Esse texto foi originalmente publicado no MLB da Massa (por mim), essa é uma versão dele.
Abril chegou e já trouxe uma novidade; o Baltimore Orioles fechou o mês de março empatado na liderança da divisão leste da Liga Americana. “Milagres” da pandemia do Covid-19. Brincadeiras a parte, abril chegou para nos deixar mais triste mesmo. Afinal, nessa época do ano, eu só consigo me ver chegando do trabalho, abrindo uma latinha de cerveja e sentando na frente da TV para curtir três horas, ou mais, de Baseball.
Quem é que não sente falta de ligar na ESPN e ver dois loucos gritando? Um dizendo “e ela disse adeus, adeus” e outro dando latidos frenéticos. Dias tristes, mas totalmente aceitáveis, se assim salvarmos vidas, o Baseball, nesse caso, vira só um detalhe. Bom, justamente por essa saudade que bate em nossos peitos, na semana passada fizemos um podcast comentando histórias de Baseball.
Desse podcast surgiu um comentário e esse comentário nos levou para a primeira parte de um série de dois textos que escrevi para o site do MLB da Massa. Entretanto o site está com problemas técnicos já tem algum tempo e ainda não sabemos quando voltará ao ar. Sendo assim, achei interessante trazer esse assunto nesse período de quarentena. Na última semana apresentei uns recordes um tanto quanto malucos, inquebráveis, no lado ofensivo do jogo.
Agora, se eu te falar, que do lado defensivo temos outros bem mais engraçadinhos, tão inquebráveis quanto, será que vocês acreditariam? Espero que não, pois aí vocês leem a coluna até o final para verem que realmente estou falando a verdade!
O prêmio Cy Young
Na semana passada, coloquei dois recordes como realmente impossíveis de acontecer. Mas pensando melhor, perto desses aqui, talvez eles até pareçam possíveis. O primeiro senhor inquebrável de hoje é nada mais, nada menos que Cy Young, o cara que dá nome ao prêmio de melhor arremessador do ano. Detentor de três recordes considerados inquebráveis, ele é um dos grandes nomes na história do baseball.
Tudo bem que em sua época, o baseball era bem diferente, mas isso não pode tirar os seus méritos, muito menos sua qualidade técnica. Os recordes de maior número de vitórias (511), maior quantidade de jogos completos (749) e maior número de entradas (7356); que pertencem a ele, hoje parecem surreais. Antigamente, os pitchers arremessavam algo em torno de 45 a 55 jogos por ano e Cy Young fez isso por 22 temporadas.
Volto a repetir, as quantidades são diferentes e proporcionam estatísticas muito mais favoráveis aos recordes, mas sua qualidade técnica foi inquestionável. Afinal, naquela época, outros jogaram a mesma quantidade e não chegaram nem próximo. Greg Maddux foi o jogador que, recentemente (aposentadoria em 2008) conseguiu se aproximar de Cy Young em quantidade de vitórias. Durante 23 temporadas na MLB, ele acumulou 355 vitórias.
Alguém quebra Cy Young?
Podemos dizer que isso já é um grande feito, visto que a quantidade de jogos dos arremessadores é metade da que Cy Young jogava. Agora, falando de quem ainda está em atividade, a história fica mais complicada. No ano passado, quando esse texto foi pro ar, ainda tínhamos CC Sabathia nessa lista, com 249 vitórias.
No entanto o jogador se aposentou com 251 vitórias e depois apenas Bartolo como “o mais próximo” do recorde. A barriguinha mais sexy da MLB, está com 247 vitórias e mesmo declarando que ainda não está pronto para uma aposentadoria, com quase 47 anos, está longe de continuar na liga em busca desse recorde de vitórias, ou qualquer outro de Cy Young.
Maior número de saves – 652
Bem, se o clube dos 300 saves já é muito seleto e possui apenas dois jogadores em atividade, imagina conseguir mais que o dobro disso? O recorde já pertenceu a bela cidade de San Diego, pelos braços de Trevor Hoffman, mas durou apenas um ano. Mariano Rivera, foi o segundo jogador a entrar no, mais seleto ainda, clube dos 600 saves e após isso, tratou de buscar o recorde.
