Este texto sobre Babe Ruth faz parte da série “Hall da Fama” em que contamos a história de alguns de seus membros. Toda terça-feira uma estrela será apresentada.
Chagamos à última publicação da série “Hall da Fama”. E o último, mas não menos importante, é Babe Ruth. Indiscutivelmente o maior jogador de todos os tempos. Babe mudou o jogo! Um de seus feitos, arremessar e rebater, somente foi repetido décadas depois de sua passagem pela MLB, quando um japonês incrível, Shohei Ohtani, nos mostrou o quão espetacular e o quão difícil é ser um two-way player!
Por essa série passaram nomes lendários como Carl Yastrzemski e Ted Williams; a velocidade e magnanimidade de Roberto Clemente; o brilhantismo de Roy Campanella; a excelência de Willie Mays; os recordes e a luta de Hank Aaron; a gentileza de Stan Musial; Johnny Bench, da Big Red Machine; e a dominância de Sandy Koufax, dentre outros grandes nomes do baseball.
Embora outros tantos tenham ficado de fora, nossa ideia foi contribuir e estimular o fã dos esportes americanos, em especial do baseball, a conhecer estrelas que possivelmente nenhum de nós teve o prazer de ver jogando. E encerrar a “Hall da Fama” com Babe Ruth é honrar o esporte e suas lendas! Vamos ao “Grande Bambino”!
Babe Ruth
George Herman Babe Ruth nasceu em Baltimore (Maryland), em 6 de fevereiro de 1895. De origem germano-prussiana, Babe frequentou a St. Mary’s Industrial School for Boys, onde teve uma educação voltada para o aprendizado de um ofício e estritamente católica.
Sobre como Babe chegou ao baseball pouco se sabe, ou melhor, as fontes são dúbias. Algumas dizem que Ruth foi para St. Mary’s por conta de sua indisciplina e por conta de vidraças quebradas quando ele jogava baseball nas ruas de Baltimore. Outras, no entanto, se referem ao diretor esportivo de St. Mary’s, irmão Herman, que convidou Babe a integrar o time da escola.
Tendo por base essa segunda fonte, na escola Babe jogou como catcher, terceira base e shortstop, posições incomuns para um canhoto, como Ruth. Embora ele tivesse jogado em todas as posições em St. Mary´s, Babe ganhou destaque enquanto arremessador. Tamanho sucesso permitiu com que Ruth tivesse a liberação da direção escolar para atuar em outros times da comunidade durante os fins de semana.
E foi assim que a fama de Babe Ruth se espalhou. Os jornais da cidade noticiavam suas proezas como arremessador e sua enorme habilidade em rebater home runs. Uma lenda se formava.
Minor league
Em 1914 Babe assinou seu primeiro contrato profissional. Jack Dunn, proprietário e manager do Baltimore Orioles (não há relação com o O’s atual), um time de minor league (International League), já observava há algum tempo os feitos de Ruth.
O primeiro jogo de Babe Ruth aconteceu em 7 de março de 1914, uma partida entre os jogadores do time dos Orioles. Ele atuou como arremessador e shortstop nas duas últimas entradas da partida. Mas foi na sua segunda passagem pelo bastão que Babe deixou sua marca registrada: um home run tido como o mais longo rebatido no estádio de Fayeteville.
No entanto, sua primeira aparição contra um outro time da MLB aconteceu no jogo-exibição entre Orioles e Philadelphia Phillies. Nessa partida Babe atuou por quatro entradas como arremessador cedendo duas corridas. Mas foi no jogo seguinte, também contra os Phillies, que Ruth registrou sua primeira vitória como pitcher. Arremessando a partir do sexto inning ele não cedeu corridas e viu Baltimore anotar sete corridas na parte baixa da oitava entrada e superar um déficit de seis corridas para vencer o jogo.
Novamente, as atuações de Babe Ruth chamaram a atenção de olheiros da MLB. Philadelphia Athletics (atual Oakland A’s), Cincinnati Reds e New York Giants (atual San Francisco Giants) eram alguns dos mais ávidos. Mas Dunn vendeu o contrato de Ruth para o Boston Red Sox, juntamente com o de outros jogadores. Embora já contratado, Babe seguiu mais alguns dias com o Baltimore até que os Red Sox voltassem para casa.
