Fernando Valenzuela para sempre

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A natureza estoica e a calma provavelmente o tornaram um rookie incomparável, um dos melhores arremessadores de sua época e um dos maiores da história do Dodgers. No sábado, dia 4 de fevereiro, Fernando Valenzuela permaneceu fiel a si mesmo. Valenzuela estava no Dodger Stadium para um anúncio especial e aguardado por muitos.

Fernando foi trazido ao campo e para o montinho onde ele estabeleceu uma mania. Então, o presidente e CEO do Dodgers, Stan Kasten, informou ao lendário El Toro que ele receberia uma das honras mais importantes que o time pode conceder. Seu número #34, após décadas de clamor de seus fãs, será aposentado em 2023 pelo Los Angeles Dodgers.

Mas Valenzuela “sentiu o golpe” quando foi informado. O reservado ex-arremessador, atual comentarista do Dodgers em espanhol, e eterno ícone de uma legião de fãs, sorriu abertamente.

UM ROOKIE SEM EMOÇOES

Mais de 40 anos depois de sua estreia na MLB, as coisas não mudaram. Em um artigo, o Washington Post referiu-se ao rookie de 21 anos como sendo dono de uma tranquilidade que transparecia numa feição que pouco, ou nada, demonstrava emoções. Mas se as emoções não escapavam do rosto de Valenzuela, seu braço incrível arrancava suspiros dos fãs que presenciavam seus arremessos. Uma mecânica única em uma figura que parecia ter saído de um desenho animado. Baixinho, gordinho, atarracado. Se você cruzasse com Fernando vestido a paisana, nunca diria que ele era um jogador de baseball.

Imagem em preto e branco de Fernando Valenzuela. O rookie.
O rookie.
Fonte: history.com

Mestre da screwball, Fernando Valenzuela teve uma jornada impressionante pelo Dodgers – o único arremessador a ganhar o prêmio Cy Young e o de Rookie of the Year na mesma temporada (em 1981), uma World Series no mesmo ano. Além disso, foram seis seleções para o All-Star Game. Mas a história de Valenzuela não para por aí. Ele esteve por quatro vezes entre os cinco primeiros do Cy Young, venceu dois Silver Slugger e um Gold Glove. Tudo isso entre 1981 e 1986.

Murais com Fernando Valenzuela como personagem principal adornam as paredes próximas ao Dodger Stadium. Sua mecânica incomum representada nos desenhos: olhos para o céu, a feição impávida, a soltura suave e o strikeout!

FERNANDOMANIA

Um lance do destino fez nascer a Fernandomania. Em 1981, Valenzuela venceu as oito primeiras partidas, registrando um ERA de 0.50 com cinco shutouts. O primeiro passo da jornada é, em si, uma lenda. Fernando Valenzuela substituiu as opções um e dois – Burt Hooton e Jerry Reuss se machucaram no Opening Day – abrindo a porta para o jovem canhoto vencer o então campeão da National League West, Houston Astros, por 2 a 0 no Dodger Stadium.

Imagem de Fernando Valenzuela no montinho em processo de arremessar.
Uma mania.
Fonte: LA Times

Com isso, o arremessador de 20 anos de Etchohuaquila, Sonora, México, tornou-se uma atração nacional. E mais tarde ele se transformou numa figura mítica: um herói para os torcedores mexicanos e latinos que foram ao estádio em grande número para apoiar e torcer por Fernando.

Valenzuela começou no monte em cinco dos 11 jogos com maior público no Dodger Stadium em 1981 – quatro desses jogos foram durante a semana.

Após as oito vitórias iniciais, Valenzuela fez oito partidas na temporada regular como visitante no resto do caminho em 1981, de 23 de maio em Cincinnati a 27 de setembro em Houston. Os estádios dos adversários tiveram um aumento de 104% no público em relação à média da temporada regular em jogos iniciados por Valenzuela nessas oito partidas.

UM NO-HITTER

De 1987 a 1990, Valenzuela não foi o jogador de elite que foi visto nas seis temporadas anteriores. Mas com uma apresentação ele consolidou sua lenda. Logo após o jogo em que empata o recorde de sua carreira ao permitir oito corridas merecidas, Valenzuela teve um no-hitter contra o St. Louis Cardinals, em 29 de junho de 1990, no Dodger Stadium.

A noite começou com Dave Stewart, do Oakland A’s, lançando um no-hitter contra os Blue Jays. O jogo estava passando na TV do vestiário do Dodgers. Talvez inspirado pelo que tinha visto, Valenzuela disse aos companheiros de equipe que eles se preparassem para ver outro naquela noite.

