Em uma partida de beisebol temos mais de 200 arremessos. Desses 200 arremessos em nove entradas, quando muito, temos 20 rebatidas. Então, podemos começar o texto concordando que o beisebol é um esporte primordialmente de arremesso. Ok, concordando com isso podemos ir para o ponto mais bonito desse esporte: a conexão entre arremessador e receptor. Esses dois comandam o começo de todas as jogadas, o jogo sempre se inicia neles. Sua sinergia é essencial para o sucesso de um time. Contudo, o receptor precisa, além de conhecer seu arremessador, conhecer o rebatedor que estão enfrentando. O arremessador, por sua vez, precisa ter a competência para fazer o que o seu receptor pede e a coragem de discordar quando necessário.
O receptor
Quando se começa a assistir o esporte, é comum se perguntar qual a função daquele cara mascarado que recebe os arremessos. Também é comum muitas vezes achar que aquela é a posição mais chata ou inútil do esporte. Contudo, quanto mais você aprende sobre o esporte, mais aprende que aquela é a posição mais difícil, importante e fantástica do beisebol.
O receptor é o cérebro por trás da defesa. Após uma rebatida rasteira no infield, os olhos do defensor buscam a referência no home plate para saber onde tentar a eliminação. De longe o mascarado vocifera “Primeira base!”. Ele sabe quando arriscar e quando ser cauteloso. Dessa forma, ser receptor é como ser um general – é conhecer os limites dos seus companheiros e os instruir a melhor jogada para a situação.
O outro lado da posição, talvez o mais conhecido, é o de chamar os arremessos. Conhecer apenas seu arremessador não basta, ele precisa conhecer também o rebatedor adversário. Talvez você nunca tenha se perguntado, mas rebater uma bola de beisebol talvez seja a coisa mais complicada de todos os esportes. Posso postular que a razão para isso seja porque não é um duelo justo, não é um contra um. O rebatedor se coloca entre dois adversários, e, enquanto enfrenta o arremessador em sua frente, por suas costas o receptor faz a leitura de sua mente e decide o melhor plano para o derrotar.
O arremessador
Esse, para muitos, tem a posição mais divertida do esporte. É o que participa de toda a ação da partida. Toda jogada começa com seus arremessos. Após uma boa partida, toda a glória vai para ele. Decerto é a posição mais valiosa de um time, sem um jogador minimamente confiável no montinho, dificilmente se vence partidas.
Assim como o goleiro no futebol, para o arremessador não importa se ele jogou bem a partida quase inteira. Alguns erros seus podem decidir uma partida e a idolatria virar uma vilania em poucos minutos. Enquanto um rebatedor que não conseguiu contato durante quatro tentativas na partida pode virar herói quando bate um home run no momento final do jogo, onde poucos acreditavam nele. O arremessador, após uma grande partida, ou um grande ano, pode ver a temporada terminar após um arremesso seu, e, muitos injustamente irão esquecer de tudo que ele fez antes disso.
Apesar de tudo isso, a posição ainda carrega consigo uma grande carga de ego. Ele é o responsável por não ceder nenhuma corrida, é a primeira linha de defesa do seu time. Se seus arremessos não forem bem rebatidos, as bases não serão ocupadas. E após ceder uma rebatida, seu ego é o que o mantém vivo para arremessar a mesma bola novamente e manter o time na partida.
A bateria
Após devidamente apresentar os nossos personagens, agora posso falar da coisa mais fascinante do esporte, a bateria. Esse é o nome dado a unidade que arremessador e receptor formam durante treinos e partidas. Mesmo que profissionalmente você precise estar pronto para jogar com qualquer um, existem aquelas parcerias mais longas e duradouras. Eles são os primeiros a começar o treino, chegam semanas antes dos outros jogadores, essa sinergia não se cria da noite para o dia. Quando se conhecem bastante, eles são capazes de se comunicar por telepatia, ler os pensamentos um do outro e se acalmarem quando necessário.
Eles conhecem bem os limites do parceiro, podem sentir seus pensamentos com um arremesso. Ao final de uma partida, ou de um campeonato. Quando algum desses é finalizado pelo arremessador, sempre poderemos ver os gritos eufóricos da bateria correndo um direção ao outro, culminando a vitória em um abraço.
Isso fica ainda mais bonito longe nos níveis profissionais, onde os grandes contratos e venda da essência do esporte para o capitalismo imperam. Crianças que sonham em ser jogadores e formam uma bateria para treinar existem em todos os continentes do mundo. Elas não necessariamente precisam ser grandes amigas para isso. Existe uma química em toda bateria de beisebol, após muito tempo juntos, eles certamente se tornarão grandes amigos, compartilharão sonhos, alegrias e frustrações. A bateria é, sobretudo, uma história de amizade, parceria e companheirismo.
No fim das contas, a sinergia entre os dois é imprescindível para o sucesso do time em qualquer nível que o esporte se encontre. Contudo, quanto mais distante do dinheiro e publicidade, de forma mais acentuada conseguimos ver essa lealdade da bateria. Apesar de tudo isso, mesmo com toda a pompa de um esporte profissional, ainda existem belos exemplos de parceria nele – e continuaremos a ver os belos abraços ao final das partidas. Isso é o esporte, isso é o beisebol – o esporte mais coletivo de todos!