Sobre cães e mascotes #20: Notre Dame

Tempo de leitura: 5 minutos

Olá, aumigos! Já faz um tempo que conversei com o “tio” Henrique sobre mascotes universitários, então tiramos um tempinho hoje pra falar por zoom. E dessa vez o papo foi sobre a universidade mais querida do tailgate, Notre Dame! Mais de 50% do tailgate é Fighting Irish!

Não é o tema principal da coluna, mas a casa dos Fighting Irish merece uma foto.
Fonte: Fox Business.

Os Irlandeses Lutadores

Fighting Irish? Pois é, vamos começar por aí então… Notre Dame é uma universidade católica com nome francês, fundada por um padre francês. Então como os times são os irlandeses lutadores? Acontece que no início do século XX, lá por 1909, time de futebol americano perdia um jogo no intervalo pros seus maiores rivais, Michigan. A maioria dos estudantes na época era de descendência irlandesa, já que tanto Notre Dame é uma universidade católica, assim como a Irlanda. Então o técnico falou: “qual o problema de vocês? Vocês são irlandeses e não estão lutando! Vão lá e mostrem os irlandeses lutadores (Fighting Irishmen) que vocês são!”

Um jornalista ouviu e daí a fama se espalhou. Essa história é importante porque se Notre Dame já tinha forte presença de estudantes de descendência irlandesa, com o crescimento do futebol americano, essa fama se espalhou por todo o país. Com isso, milhões de famílias de origem irlandesa, não importa em que parte dos Estados Unidos vivam, passaram a se sentir imediatamente conectados a universidade e viraram fãs de carteirinha, gerando uma base de fãs verdadeiramente nacional.

Primeiros mascotes

Bem, agora vamos aos mascotes: segundo o jornal da cidade, o South Bend Tribune, por volta de 1900, antes ainda de serem os Fighting Irish, Notre Dame tinha um verdadeiro zoológico nas laterais de campo! O jornal fala de cachorros fazendo acrobacias, um bode que comia roupas e sapatos, um canário e até um canguru, cedido por um amigo do técnico que criava cangurus de estimação.

O elenco da equipe de Notre Dame com seu mascote da época, um cachorrinho Mike.
Fonte: University of Notre Dame Archives

Até que em 1930, ND teve uma ótima idéia, bem inovadora! Oficializar um cachorrinho como mascote! Se você acompanha nossas colunas, você já percebeu que meus “primos” são muito utilizados como mascotes de tudo que é esporte. Até quando o nome do time não tem nada a ver, eles escolhem um cachorro.

Pelo menos dessa vez o escolhido foi um Irish Terrier, fazia algum sentido! Ele foi doado por uma família rica de Cleveland e se chamava Brick Top Shuan-Rhu. Nome de realeza, né? Brick Top começou uma longa lista de Irish Terriers que foram mascotes por décadas. Pelo menos a maioria deles era chamado de Clashmore Mike, um nome um pouco mais… lutador!

Um dos Irish Terriers oficiais de Notre Dame, nos anos 1950.
Fonte: University of Notre Dame Archives

De cachorro para duende!

Foram muitos Mikes por aí, e eles eram bem queridos pelos estudantes e torcedores. Só que em 1960, veio o personagem que mudou a história. O grupo de líderes de torcida decidiu adicionar um personagem do folclore irlandês ao time, o leprechaun! Aquele pequeno duende de roupa e chapéu verdes e barba ruiva!

Parece apenas um logo, mas é assim que os mascotes se vestem até hoje. Fonte: University of Notre Dame

Por alguns anos, Terry Crawford e John Brandt, os primeiros leprechauns, corriam pelas laterais do campo lado a lado com Mike, uma dupla de mascotes imbatível! Porém, perceberam que os leprechauns, verdadeiros animadores de torcida, eram muito mais empolgantes que os cachorrinhos Mike. Em 1963, Mike fez sua última aparição, e a fama dos duendezinhos ruivos disparou.

Os leprechauns decolam para a fama

Em 64, o leprechaun foi capa da revista TIME e no ano seguinte virou o mascote oficial de Notre Dame. E quanto mais famoso o leprechaun ficava, maior era a concorrência entre os estudantes para poder assumir o papel do mascote da faculdade. Com isso, foi criado um longo processo, que dura cerca de um mês, para escolher os representantes.

Todo ano, no início do ano letivo, a competição começa e olha só algumas das etapas que os candidatos precisam enfrentar; responder a um quiz sobre Notre Dame, dançar uma típica dança irlandesa, fazer 50 flexões (é a comemoração a cada touchdown do time), responder perguntas sobre situações de jogo, entrevistas com um painel de jurados e um jornalista local, por fim, liderar gritos e cantos dos estudantes por 5 minutos. Só depois de tudo isso, os vencedores são escolhidos.

O leprechaun é mais que um mascote, responsável também por animar a torcida.
Fonte: Jonathan Daniel / Getty Images.

A tradição evolui e se moderniza

Tradicionalmente, os estudantes que se vestiam de leprechaun eram homens brancos de barba ruiva, embora isso nunca tenha sido um pré-requisito. No entanto, nas últimas décadas, essa história começou a mudar, mais precisamente em 1999, quando Michael Brown se tornou o primeiro leprechaun negro da história da universidade. Por 2 anos Michael foi a cara dos leprechauns no futebol americano e deu o pontapé inicial nas mudanças.

Fonte: Michael Brown.

Esse movimento culminou na história classe de leprechauns do ano passado. Com a inúmera quantidade de esportes ocorrendo, muitas vezes em simultâneo, atualmente Notre Dame conta com 3 representantes. E para 2019, eles foram mais diversos do que nunca: Samuel Jackson, o segundo negro a vestir a fantasia, Lynnette Wukie, a primeira mulher, e Conal Fagan, o primeiro irlandês de fato.

Fonte: University of Notre Dame Athletics.

Após 55 anos, leprechauns continuam a empolgar a torcida e pegar no pé dos adversários de Notre Dame, e os lutadores, irlandeses ou não, são sem dúvida um dos mascotes mais marcantes dos esportes universitários.

Au! Woof!

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