O COVID-19 e o seu histórico de atleta

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Mais uma semana de confinamento vai chegando ao fim; e como ela foi difícil! Entre as diversas notícias que saíram sobre o COVID-19 ao redor do mundo, excluindo o número assustadoramente crescente de infectados e mortos (aqui), talvez nada tenha chocado mais do que o discurso do presidente Jair Bolsonaro (aqui).

O meu primeiro parágrafo já pode contrariar muitas pessoas e questionarem sobre o que isso tem de ligação com o esporte. Podem dizer que criamos uma “pauta esportiva com recheio político, pra esquerdista aplaudir”, mas não é bem assim. Pelo mundo estamos vendo um rastro de mortes; na Itália por exemplo, já passam de 9.000.

O número de infectados no país é assustadoramente alto, mas pode ficar mais assustador ainda quando reparamos que lá, acontece o mesmo que cá. Depois que a Itália entendeu e aceitou a quarentena (aqui), muita gente ficou em casa e teve sintomas, mas não chegou a ser diagnosticada.

Os sintomas

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Você pode escolher em quem acreditar, mas na questão saúde, eu prefiro ficar com médicos e cientistas.

Aqui no Brasil o número ainda é “pequeno”, mas poucas pessoas estão sendo testadas por falta dos kits para o teste (aqui). Mesmo assim, esses números não mentem, a propagação desse vírus é assustadora. Mais que isso, a falta de notificações e testes, acaba deixando uma sensação pior do que a que tivemos com a China. Ah, tem mais um ponto também, quando falamos em mortes, é bom entender também, que esse número diz respeito apenas ao COVID-19.

Ou seja, muito rapidamente é possível o sistema de saúde de um país ficar saturado e com isso, outras doenças causarem morte, por não haver mais leitos disponíveis em hospitais. É importante termos isso na cabeça, muito importante. Não pretendo entrar no mérito de economia, pelo menos nesse texto, pois pretendo falar de vidas.

Mesmo que tenha ficado um pouco clichê, a frase é muito boa; “falidos ainda se levantam, falecidos não”. Bem, vamos ao ponto principal da fala do presidente, que me despertou curiosidade e que já temos muito respaldo médico (aqui), mas além disso, para quem não acredita em médico, temos os fatos em pessoa.

“…meu histórico de atleta…”

Em meio a um discurso bem pobre, para não dizer outra coisa (não é uma opinião apenas minha, veja aqui), Jair Messias Bolsonaro diz que por ter sido um atleta, o COVID-19 para ele, não seria mais que uma leve gripezinha. Bem, talvez o presidente seja, então, o caso de estudo que os cientistas precisam e sendo assim, em nome de seu amor pelo povo brasileiro, seria ótimo que se oferecesse para estudos.

Lógico que estou sendo um pouco irônico e sarcástico, até porque, é bom lembrar que as nossas ligas americanas começaram a ser canceladas, pois Rudy Gobert, do Utah Jazz foi infectado pelo vírus. Na sequência, o seu companheiro de equipe, Donovan Mitchell também foi infectado.

A lista não para por aí, ainda temos jogadores não identificados dos Lakers e dos Nuggets; e até Kevin Durant. Esse último por exemplo, comentou que não foi capaz de sentir nenhum cheiro por pelo menos quatro dias. É verdade que nenhum deles ficou enquadrado nos casos graves, mas vamos sair um pouquinho dos “nossos” esportes.

“Foi o pior vírus da minha vida”

Brincamos que no Brasil o segundo maior esporte é o volêi, pois bem, dessa forma, alguns devem conhecer o astro da seleção francesa, Earvin Ngapeth. O ponteiro que joga no Zenit Kazan, passou por 15 dias de internação. Segundo ele foram dias muito difíceis com a doença, em “especial” três deles.

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O jogador depois de tudo que passou, recomendou que todos mantenham uma quarentena voluntária. Vale lembrar, que Earvin Ngapeth, não tem histórico de doenças anteriores e segue a risca a vida de um atleta. Paolo Maldini, ex-zagueiro do Milan e da seleção italiana, também foi contaminado pelo COVID-19.

“Como todos os atletas, eu conheço meu corpo. As dores foram particularmente fortes, senti um aperto no peito. É um novo vírus, as lutas físicas contra um inimigo que não se conhece. Tive os primeiros sintomas em 5 de março, dor nas articulações e músculos; e 38,5 ° de febre”. Maldini também disse que sofreu bastante e não chamou o que sentiu, de gripe.

