Este texto sobre Ozzie Smith faz parte da série “Hall da Fama” em que contamos a história de alguns de seus membros. Toda terça-feira uma estrela será apresentada.
Quando se pergunta sobre excelência defensiva para a posição de shortstop, certamente o nome de Ozzie Smith cruza o pensamento de quem vai responder. Os 13 prêmios de Gold Glove consecutivos falam por si. De 1980 até 1992 a Luva de Ouro teve um único dono na National League entre os shortstops: Osborne Earl Smith.
Nascido em Mobila, Alabama, em 26 de dezembro de 1954, a mesma terra do grande Satchel Paige, Ozzie Smith foi um jovem ávido por esportes. Mas o baseball era o seu favorito. A família de Ozzie se mudou para Los Angeles e lá ele estudou e jogou basquete e baseball pela Locke High School.
Depois de se graduar ele foi para a California Polytechnic State University com uma bolsa parcial de estudos para integrar a equipe de baseball da universidade. Smith não era titular do time. Mas a lesão de um companheiro o colocou na posição de shortstop do time em todos os jogos. E Ozzie não perdeu a chance! Mais tarde ele foi nomeado um All-American Athlete e estabeleceu os recorde de at-bats (754) e de bases roubadas (110) na sua carreia universitária antes de se formar em 1977.
Carreira profissional
Em 1976 Ozzie Smith jogava em um time semiprofissional da cidade de Clarinda (Iowa). Nesse ano ele foi selecionado no draft da MLB pelo Detroit Tigers. No entanto, as partes não chegaram a um acordo sobre os valores do contrato e Ozzie voltou, em 1977, a jogar pelo time da universidade para sua temporada de Senior. Nesse ano Smith foi selecionado na quarta rodada do draft pelo San Diego Padres. Começava, enfim, a carreira profissional do “Mágico de Oz” (The Wizard of Oz).
Mas no início Ozzie Smith foi atuar pelo Walla Walla Padres, equipe de Class A da Northwest League. Entretanto, já no Spring Training de 1978, Smith recebeu um convite para atuar com os Padres. O manager do time, Alvin Dark, segundo o próprio Ozzie, foi o responsável por dar confiança ao jovem shortstop. Embora Dark tenha sido demitido antes do início da temporada regular, o desempenho de Smith foi suficiente para mantê-lo no time. Em 7 de abril de 1978 Ozzie Smith fazia seu debute na Major League Baseball.
E foi logo em seus primeiros jogos que “O Mágico de Oz” mostrou suas feitiçarias defensivas. Durante uma partida dos Padres contra os Braves, em 20 de abril de 1978, Ozzie fez uma das mais espetaculares defesas da história da MLB. Ele mesmo a descreve assim,
“Como eu estava no ar, a bola deu um salto feio e ricocheteou atrás de mim, mas consegui pegá-la com a mão nua. Eu bati no chão, saltei de volta e eliminei [Jeff] Burroughs (OF dos Braves) primeiro”.
Assim foi-se construindo a aura de grande defensor em torno do nome de Ozzie Smith. Na temporada de 1980 veio a primeira Gold Glove. Nessa ano Ozzie estabeleceu o recorde de assistências para um shortstop em uma única temporada: 621. Ainda com os Padres, em 1981, Smith fez sua primeira aparição em um All-Star Game. Mas problemas de relacionamento com os donos da franquia fizeram com que Ozzie Smith fosse trocado.
Mudança para os Cardinals
Uma união de problemas levou Ozzie Smith para o St. Louis Cardinals. Se por um lado Ozzie estava insatisfeito com os proprietários dos Padres, por outro os Cards estavam infelizes com seu shortstop, Garry Templeton. A tempestade perfeita levou a magia de Smith para a franquia do Missouri. De 1982 a 1996 o que se viu em campo por parte de Ozzie Smith tem apenas um nome: brilho!
Nada melhor do que começar uma nova história sendo campeão. A ida de Ozzie para os Cardinals foi o ingrediente que faltava para o sucesso. Uma equipe que tinha jogadores do calibre de Keith Hernandez (1B); Jim Kaat (SP); Willie McGee (OF); Darrell Porter (C); e Bruce Sutter (RP) recebeu a adição fundamental de Ozzie Smith.
Os Cardinals foram os melhores da National League (NL) e varreram (3-0) os Braves na NLCS para jogarem a World Series contra o Milwaukee Brewers, dono não só da melhor campanha da American League (AL), mas de toda a MLB na temporada 1982. Embora ofensivamente Smith não tenha contribuído (5-24; .208), ele terminou aquela Série Mundial sem cometer erros e foi fundamental na virada do jogo 7.
