Este texto sobre Al Kaline faz parte da série ‘Hall da Fama’ em que contamos a história de alguns de seus membros. Toda terça-feira uma estrela será apresentada.
Albert William Kaline, imortalizado pelo baseball como Al Kaline, foi um dos grandes jogadores do outfield da história da MLB. No Detroit Tigers, time pelo qual jogou toda sua carreira, ele ficou conhecido como Mr. Tiger. Nascido em Baltimore (Maryland), em 19 de dezembro de 1936, Al tem na sua família a inspiração para o baseball, já que vários de seus parentes jogaram em equipe semiprofissionais. De origem pobre, Al Kaline teve osteomielite na infância e precisou ter parte do osso do pé removido, o que o deixou com uma grande cicatriz e uma deformação permanentes.
Embora as dificuldades trazidas pela doença tenham sido muito grandes, durante sua carreira de jovem jogador Kaline foi um grande arremessador e aos nove anos ele já dominava a arte de arremessar changeups, fastballs e curveballs. Mas durante o high school Al Kaline foi um atleta do basquete e futebol americano. No entanto, uma outra lesão o retirou desses esportes e ele se inscreveu para o time de baseball da Southern High School, de Baltimore. Mas no time as vagas de arremessador já estavam preenchidas. Então, Al foi movido para o outfield. Nascia um dos maiores jogadores da posição. Atuando no campo externo ele ganhou todas as honrarias estaduais por quatro anos consecutivos. Sua grande capacidade como jogador o ajudava como estudante. Embora fosse um aluno pouco brilhante, os professores gostavam muito dele e o aprovavam na certeza de que Al se tornaria um grande jogador de baseball.
Para a MLB sem escala
A chegada de Al Kaline na MLB foi meteórica e sem escala pelas minors. Em 1953, aos 18 anos, ele assinou um contrato com os Tigers com lhe ofereceu um bônus de US$ 35,000. Ed Katalinas, scout do time de Detroit, comentou de sua impressão sobre Al,
“Ele era o prospecto que um olheiro cria em sua mente e, em seguida, reza para que alguém apareça e se encaixe no padrão”.
Ou seja, Al Kaline era o padrão, a projeção do que um especialista espera de um jogador do outfield. Embora não fosse o titular da posição nos Tigers, Kaline, por tudo o que já havia mostrado, acabaria nessa condição… e foi rápido como isso aconteceu. Durante um jogo contra os Phillies, já no fim da partida, Al entrou para substituir Jim Desling e de lá não saiu mais. Uma curiosidade da temporada de rookie daquele que viria a ser o Mr. Tiger é que ele jogava com a camisa 25. Mas depois de uma conversa com seu companheiro de time, Pat Mullin, Al recebeu a camisa 6 e esse foi seu número até o fim.
Na temporada de 1955 Kaline se coloca de vez como uma das grandes estrelas da MLB. Ele termina essa temporada com médias de .340 no bastão e aos 20 anos se sagrou o mais jovem jogador da American League (AL) a vencer o título de líder de rebatidas desde Ty Cobb, outra estrela dos Tigers, que fez isso em 1907. Mas os feitos de Al não pararam por aí. Ele foi, à época, o 13º jogador da Major League a rebater dois home runs em um mesmo inning. Além disso, Al Kaline foi o jogador mais novo a rebater três home runs em um mesmo jogo.
Todas essas marcas só poderiam culminar na primeira seleção de Al como um All-Star. Isso aconteceria por 18 vezes em sua carreira (1955-1961; 1962-1967; 1971 e 1974), lembrando que nas temporadas de 1959, 1961 e 1962 dois Jogos das Estrelas foram disputados. Ao fim de 1955 Al Kaline registrou 200 rebatidas, 27 home runs e 102 corridas impulsionadas. Além disso, na corrida pelo prêmio de MVP da AL, ele terminou em segundo, atrás do lendário e icônico Yogi Berra.
Excelência defensiva
A temporada de 1956 seria uma continuidade do esplendor ofensivo de Al Kaline. Ele manteria médias superiores a .300 no bastão, rebateria outros 27 home runs e impulsionaria 128 corridas. No entanto, não foi dessa vez que o prêmio de MVP da AL seria dado a ele, terminando em terceiro na votação. Na verdade, Al nunca recebeu essa honraria. Novamente um All-Star, Mr. Tiger começaria a mostrar sua excelência defensiva.
Ainda em 1956 ele liderou a Liga Americana em assistências. Em 1957 ele venceria seu primeiro prêmio de Gold Glove. Seriam 10 ao todo durante sua carreira de 22 anos. A temporada de 1958 teria, de novo, Al Kaline como líder de assistências. Mas essa também foi a temporada que veria Kaline de fora por vários jogos, por conta de um hit by a pitch. E por uma desafortunada coincidência, em 1959, uma outra bolada, que quebrou o osso da bochecha de Al, o afastaria de vários jogos. Embora as previsões dessem um “molho” de seis semanas, Al Kaline ficou de fora por 18 jogos terminando a temporada com média de .327 e, mais uma vez, 27 home runs. Além disso, ele foi o líder em slugging (.530) e OPS (.940) da American League.
