Negro Leagues: 100 anos

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A ideia primária desse texto é muito simples. Reverenciar a importância histórica das Negro Leagues. Em 2020 comemoramos os 100 anos de sua fundação. E é preciso, é urgente, que todos os amantes do esporte, em especial do Baseball, tiremos um tempo do nosso dia (todos os dias) para honrar a história desses jogadores que tiveram negados seu brilho e talento na MLB por conta da segregação e do racismo.

Embora tamanha estupidez, esses jogadores fizeram do baseball o fio condutor de suas vidas. Fizeram porque amavam o esporte. E porque tinham talento de sobra para mostrar. Mas mais do que isso. Enquanto o horror da segregação fechava portas, os jogadores das Negro Leagues recusavam-se solenemente em não deixarem suas marcas no esporte e na sociedade.

No momento em que o mundo marcha definitivamente contra o racismo e todas as suas consequências nefastas, homenagear todo o significado das Negro Leagues é também estar ao lado de todos os que lutam por igualdade. Por isso é premente conhecer dos feitos de todas as grandes estrelas que passaram por lá.

O pin criado pelo Negro Leagues Baseball Museum para comemorar o centenário.
Fonte: Negro Leagues Baseball Museum

O início: a era amadora

Foi ainda no século XIX o início do que viriam a ser as Negro Leagues. O Henson Base Ball Club of Jamaica, do Queens, venceu o Unknowns of Weeksville, do Brooklyn, no que é tido como o primeiro jogo entre equipes negras do baseball. A partida aconteceu no distante 15 de novembro de 1865 e teve um placar no mínimo divertido: 54-43 para o Henson.

O período da “Reconstrução” que se seguiu logo após o fim da Guerra Civil (1865) foi o da formação da cena do baseball negro nos EUA. E foi nos estados do leste (alguns Confederados) e do meio-Atlântico (Maryland, West Virginia, Delaware, entre outros) que os primeiros times se formaram.

Pensilvânia, Nova Iorque e Illinois foram alguns dos estados onde se estabeleceram as primeiras equipes. Os times eram compostos significativamente por ex-soldados da Guerra Civil. Jamaica Monitor Club, Albany Bachelors, Philadelphia Excelsiors e Chicago Uniques eram os times mais famosos. A Filadélfia era o grande centro do baseball negro nos fins dos anos 1860. Porém, por conta das dificuldades em conseguir permissão para jogar na cidade muitos times faziam seus jogos em Camden, Nova Jérsei.

No entanto, no fim da temporada de 1867 a Associação Nacional de Jogadores de Baseball excluiu todos os times que tivessem jogadores negros. Entretanto, mesmo depois da segregação, alguns times de negros jogavam não só uns contra os outros, mas contra equipes independentes semiprofissionais integradas por jogadores brancos. Foi, em boa parte, dessas partidas que os times de jogadores negros conseguiram se manter.

A profissionalização

O baseball dos jogadores negros teve sua profissionalização estabelecida nos anos 1870. O primeiro clube conhecido foi criado em 1885. O Cuban Giants (Babylon, NY) foi o resultado da fusão de 3 outros times: Keystone Athletics of Philadelphia, o Orion of Philadelphia e o Manhattans of Washington D.C.

O sucesso imediato dos Giants levou à criação, em 1887, do embrião da Negro League. A organização das equipes era toda como minor. No entanto, após duas semanas de jogos com baixa procura pelo público a liga acabou falindo.

De pé, da esquerda para a direita; Sam Bankhead, T.J. Young, George Giles, Turkey Stearnes, Frank Duncan, Moocha Harris, Carroll Mothel, Cool Papa Bell, Newt Allen, Willie Wells, J.L. Wilkinson. Ajoelhados, da esquerda para a direita; Chet Brewer, Newt Joseph, Bullet Joe Rogan, Charles Beverly.
Fonte: The Kansas City Public Library

Logo em 1888 uma liga independente, a Middle States League, admitia times mistos e aceitou a entrada de duas equipes exclusivamente formadas por jogadores negros. De novo, o bem-sucedido Cuban Giants aparecia juntamente com seus arquirrivais, o New York Gorhams.

Dois nomes tiveram enorme relevância no definitivo estabelecimento das Negro Leagues. Frank Leland, em Chicago, e Andrew “Rube” Foster, na Filadélfia, foram fundamentais. Ambos eram homens multitarefas. Eles atuaram como jogadores, manager e donos de times. Foi Foster que, a partir de 1910, reativou a ideia de uma liga com times formados apenas por jogadores negros.

A I Guerra Mundial acabou adiando os planos, sobretudo depois da entrada dos EUA, em 1917. Mas “Rube” Foster estava novamente pronto para começar a liga em 1919, quando a guerra acabou. Foi então que em 13 de fevereiro de 1920 foi criada a Negro League. Inicialmente com oito equipes:

  • Chicago American Giants;
  • Chicago Giants;
  • Cuban Stars;
  • Dayton Marcos;
  • Detroit Stars;
  • Indianapolis ABC’s;
  • Kansas City Monarchs; e
  • St. Louis Giants.

