com o Brooklyn Dodgers, em abril de 1947.
Gibson foi diagnosticado, em 1943, com um tumor no cérebro e passou um tempo em coma. Depois de recobrar a consciência ele recusou a se submeter a uma cirurgia e passou os quatro anos seguintes convivendo com fortes dores de cabeça. Em 20 de janeiro de 1947, depois de um tempo internado no Gallinger Hospital, Josh partiu.
Joshua “Josh” Gibson foi indicado postumamente ao Hall da Fama, em 1972. Na sua placa pode-se ler: “Quase 800 home runs”. Gibson foi o segundo jogador oriundo das Negro Leagues a ser imortalizado. Satchel Paige, sempre ele, foi o primeiro. Dentre as várias homenagens recebidas, em 2017 estreou em Pittsburgh uma ópera, The Summer King, sobre a vida de Josh Gibson.
Uma carreira de 16 anos de puro brilho: Joshua “Josh” Gibson.