No entanto, de todos os atletas que já pegaram, o que mais se manifestou com relação ao COVID-19, foi Cameron van der Burgh. O nadador sul-africano, foi diagnosticado com o vírus a mais ou menos duas semanas e foi a público comentar sobre ela, na última segunda-feira. Sua declaração provavelmente ajudou ao COI (Comitê Olímpico Internacional) optar pelo adiamento dos jogos olímpicos de Tóquio.

Campeão olímpico

Cameron van der Burgh, para quem não sabe, é medalhista olímpico; foi ouro em Londres (2012), nos 100m peito e prata no Rio (2016). Segundo seu relato, foram 14 dias de luta contra o COVID-19 e esse, foi o pior vírus que já teve em toda a sua vida; e que nada adiantou ser um indivíduo saudável, jovem e com ótimos pulmões… Nada adiantou.

Cameron Van der Burgh talvez não seja tão atleta quanto Bolsonaro.
O nadador sul-africano contraiu COVID-19 e foi grave.
Fonte: Arte OTD

Mesmo depois de sair do hospital, o campeão olímpico, ainda conta que as febres passaram, porém ainda luta com muita fadiga e uma tosse que não para. Ele disse também que continua sentindo fortes dores musculares e que uma simples caminhada deixa ele com muito cansaço. Hoje, Cameron já está aposentado, no entanto ele lamenta por quem ainda compete.

“A perda de condicionamento no corpo tem sido imensa. Posso apenas lamentar pelos atletas que contraíram COVID-19, pois eles vão sofrer uma grande perda do atual condicionamento durante o último ciclo de treinos. Infecção mais próxima da competição é a pior”. Bom, nem precisaremos pensar em competições agora, afinal, todas foram suspensas ou canceladas.

No entanto, o que Cameron disse nos leva a um ponto mais importante ainda; o quão grave o COVID-19 pode ser para os atletas? Já que vimos que ser atleta não tem valia alguma na luta contra o COVID-19, então, o que esse vírus pode significar para esses caras? Confesso que sou leigo em medicina, medicina esportiva; mas não sou leigo em praticar esportes.

Desde pequeno “jogo bola”, já nadei em piscinas jundiaienses e apesar do tamanho, arrisco no basquete e também já arrisquei no vôlei; até tênis eu já tentei jogar. Em todos essas atividades, respiração sempre foi primordial; na natação então, nem preciso falar, todos devem imaginar. 

Os riscos

Bem, puxando minhas aulas de biologia, dentre os outros órgãos envolvidos no sistema respiratório, está lá o pulmão. Responsável por efetuar as trocas gasosas entre o nosso sangue e o mundo ao nosso redor. Simplificando, esse carinha vai colocar oxigênio no nosso sangue e mandar o gás carbônico para fora.

Essa troca é o que basicamente, de uma forma bem simples fornece energia para nossas células, contribuindo nas nossas atividades aeróbicas. Agora imagina se o pulmão começar a trabalhar igual ao nosso presidente, por exemplo, de forma ineficaz, bem abaixo da capacidade, o que pode acontecer? Vai, tá na ponta da língua… Isso mesmo, o caos.

No meio do mês de março, o diretor médico do Centro de Doenças Infecciosas de Hong Kong, comentou sobre algumas análises que fizeram em pacientes. Leia bem aqui, isso ainda é um estudo muito novo, são dados controlados e ainda em estudo inicial. Alguns pacientes que contraíram o COVID-19, tiveram uma queda de 20% a 30% da eficiência pulmonar (aqui). 

Segundo ele, os padrões encontrados pelas tomografias, lembram um vidro fosco. O diretor ainda disse que não se sabe precisar se isso é um efeito momentâneo, porém de imediato podem afirmar que aquele paciente sentirá uma ineficiência de seu pulmão. 

As sequelas 

Mesmo que alguns médicos digam que toda doença aguda que tenha no pulmão sempre deixa alguma sequela, pode ser que não seja o tanto que esses estudos apontam. De qualquer forma, algo ficará e a pergunta que fica é quanto esses atletas ficarão comprometidos? Ou melhor, QUANTO esses atletas podem ser comprometidos?

Será que aqueles que são estrelas deixarão de ser? Ou será que precisarão encerrar a carreira? É triste o que o COVID-19 fará com todos nós, deixará muitas sequelas. E quando digo isso, não só para atletas ou para aqueles que pegaram; ou até pegarão. As sequelas podem ser muito maiores que uma falta de ar, tosse seca que não para ou fadigas musculares.

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