Andrew “Rube” Foster foi nomeado o presidente e controlava todos os aspectos da liga. A intervenção de Foster era tão grande que ele chegava a definir em que time os jogadores atuariam e quando e onde os jogos aconteceriam.

Grandiosidade não reconhecida

Quando a Negro League se estabeleceu a MLB, como nós a conhecemos, já tinha 17 anos. A fusão entre National League (de 1876) e a American League (de 1901) aconteceu em 1903. Durante 44 anos a MLB foi pequena em não reconhecer a grandiosidade dos jogadores que atuavam nas Negro Leagues.

Os atletas que fizeram a transição para a MLB foram muito poucos se comparado às tantas estrelas que brilharam nas Negro Leagues. Uma pena para a MLB. E muito mais. A porta se fechou para esses jogadores pelo mais abjeto motivo: o racismo. Se por um lado a MLB viu Jackie Robinson, Roy Campanella, Larry Doby e Willie Mays, por outro, jogadores como Hilton Smith, Ted Radcliffe, “Buck” Leonard, “Cool Papa” Bell e Josh Gibson não encantaram as plateias na Major League.

Mas os jogadores das Negro Leagues não perderam tempo se lamentando pela estupidez racista da MLB. Eles jogavam mesmo quando hotéis e restaurantes não permitiam sua entrada ou, durante as viagens, não podiam usar o banheiro de um posto de gasolina. Chegavam a jogar rodadas duplas, triplas e até quádruplas. Atuavam muitas vezes sob condições precárias em campos mal iluminados. Em jogos-exibição, que alguns times faziam contra equipes da MLB, os jogadores brancos puderam reconhecer o quão habilidosos e técnicos eram os atletas das Negro Leagues.

O primeiro e muitos outros

Então, foi por causar tamanha impressão – ainda que tenha demorado muito para acontecer – que a MLB não pode mais ignorar os jogadores negros. Jackie Robinson (o primeiro negro na MLB, em 1947), Roy Campanella e Don Newcombe no Brooklyn Dodgers; Larry Doby e Satchel Paige nos Indians e, anos depois, Willie Mays e Monte Irvin no San Francisco Giants; Hank Aaron em Atlanta; Ernie Banks nos Cubs e Elston Howard nos Yankees foram alguns dos que encantaram a Major League Baseball.

E ainda assim, durante muito tempo, torcedores e jornalistas que cobriam o baseball seguiram duvidando do quão grandiosos eram os jogadores das Negro Leagues. Aqui no tailgate zone temos produzido textos falando de jogadores como Jackie Robinson, Satchel Paige, Hilton Smith e outros. E a cada pesquisa feita a certeza que se confirma em todos os integrantes do TZ é de que a qualidade do Baseball nas Negro Leagues era igual ou melhor do que a da MLB. É difícil entender como existiram, e ainda existem, pessoas capazes de negar o óbvio: os caras eram espetaculares.

Ilustração linda, mostrando as grandes caras das Negro Leagues.
Fonte: medium.com

A luta que segue

Depois da quebra das barreiras raciais, quando o Brooklyn Dodgers fez um contrato com Jackie Robinson, uma série de grandes estrelas aportaram na MLB. Além de alguns que já mencionamos, tivemos Minnie Miñoso (Indians), Frank Robinson (Reds), Roberto Clemente (Pirates), Willie McCovey (SF Giants). Mas mais do que grandes jogadores, todos eles são membros do Hall da Fama. São estrelas na MLB e do esporte de modo geral.

A vitória dos jogadores, o fim da segregação no baseball, foi também o impulso para outras personagens fundamentais dessa luta. A chegada de Jackie Robinson no Brooklyn Dodgers foi um grande estímulo na batalha antirracista de Malcolm X, Rosa Parks e Martin Luther King. Mas certamente os sons dessas lutas ainda reverberam nos corações e mentes de atletas como Collin Kaepernick, LeBron James, Maya Moore, Natasha Cloud e tantos outros.

Tip your cap… Reverencie os seus ídolos!

Quer conhecer um pouco mais desses jogadores espetaculares do qual comentamos nesse texto? Estamos produzindo conteúdo semanalmente, com vários desses jogadores que tiveram sua carreira na MLB proibida por conta da segregação racial.

Satchel Paige
Hilton Smith
Ted Radcliffe
Josh Gibson
Cool Papa Bell
Buck O’Neil
Ray Dandridge
Wilbur “Bullet” Rogan
Willie Wells
Chino Smith
Smokey Joe Williams
Willie Foster
Silvio Garcia
Judy Johnson
Cristobal Torriente
Buck Leonard
Bingo DeMoss
Rube Foster
Bill Byrd
Dick Redding
Terris McDuffie
Leon Day
Toni, Mamie e Connie
Lazaro Salazar
Jose Mendez
Oscar “The Hoosier Comet” Charleston
Martin Dihigo

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