Como toda criança brasileira – ao menos a grande maioria delas – eu respirava futebol (soccer). Ainda no colégio, praticava todos os exportes disponíveis, mas era sempre o futebol que gerava ansiedade, vontade, paixão e acima de tudo a competitividade a flor da pele. Imaginem viver aquele esporte por toda a vida, vestindo a camisa do seu time de coração, até ficar gasta e cansada. Jogava sempre que possível, assistia a todos os jogos e brigava com todo e qualquer amigo a respeito dos jogos da rodada. Pois bem, falando um pouco de passado e história, em meados de 1995, conheci o basquete americano, já era meu segundo esporte em pouco tempo.
Afinal de contas, como comecei nisso?
Tive o prazer de ver algumas das maiores lendas em ação. O que eu não sabia, é que naqueles primeiros meses, colecionando figurinhas do álbum 95-96 da NBA, eu iniciaria uma trajetória que mudaria totalmente a minha vida. Já observava Larry Bird, BADASS! Um atleta completo. Voltando um pouco na história, o que foi aquela Olimpíada de 1992? O “Dream Team”. Inclusive, antes de qualquer polêmica; Jordan era, e ainda é o “cara”, mas o foco agora é outro. Era mágico poder assistir a um jogo da NBA, arrepios do inicio ao fim. Meu primeiro contato com o esporte americano, deixou marcas, mas talvez, o que veio a seguir, é o que realmente me fez perceber que não era apenas mais um esporte.
Em meados de 2003, decidi ampliar os horizontes, busquei outras modalidades americanas, e adivinhe? Encontrei! Meu primeiro vídeo completo de um jogo da Liga de Futebol Americano (NFL), trazia um New Orleans Saints, que na época era conduzido pelo saudoso Archie Manning. Aquele jogo foi incrível! Archie (WHO?) era inacreditável, suas características técnicas, mobilidade, precisão, porte físico, tudo muito apurado. Nada era maior que sua resiliência. Uma linha ofensiva fraca, a defesa praticamente inexistente, e infelizmente esse cara nunca conseguiu ganhar nada pela franquia.
Lições através do esporte
Foram muitas temporadas pelo Saints, nunca houve mais vitórias do que derrotas. Embora seja um orgulho gigante ter um atleta como esse na história da franquia, admito, Archie teria sido muito maior em outro lugar! Enfim, eu jamais havia sentido tamanho entusiasmo vendo uma partida, queria saber tudo o que fosse possível sobre aquela franquia, esse cara jogando mudou de vez todas as minhas referencias esportivas. Ainda em 2003, passei a acompanhar os Saints como time do coração, e como de costume, historicamente falando, chegamos a um 8-8, perdendo nos playoffs com um extra-point desastroso.
2004 passou, segunda temporada na conta e o fatídico ano de 2005 me trouxe algumas lições através do esporte. A cidade de New Orleans foi devastada pelo furacão Katrina, que vitimou cerca de 2.000 pessoas, alterou o panorama, milhares perderam suas casas e seus parentes. O Superdome, casa do Saints, tornou-se a casa provisória de muitas famílias. Durante as férias da NFL, os jogadores se uniram para auxiliar na reconstrução da cidade e dar suporte as famílias. Na época, se não me falhe a memória, o dono da franquia Tom Benson, cogitou a mudança do time (imagine só) para Los Angeles, Albuquerque ou San Antonio.
Jogamos duas partidas da pré-temporada em nossa casa, e na temporada regular mandamos jogos em outras cidades, em estádios como o Giants Stadium, Alamodome e Tiger Stadium. A temporada de 2005, em meio a reconstrução da cidade e de parte do Superdome, foi catastrófica. Não muito diferente das anteriores, atingimos apenas 3 vitórias. Em 2006, foram encerradas as negociações relacionadas a mudança da franquia para outra cidade e houve comemoração por parte da torcida, já que o Saints era parte integrante da cidade de New Orleans.
A esperança de uma cidade
Então a esperança se renova. em 2006, vindo do San Diego Chargers, Drew Brees! Um dos grandes quarterbacks da história fez a sua estreia. Uma cidade inteira reencontra o time com um reforço promissor logo após praticamente dois anos sem mandar jogos dentro do Superdome, agora totalmente reformado. Ainda curando as feridas deixadas pela passagem do furação, mas com um torcida renovada e cheia de vida. Imaginem ver o primeiro touchdown, após um bloqueio histórico de punt de Steve Gleason, com retorno para endzone de Curtis Deloatch. Um presente após tanta luta.
O esporte, continua mostrando que além de entretenimento, continua mudando a vida das pessoas. Dessa forma, aos poucos, aquele garoto com a camisa suada e desgastada de futebol, foi crescendo, e junto com ele o amor pelo esporte norte americano. O futebol ficou para trás? Aos poucos sim, mas ainda tem sua importância, e posso contar essa historia em outra hora. Hoje respiro novos ares e posso te garantir que nada é mais incrível do que um jogo totalmente em aberto, faltando apenas 2 segundos para o fim.