Boston Red Sox
Em 1914, ano de sua chegada no Boston Red Sox, Babe Ruth não foi muito utilizado. Além disso, Babe era pouco notado pelos fãs e noticiado pela imprensa, uma vez que as atenções da cidade estavam voltadas para o Boston Braves (atual Atlanta Braves), que viria a ser campeão da World Series daquele ano. Babe passaria boa parte da temporada de 1914 com o Providence Grays, equipe de minors, onde ele pode desenvolver ainda mais seu jogo.
A temporada de 1915 chegou e Babe se apresentou para o Spring Training, em Hot Springs (Arkansas). Embora não estivesse relacionado como arremessador, a lesão de um dos pitchers dos Red Sox deu a Babe uma oportunidade como reliever. Com boas atuações vindo do bullpen, Bill Carrigan, manager de Boston, deu a Ruth uma chance como starter.
Em 32 jogos na temporada de 1915, 28 iniciados, Babe Ruth registrou em ERA de 2.44, com 18 vitórias e 8 derrotas, em 217.2 entradas e 112 strikeouts. Mas a contribuição de Babe não se deu apenas no montinho. Rebatendo ele teve média de .315, com quatro home runs e 20 corridas impulsionadas. Embora tivesse desempenho sólido arremessando, Babe Ruth não fez parte do roster campeão da World Series daquela temporada.
Babe e o Boston Red Sox repetiriam a jornada vitoriosa em 1916. Como arremessador Ruth foi brilhante: ERA de 1.77, 23-12 em 40 jogos como starter. Além disso, ele registrou nove shutouts. Durante a World Series Babe não atuaria como rebatedor. Mas sua atuação no montinho seria fundamental. Na série vencida sobre o Brooklyn Robins (atual Dodgers) por 4-1, no jogo dois, Babe Ruth foi sobrenatural. Ele arremessou por 14 entradas, jogo completo, permitindo seis rebatidas, uma corrida merecida, três walks e registrando quatro strikeouts.
Insurgência como rebatedor
Embora já desse mostras desde muito cedo de sua capacidade como rebatedor, foi a partir de 1917 que Babe Ruth se tornou um temido slugger. Essa seria a primeira de oito temporadas consecutivas rebatendo para pelo menos .300. Além disso, claro, ele seguiu sendo fundamental no montinho.
No entanto, a magnificente temporada de 1917 não teve os Red Sox como um dos times que disputaram a World Series. Mas em 1918 Boston e Babe estariam de volta. Antes, porém, durante a temporada regular, Ruth registrou, no bastão, média de .300. Além disso, ele liderou a MLB em home runs: 11. Essa temporada, também, foi a primeira em que Babe Ruth atuou no montinho e rebatendo durante a World Series.
Mas se rebatendo Babe não fora tão efetivo – .200 com duas corridas impulsionadas -, novamente no montinho ele foi imprescindível. Saindo com a vitória nos dois jogos que começou, Ruth terminou aquela Série Mundial com ERA de 1.06. Esse seria último título dele com o Boston Red Sox.
Entretanto, sua história com o time não havia terminado. O ano de 1919 foi, ofensivamente, o mais prolífico de Babe Ruth com os Red Sox. Ele liderou toda a MLB em corridas anotadas e impulsionadas (103;113, respectivamente) e em home runs (29). Além disso, Ruth foi o melhor OPS das Majors: 1.114. Mas uma peça de teatro atravessaria seu caminho.
Um dono reticente
Nenhuma time havia vencido tantos títulos com os Red Sox. Depois da conquista na edição inaugural (1903), ainda como Boston Americans, a equipe de Boston viveu uma década de gala, graças a nomes como Cy Young e Babe Ruth a franquia venceu as Séries Mundiais de 1912, 1915, 1916 e 1918.
Mas Harry Frazee, dono do time, se mostrou um tanto reticente com a temporada de 1919 dos Red Sox, quando o time ficou em sexto lugar na American League (AL), a despeito do grande ano de Babe Ruth. Frazee era um homem do teatro, ligado à Broadway. Uma conjunção de fatos levou o proprietário do time a fazer um dos piores negócios da história.
Por conta da I Guerra Mundial as bilheterias do teatro tiveram uma queda vertiginosa. Com isso os lucros também se viram reduzidos. Harry precisava de dinheiro para realizar seu próximo musical na Broadway: No, no, Nanette.
Foi nesse cenário “perfeito” que Babe Ruth foi vendido ao New York Yankees por US$ 100.000,00. Nascia, assim, uma das mais famosas maldições do baseball.
A Maldição do Bambino
O pecado da venda de Babe Ruth, associado à ascensão dos Yankees e ao declínio dos Red Sox, alimentou durante décadas a ideia da Maldição do Bambino.
