Sobre cães e mascotes #47: Orlando Magic

Tempo de leitura: 7 minutos

Olá “aumiguinho”, como vocês estão? Já tem um mês desde que a minha parça, Jessie, veio aqui e contou para vocês a história de uma mascote brasileira muito importante. O Zé Gotinha tá muito em alta e traz um assunto importantíssimo para o momento que vivemos, então se você ainda não leu o texto, clique aqui e leia. Depois de ler, compartilhe com seus “aumiguinhos” ou seus “papais”. 

Enfim, hoje voltaremos a falar das mascotes dos esportes americanos. Para isso eu resolvi trazer uma mascote que assim que aparecer a foto aqui, vocês provavelmente pensarão que já apresentamos ela antes. Mas tudo bem, faz parte pensar isso afinal, elas tiveram o mesmo criador, ou melhor, foi a mesma empresa quem criou as duas. Mas antes de qualquer coisa, vamos contar um pouco de história.

O desafio do Orlando Magic

Essa coluna não é um “hoje na história”, mas… Em 22 de abril de 1987, Pat Williams, cofundador do Orlando Magic conseguiu o que muitos achavam que era impossível. Ele convenceu a NBA de que valeria a pena criar uma franquia em Orlando. Realmente uma tarefa pra lá de interessante. Afinal, naquela época era bizarro pensar que aquela área central do estado da Flórida, que só era conhecida por conta da Disney e das laranjas, fosse ser lucrativa para a maior liga de basquete do mundo. 

Foto de 22 de abril de 1987, quando Pat Williams informou que o Orlando Magic estava chegando.
Fonte: Tom Burton / Orlando Sentinel

No entanto, a NBA mandou um “teste de fogo” para Williams. A liga propôs que se ele conseguisse vender pelo menos 10.000 season tickets, aqueles ingressos para toda a temporada, e que pelo menos 50% desse dinheiro das vendas estivesse em mãos até o dia 31 de dezembro de 1988, Williams teria a permissão de criar a sua franquia em Orlando. Uma tarefa bem difícil pensando que ainda nem existia jogador ou qualquer outro atrativo para as pessoas.

Um plano de marketing

Em 11 de outubro de 1988, tinham apenas 7.500 ingressos vendidos. Então Williams decidiu pensar em qualquer tipo de publicidade que fosse benéfica para conseguir vender mais ingressos e viu que uma mascote poderia ser interessante. Foi então que essa figura aí embaixo, Stuff, the Magic Dragon, surgiu. O seu nome é em referência a canção de Peter, Paul & Mary, “Puff, the Magic Dragon”. Stuff também é uma gíria, em inglês, para slam dunk, que em português nada mais é do que uma bela de uma enterrada. Daquelas enterradas maravilhosas dignas de Michael Jordan, Vince Carter, Dominique Wilkins, Dr. J.

Geralmente existe uma confusão entre o Suff e Phillie Phanatic, pois dizem que o primeiro é uma cópia do segundo, mas saibam isso acaba acontecendo pois eles vieram das mesmas mentes criativas e também mais uma coisinha que falaremos mais pra frente. Enfim, a empresa Acme Mascots de Wayde Harrison e Bonnie Erickson, contratada por várias equipes e que tem várias mascotes bem conhecidas, incluindo o aposentado “Dandy” dos Yankees, “Hugo” dos Hornets, e “Youppi” do Montreal Canadiens, foi a responsável pelo desenvolvimento de Stuff.

A criação

A Acme Mascots sugeriu muitas possibilidades ao Orlando Magic, como por exemplo, um coelho, um mago e até um feijão mágico. Mas obviamente que um dragão verde neon com uma sobrancelha azul, anteninhas de estrela, um cabelo rosa e azul, asas rosa nas laterais da cabeça e nos braços e línguas de sogra amarelas que saem de seu focinho para representar o “fogo” que sai das narinas dos dragões, foi quem ganhou.

Essa mascote do Orlando Magic é muito legal!
Fonte: Manuela Davies / Getty Images

Enfim, mascote definido, mas Pat Williams sabia que não bastava apenas uma boa fantasia e uma boa festa para ganhar o coração de todos e conseguir vender os seus ingressos. Ele precisava procurar alguém que desse ao Stuff, a melhor performance possível. É aí que entra Dave Raymond.