Particularmente, acredito que dentre todos os inquebráveis dessa lista, esse possa ser quebrado um dia. Entretanto posso estar falando besteira e posso até magoar os torcedores mais fervorosos dos Yankees. Porém gostaria de deixar bem claro, que embora esse recorde seja quebrado um dia, dificilmente algum outro closer chegará aos pés de “Sandman” (como era chamado Mariano Rivera).
Ok, eu sei, é muito difícil criar comparações com jogadores do passado ou jogadores que virão. Mas Rivera tinha um cutter lindo, venenoso e não existirá na história do Baseball, um closer como ele PONTO. Já comentamos no podcast em homenagem ao Kobe Bryant, que poucos atletas quebram essa barreira do clubismo; Mariano Rivera foi um desses. Foram 19 anos na liga, entristecendo muitos rivais, com uma média de 34 saves por temporada.
Menor ERA na carreira – 1.82
“1.82? Você não digitou isso errado não?”. Não, podem ficar surpresos mesmo. Esse ERA aí não é de um jogo só não. Muito menos de uma determinada temporada, foram por 14 anos de liga! Ed Walsh jogou praticamente sua carreira inteira no Chicago White Sox, ganhou apenas uma World Series e apesar desse grande feito (o recorde), apenas em dois anos teve o melhor ERA da liga americana.
Agora vamos lá, tentarei falar isso de forma rápida, pois o coração não permite. Se você assiste Clayton Kershaw (dispensa comentários) hoje, considere-se um privilegiado sim. Tido como o melhor arremessador de nossa época, ele é o mais próximo que você verá de um ERA tão baixo na carreira. O ace dos Dodgers registra, por enquanto, um ERA de 2.44 e na história fica 36 posições abaixo de Ed Walsh.
Acima de Kershaw, dos tempos modernos do Baseball, só aparece Mariano Rivera, na posição 13 (ERA 2.21). No entanto, como já destacamos acima, Rivera era um closer e só entrava em situações específicas do jogo. Fora Kershaw, ainda temos outro jogador em atividade, que está nessa lista, Jacob deGrom. O pitcher do New York Mets tem 31 anos e está na liga desde 2014.
O rapaz está na posição 60, entre os ERA da história (2.62) e já foi três vezes All-Star (2015, 2018, 2019). Também já conquistou o prêmio Cy Young da Liga Nacional por dois anos consecutivos (2018 e 2019). Hoje, ele também detém um recorde de 30 jogos consecutivos permitindo três ou menos corridas; e está empatado com Jim Deshaies (1986), por strikeouts consecutivos no início de uma partida (8).
Nola Ryan, vários recordes inquebráveis
Quem é o melhor “striker” da liga hoje? Quem você considera o melhor? Jacob deGrom, que acabamos de falar? Justin Verlander? Shane Bieber? Stephen Strasburg? Gerrit Cole? Max Scherzer? Pois bem, saiba que nenhum deles está próximo de ser tão perigoso quanto nosso recordista. Ou então, vamos usar a memória, se você é mais antigo no baseball, manja Randy Johnson e Roger Clemens?
Bem, nem esses caras, tão “violentos” com a zona de strike, chegaram na casa dos 5000. Esse último é um dado que torna, tantos os recordes, quanto o seu recordista, muito especiais. Nolan Ryan é uma lenda. Ele possui vários recordes considerados inquebráveis, incluindo um que não é muito positivo, nada sexy. Entretanto, também demostra toda a sua “violência” para atingir a zona de strike.
Nolan Ryan detém o recorde de maior quantidade de strikeouts na carreira (5714), maior número de temporadas com 100 ou mais strikeouts (24) e também o maior número de temporadas com 200 ou mais strikeouts (15). Todos esses, são considerados inquebráveis. Outros grandes nomes do baseball como Greg Maddux e Roger Clemens encerraram a carreira com respectivamente 21 e 19, temporadas com 100 ou mais strikeouts.
Nolan Ryan e o inquebrável nada sexy
Entretanto, como sempre digo, nem tudo são flores e recordes negativos também existem. Ryan também é dono de um recorde nada nada sexy, mas que ainda sim parece inquebrável. Eu julgaria mais inquebrável ainda, pelo calibre do arremessador. Nolan só não era retirado do jogo pois sua habilidade era inquestionável. Hoje em dia, um arremessador que tenha dificuldades para encontrar a zona de strike, não dura muitas entradas num jogo.