Quando St. Louis estava perdendo por 3-1 com um eliminado durante a sexta entrada do jogo 7, Smith começou a virada com uma rebatida simples. Era assim que os Cardinals começariam a marcar as três corridas da equipe naquele inning. O time ainda anotaria mais duas corridas na 8ª entrada para decretar a vitória por 6–3 e o título da World Series daquele ano.
Excelência defensiva
Ozzie Smith seguiu sendo espetacular. De 1985 a 1993 ele acumulou 322 bases roubadas (35.7/temporada), uma média de rebatidas de .280 e um WAR defensivo de 24.3. Ao longo de sua carreira, Smith contribuiu em 1.590 double plays. Ozzie era a mais pura excelência defensiva. Em 1985, ele foi MVP da NLCS vencida contra o Los Angeles Dodgers. Mas Smith e os Cardinals sucumbiriam ao Kansas City Royals na World Series (4-3).
Enquanto isso, as Luvas de Ouro se acumulavam. Mas não apenas as Gold Glove. A temporada de 1987 premiou Ozzie Smith com seu único Silver Slugger. Nessa temporada ele registrou sua melhor média de rebatidas (.303); o maior número de corridas impulsionadas (75) e anotadas (104) de sua carreira. Na corrida para o prêmio de MVP da NL Ozzie Smith ficou em segundo lugar.
A World Series veria os Cards e o “Mágico de Oz” novamente em 1987. A vitória por 4-3 na NLCS contra o San Francisco Giants colocou St. Louis diante dos Twins para a Série Mundial. Outra série de sete jogos em que o mando de campo foi preponderante. Os Cardinals venceram os três no Busch Stadium II. Enquanto Minnesota venceu todos as quatro partidas Hubert H. Humphrey Metrodome. Essa seria a última aparição de Ozzie Smith em uma World Series.
Os anos 1990
Joe Torre se tornou o manager dos Cardinals no início dos anos 1990. Mas nesse tempo, durante as cinco temporadas de Torre à frente dos Cards o time não conseguiu chegar à pós-temporada. Embora o sucesso coletivo não fosse uma realidade, individualmente Smith seguia brilhando. Não à toa ele foi personagem de um episódio de “Os Simpsons” (Homer at the bat), em 1992.
Nesse mesmo ano, Ozzie celebrou sua última Luva de Ouro, das 13 consecutivas. No entanto, a primeira metade da década de 1990 veria uma greve (1994) e um Ozzie Smith perdendo três meses da temporada de 1995 por conta de uma cirurgia no ombro. Parecia que o ocaso da brilhante carreira do “Mágico do Oz” chegava.
Em 1996 Tony La Russa assumiu o comando do St. Louis Cardinals e o relacionamento com Ozzie não foi o melhor. Durante o Spring Training daquela temporada La Russa disse que Smith e Royce Clayton, recém-contratado, brigariam pela titularidade na posição de shortstop.
Pois bem, Ozzie Smith rebateu para .288 sem erros defensivos. Enquanto isso, Clayton teve míseros .190 e oito erros nos jogos-treino. Quem La Russa escolheu como titular para aquela temporada? Royce Clayton! Embora estivesse em seus 41 anos, Ozzie Smith ainda era Ozzie Smith.
Aposentadoria e Hall da Fama
La Russa resolveu utilizar um sistema de “espelhamento” com Clayton e Smith. A escolha do manager dos Cardinals no Spring Training e o revezamento fez com que a relação com Ozzie se destruísse e entre os dois foi criada uma barreira. O que depois acabou se tornando uma convivência viciosa a ponto de Ozzie Smith declarar que La Russa era “covarde mentiroso”.
Ainda assim, Smith terminou a temporada de 1996 com média de .282, em 82 jogos. Ele foi chamado para o seu último All-Star Game (foram 15 em toda sua carreira). Ao fim daquele ano Ozzie Smith declarou sua aposentadoria. As honras à sua brilhante carreira vieram com a retirada de seu #1 nos Cardinals. Ainda como jogador, Ozzie recebeu o Roberto Clemente Award.
Smith integra o St. Louis Cardinals Hall of Fame e, claro, em 2002 ele foi indicado para o Hall da Fama do Baseball, em Cooperstown.
O próprio Ozzie Smith sintetizou o que ele era em campo,
“Eu me considero um artista no campo. A cada jogo procurava uma chance de fazer algo que os fãs nunca viram antes”.
Senhoras e senhores, o “Mágico de Oz”!