Os números eram esclarecedores. Até 2004, foram 86 anos, os Red Sox nunca mais foram campeões e passaram por quatro derrotas dramáticas em World Series, sempre no sétimo e decisivo jogo. Ao mesmo tempo, o maior rival, o New York Yankees, foi somando títulos atrás de títulos, chegando na temporada 2004 com 26.
No entanto, a “Maldição” foi quebrada apoteoticamente e de forma histórica. Depois de 84 anos de ter sido anunciada a venda e 86 anos após o último título. Na final da Liga Americana, os Red Sox perdiam por 0-3 contra os Yankees e pareciam, novamente, destinados a ser a parte mais fraca da rivalidade. Mas, pela primeira e única vez na história da MLB, um time se recuperou de um 0-3 para 4-3.
Na semana seguinte, os Red Sox derrotariam os St. Louis Cardinals e conquistariam a primeira World Series pós-Babe Ruth. Enfim, a Maldição do Bambino acabava e os Red Sox partiam para um novo período de glórias, com títulos em 2007, 2013 e 2018. Já os Yankees só conquistariam sua 27ª World Series em 2009, ano da construção do novo Yankee Stadium.
Com os Yankees
De 1920 a 1934 Babe Ruth brilhou com os Yankees. Durante o período com o time do Bronx, Babe finalizou sua transição do montinho para, definitivamente, se tornar um dos maiores rebatedores de todos os tempos.
Embora ainda tenha atuado como arremessador nas temporadas de 1920, 1921, 1930 e 1931, somados esses anos foram apenas cinco jogos no montinho sendo quatro como starter. O que os Yankees queriam de Babe Ruth era vê-lo mandando bolinhas para longe! E foi o que ele fez!
Durante sua jornada com o New York Yankees, Babe Ruth rebateu abaixo dos .300 apenas duas vezes: 1925, .290; e 1934, .288. Longe de serem médias ruins. Mas isso mostra o nível de excelência com que Ruth sempre desempenhou seu papel de slugger.
A American League (AL) veria o Yankee Ruth liderá-la em RBI nas temporadas 1920 (135); 1921 (168); 1923 (130); e 1926 (153). Também com os Yankees Ruth liderou a AL em home runs por 10 temporadas: 1920 (54); 1921 (59); 1923 (41); 1924 (46); 1926 (47); 1927 (60); 1928 (54); 1929 (46); 1930 (49); e 1931 (46).
Entretanto, o brilho de Babe Ruth não tinha impacto apenas individualmente. Os Yankees acumulavam triunfos em World Series. Foram sete aparições em Séries Mundiais e quatro títulos: 1923, 1927, 1928 e 1932. Durante as séries vencidas Babe Ruth rebateu, sempre, acima de .300: .368 (1923); .400 (1927); .625 (1928) e .333 (1932).
Aposentadoria e Hall da Fama
A aposentadoria de Babe Ruth aconteceu em 1935 após uma temporada parcial com o Boston Braves (atual Atlanta Braves). Foram 22 anos de carreira na MLB com 714 home runs. Recorde quebrado por Hank Aaron somente em 1974. Suas estatísticas incluem 2.873 rebatidas, 506 duplas, 2.174 corridas anotadas, 2.214 RBI, uma média de rebatidas de .342, um OBP de .474 e um slugging de .690.
Além disso, outras marcas ofensivas impressionantes incluem a liderança na MLB em slugging por 13 vezes, walks em 11 temporadas e OBP em outras 10 oportunidades. Dentro da organização New York Yankees, Babe Ruth teve seu número #3 retirado. Além disso, ele integra o Monument Park.
Pelos Red Sox ele está no Hall da Fama da franquia. Na MLB, Babe Ruth integra o Time do Século e o Time de Todos-os-Tempos.
A indicação para o Hall da Fama do Baseball veio em 1936, na primeira classe de indicados, quando Babe alcançou 95,13% dos votos. Junto dele estavam Ty Cobb, Walter Johnson, Christy Mathewson e Honus Wagner. Esses eram os expoentes de uma era do baseball.
Babe Ruth morreu em 16 de agosto de 1948, vítima de câncer.
Red Smith, renomado jornalista esportivo, foi categórico ao se referir a Ruth,
“Não é que Babe rebatesse mais home runs do que qualquer outra pessoa; ele os rebatia melhor, mais alto, mais longe, com mais beleza e um floreio mais extravagante”.
Amigas e amigos, o maior de todos, o “Grande Bambino”, “The Sultan of Swat”: Babe Ruth!