Ou então, mais do que isso, não dura temporadas na MLB. Isso estou dizendo, independente do calibre dele! The Ryan Express, como era conhecido, jogou por 27 anos na liga, encerrando sua carreira com 46 anos. Muitos especialistas duvidam que as lendas citadas acima (Greg Maddux ou Roger Clemens), teriam o mesmo desempenho que Nolan teve aos 40 anos. O site The Athletic, inclusive colocou o jogador na posição 50, do top 100 dos maiores atletas da MLB.
O que é outro feito gigante de Nolan Ryan, foram seus 7 no-hitters. A dificuldade de um no-hitter é tamanha, que ainda existe um time que não tem o feito registrado: o San Diego Padres. Poor Padres, como uma amiga minha disse uma vez. Arremessadores que conseguem o feito, viram históricos. Caso consigam mais de uma vez, viram lendas, heróis. O que dizer de Nolan Ryan então? Um deus do Baseball?
Maior quantidade de shutouts – 110
Apesar de toda a babação feita em Nolan Ryan; e de todos os seus inquebráveis recordes, teve algo que ele não chegou nem perto de conseguir. Walter Johnson jogou por 21 temporadas e acumulou 110 shutouts, enquanto The Ryan Express chegou “apenas” na marca de 61. Ambos tem números gigantescos, ainda mais quando olhamos para os arremessadores que ainda estão em atividade.
Clayton Kershaw é o que acumula mais shutouts, são 15. Aqui podemos voltar a citar o mesmo que falamos para Cy Young, sobre a quantidade de jogos. É fato, que as possibilidades de shutouts para Walter Johnson foram maiores, já que jogou mais jogos. Entretanto, o segundo lugar na lista de maiores “shutouteiros” é contemporâneo de Johnson e ainda ficou devendo alguns shutouts (Grover Cleveland Alexander, com 90).
Maior número de jogos com 15 ou mais strikeouts – 29
E dentre todos os inquebráveis, chegamos a um que orgulha este colunista (“pelo menos no último ano de carreira”). Com média de 221 strikeouts por temporada e uma média de 10.61 strikeouts por nove entradas arremessadas (recorde da MLB), finalmente um cara que jogou pelos Giants. Ok, não ganhou nada com o time, mas ensinou a garotada a ganhar, visto as World Series de 2010, 2012 e 2014 (alô Fernandão! Cadê a World Series dos Dodgers?).
Randy Johnson foi um dos mais dominantes de sua era, junto de Greg Maddux, Pedro Martínez e Roger Clemens. Era dono de uma das bolas rápidas mais temidas, mas mesmo assim, tinha o slider como sua assinatura. Sabe aquele slider do Brad Hand? Se você me acompanha desde os tempos de MLB da Massa, sabe o tanto que já elogiei esse slider. Pois bem, Randy Johnson tinha um mais lindo… e mais perigoso ainda.
Quando estava no montinho, rebatedores canhotos fingiam lesões, só para não ter que enfrentá-lo, é bizarro! Enfim, além de prêmios individuais (All-Star, Cy Young, ERA, MVP), ele também marcou história por ser o jogador mais velho a conseguir um jogo perfeito (40 anos). Esse cara é uma lenda! Pra ficar melhor ainda, ao final da carreira, escolheu como último montinho o do AT&T Park (Oracle Park, nunca será!).
Mais uma série chega ao fim
Bom, é assim que essa série de recordes inquebráveis acaba, em grande estilo, com um cara que jogou pelo San Francisco Giants. Todos esse homens estão eternizados na história do Baseball. Esses são os nosso heróis quando somos garotos, malucos por esportes. Aliás, são nossos heróis mesmo depois de grandinhos, já bem adultos. Acho que posso dizer isso por todos.
Afinal, são eles que (muitas vezes) nos inspiram, nos fazem rir (nas vitórias), mas também nos fazem chorar (nas derrotas). São os caras que nos fazem por algumas horas, algumas semanas, ou talvez até meses; esquecer que existe um mundo lá fora, que bate em nós todo santo dia. Esses são os ídolos que criam as nossas relações com os nosso times e que assim como os recordes, tornam nosso amor pelo jogo inquebrável.
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rolou provocação aqui, hein… então, só pra não deixar barato, vou jogar a bomba e sair correndo!
7 anos do shutout e jogo completo do Kershaw sobre os gigantinhos no Opening Day de 2013, com direito a HR rebatido, o 1° da carreira de Clayton Kershaw, o melhor pitcher da MLB.