Mas, curiosamente, ninguém sabia se ele estava sendo jocoso ou sério. Entretanto, o fato é que El Toro cumpriu o que havia prometido aos companheiros de time. Os Dodges venceram por 6 a 0. Fernando Valenzuela fez 119 arremessos, cedeu três walks e registrou sete strikeouts. Fernando não foi tocado. Estava feito seu único no-hitter na carreira.

Aquela temporada de 1990 foi sua última com o uniforme Dodger.

Fernando Valenzuela está entre os líderes de todos os tempos do Dodgers em vitórias (141, 6º), eliminações (1.759, 5º), entradas (2348 2/3, 4º), partidas (320, 4º), jogos completos (107, 4º) e shutouts (29, 5º).

UMA PERGUNTA RESPONDIDA

Mas, desde 2003, Valenzuela comenta os jogos como membro da equipe de transmissão espanhola do Dodgers. Sobretudo por conta de suas imensas contribuições culturais para a organização, bem como sua excelência como arremessador. No entanto, e desde então, uma pergunta ainda não havia sido respondida: quando vão aposentar seu número #34?

Finalmente a resposta foi dada!

Fernando Valenzuela entende o tamanho da homenagem e o que isso significa para os fãs que o adoram há décadas.

“Fazer parte do grupo que inclui tantas lendas é uma grande honra. Mas também para os fãs – o apoio que eles me deram como jogador e trabalhando para o Dodgers, isso também é para eles. Eu estou feliz. Estou feliz por todos os fãs e todas as pessoas que acompanharam minha carreira. Eles vão ficar muito felizes em saber que meu #34 está aposentado.”

UM PRECEDENTE

A aposentadoria da camisa #34 de Fernando Valenzuela abre um precedente. Ela será a primeira de um jogador ou membro da organização do Dodgers que não faz parte do Hall da Fama do Baseball. O #34 será o 12º número aposentado pelo Dodgers. Os outros são o #1 (Pee Wee Reese), o #2 (Tommy Lasorda), o #4 (Duke Snider), o #14 (Gil Hodges), o #19 (Jim Gilliam), o #20 (Don Sutton), o #24 (Walt Alston), o #32 (Sandy Koufax), o #39 (Roy Campanella), o #42 (Jackie Robinson) e o #53 (Don Drysdale).

Outros nomes surgem como candidatos. O # de Steve Garvey, #10 de Ron Cey ou o #55 de Orel Hersheiser. Mas nenhum desses causa mais comoção do que o #30 do grande Maury Wills.

Wills jogou no Dodgers de 1959-1966, depois passou por Pirates de 1967-1968 e Montreal Expos, em 1969, ano em que retornou ao Dodgers para ficar até o fim da carreira, em 1972. Durante esse tempo, Maury foi três vezes campeão da World Series (1959, 1963 e 1965), por sete vezes esteve no All-Star Game, tendo sido eleito MVP do ASG de 1962 . Além disso, ele foi eleito MVP da temporada 1962 e recebeu dois prêmio de Luva de Ouro.

Por conta de Fernando Valenzuela, muitos outros grandes nomes da história do Dodgers poderão ser reverenciados e honrados com a aposentadoria da camisa.

A FESTA

O Dodgers definiu o fim de semana de 11-13 de agosto, uma série de jogos contra o Colorado Rockies para a festa de celebração da aposentadoria do #34 de Fernando Valenzuela. No dia 11 de agosto acontece a cerimônia de retirada do #34.

Fernando Valenzuela, já nos dias de hoje, acenando aos torcedores do Dodgers.
34 para sempre.
Fonte: LA Times

Já no dia 12 de agosto, os fãs que estiverem no Dodger Stadium receberão um bobblehead de Fernando El Toro Valenzuela. No domingo, 13 de agosto, mais um regalo será concedido aos torcedores: uma réplica do anel da World Series de 1981.

Assim, se por muito tempo os fãs do Dodgers se perguntaram quando veriam a camisa #34 de Fernando Valenzuela aposentada, ele nunca teve dúvidas de que seu número não fosse ser aposentado. Mas Fernando esperou pacientemente por esse dia.

Definitivamente, esse é um momento pelo qual muitos torcedores do Dodgers e fãs de Valenzuela esperaram com ansiedade. Em 11 de agosto, El Toro ocupará seu lugar entre outras lendas do Dodgers.

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