Pra quem não ligou o nome a pessoa, Raymond foi a primeira pessoa por trás da máscara de Phillie Phanatic. Foi ele que em agosto de 1988 esteve envolvido numa das melhores cenas de uma mascote de todos os tempos; a briga com Tommy Lasorda, que eu até já comentei aqui. Por fim, com a mascote completamente definida, começaram os planejamentos da festa.

A primeira aparição

A ideia foi aproveitar uma noite de Halloween na Church Street Station, onde existem diversos restaurantes e bares no centro de Orlando, e ainda convidar um antigo Globetrotter, Curly Neal e alguns mágicos. Stuff se tornou tão popular em Orlando, que ele nunca foi aposentado pelo Orlando Magic.

Desde essa primeira aparição e a primeira temporada da franquia na NBA (1989-90) ele está com o time. Mais do que isso, ele é o dragão mais alto de toda a história da cidade de Orlando, vive no covil dos dragões (“Dragon’s Lair”) lá no Anway Center, ginásio do Orlando Magic, e tem até a sua própria “quadra” de basquete, a “Stuff’s Magic Castle”. Enfim, depois desses dados importantes sobre a mascote desse mês, temos uma história complicada.

Uma confusão na estreia

Logo após a sua estréia tão performática, graças a Dave Raymond (também conhecido como Babe Ruth da indústria das mascotes), em que ele saía de dentro de um ovo, quase que tudo foi para os ares. Raymond muito satisfeito, mas também muito cansado, com a apresentação que lhe rendeu 1.500 dólares, voltou ao seu hotel. A fantasia estava completamente suada e ele pretendia apenas devolvê-la ao Orlando Magic, bem como tomar um banho, relaxar e já se preparar par retornar para a Filadélfia. 

Dave Raymond, o Babe Ruth da indústria das mascotes.
Fonte: Charles Fox / Staff Photographer

Mas é lógico que não foi isso que aconteceu. Com medo de deixar a fantasia em cima da cama e deixar os lençóis encharcados de suor, ficou procurando por algum cabide ou algum suporte para deixá-la pendurada em algum lugar. Obviamente que ele não achou nada e a “melhor decisão” foi deixar a fantasia pendurada no sprinkler! Pra completar a péssima ideia, a fantasia ficava bem no meio do caminho entre ele e o banheiro, o que fez Raymond rastejar para chegar ao chuveiro e aí a tragédia aconteceu.

O sprinkler quebrou, a fantasia caiu em cima dele e um monte de água veio abaixo, molhando a fantasia. Mais do que isso, um lubrificante que provavelmente existia nos encanamentos caiu em cima dele e da fantasia também. Então ele jogou a fantasia em cima da cama.

Popularidade

Essa história foi contada ao The Athletic em abril do ano passado e vai muito longe ainda, com conversas que Raymond teve com Williams e com muito mais detalhes de todo o ocorrido. Mas o mais importante é que tudo deu certo ao final e Stuff é um sucesso até hoje.

Stuff só aumenta sua popularidade através dos anos e faz sucesso até com outras torcidas. Ele inclusive já aparece no The Tonight Show, o talk show de Jimmy Fallon, no TMZ e no SportsCenter da ESPN. Em 2016 e 2017 ele foi considerado o mascote do ano na NBA e muito disso também tem ligação com a sua aparição no All-Star Game de 2016, quando auxiliou Aaron Gordon numa enterrada espetacular. Outros mascotes da NBA também gostam muito de Stuff, tanto é que em seu aniversário todos fazem uma festa lá no Amway Center.

Artista, atleta e filantropo

Além disso, Stuff é o mestre de cerimônia nos “Jogos de Mascotes Celebridades”. O jogo acontece no Amway Center, onde as mascotes competem em várias modalidades e tudo isso por caridade. Mais precisamente, para a organização chamada de “New Hope for Kids”, que dá suporte a crianças e famílias que perderam entes queridos e também ajuda crianças com doenças terminais em toda a região central do estado da Flórida.

Fonte: Klook

Além disso, Stuff também visita muitas escolas e participa de um programa educacional que visa ensinar as crianças a comer bem, fazer exercícios e entender a importância da educação. Ufa, quanta coisa. Pat Williams no passado mirou uma mascote para vender ingressos. Mas hoje parece que conseguiu muito mais com essa mascote que é uma bela de artista, atleta e até filantropa. Nada mau.

Au! Woof!

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