Em 1960 Al seria movido para o center field, após a saída de Harvey Kuenn. Mas essa seria a única vez em toda sua carreira que Kaline não jogaria como right fielder. Logo em 1961, com a chegada de Bill Brutton, Mr. Tiger reassumiria sua posição no campo externo direito. Embora Al Kaline e os Tigers tenham feito uma campanha de 101 vitórias na AL de 1961, o time terminaria oito jogos atrás dos Yankees de Roger Maris e Mickey Mantle. Não seria dessa vez que Kaline chegaria a uma World Series.
Mais contusões
O começo da temporada de 1962 foi brilhante como de costume para Al Kaline. Rebatendo para .345, com 13 home runs e 38 RBIs em 35 jogos tudo parecia caminhar para mais um ano de sucesso. Mas uma fratura na clavícula o afastaria por 57 jogos tirando os Tigers da briga pelo título da Liga Americana. As contusões, quase sempre graves, acompanhariam Kaline por toda sua carreira. Ainda assim, Al rebateu o maior número de home runs de sua carreira, 29, e contribuiria com 94 corridas impulsionadas nas 100 partidas que disputou.
O Spring Training da temporada de 1963 mostrou um Al Kaline afiado. Em 53 at-bats ele tinha médias de .373 e afirmava estar se sentindo bem. E de fato estava. Na temporada regular Al manteve médias superiores a .300, mais de 100 corridas impulsionadas e outros 27 home runs. Esses números deram a ele a segunda colocação na votação para o prêmio de MVP, vencido por Elston Howard. Mas durante a temporada de 1964 ele passou a relatar dores no pé esquerdo, que havia sido acometido pela osteomielite.
Al Kaline não fechou uma temporada com médias de pelo menos .300. Embora tentasse ignorar a dor, Al recorreu a médicos que o diagnosticaram com gota e fizeram infiltrações para diminuir o desconforto. A fim de definitivamente se livrar das dores e do incômodo, Al Kaline recorreu a um cirurgião ortopédico que o orientou a usar calçados corretivos.
O próprio Al descreveu como se sentiu,
“Eu me sinto muito melhor do que antes, incrível!”
A caminho do fim
A temporada de 1966 correu com Al Kaline rebatendo mais 29 home runs. Uma fratura na mão deixou Mr. Tiger um mês inativo durante a temporada de 1967. Mas quando voltou, ele encontrou Detroit brigando com outros três times pelo título da AL, que acabou não sendo dos Tigers… Ainda não foi dessa vez que a World Series conheceria Al Kaline.
Ano novo, contusão nova. A temporada de 1968 começa com Al de fora por dois meses devido a uma fratura no braço. Depois de mexidas promovidas por Mayo Smith, manager dos Tigers, Kaline, recuperado, reassumiu sua posição no right field. Enfim, a World Series poderia ser conquistada por Al Kaline. A série contra os Cardinals chegou ao sétimo jogo e teve atuação decisiva de Al. Média de .379 no bastão, dois home runs, oito corridas impulsionadas, um slugging de .655 e um OPS de 1.055 contribuíram sobremaneira para a conquista dos Tigers que não vinha desde 1945.
As luzes finais da carreira de um dos mais brilhantes jogadores da história do baseball refletiam-se esfuziantes com essa conquista. A década de 1970 começa com mais uma contusão grave de Al. Na verdade, um acidente grave quase levou o lendário jogador à morte. Uma colisão com seu companheiro Jim Northrup (CF) deixou Kaline caído e sem ar no warning track do County Stadium, então casa do Milwaukee Brewers.
Depois do susto
Passado o susto, Al Kaline rebateu bem abaixo de sua produção quase constante na casa dos .300. Os 27,8% de aproveitamento sinalizavam o ocaso. Mas em 1971 ele retomou a boa produção, embora rebatesse, novamente, para baixo dos 30%. Mesmo assim, Al recusou um aumento salarial por não se considerar merecedor. No entanto, 1972 trouxe um Mr. Tiger vintage. Rebatendo de novo acima dos .300 (.313), Al ajudou os Tigers a chegarem na disputa da ALCS, contra os A’s, mas acabaram derrotados.
Reconhecimento
Embora não tenha sido possível disputar uma outra World Series, Al Kaline seguiu sendo um All-Star (1974) e recebeu o que talvez tenha sido o maior reconhecimento de sua carreira enquanto ativo. Em 1973 ele foi honrado com o Roberto Clemente Award por sua contribuição ao baseball dentro e fora do campo.
A temporada de 1974 viu Al chegando à sua 3.000ª rebatida na carreira durante um jogo contra os Orioles de sua Baltimore natal. A marca atingida em setembro trouxe também o anúncio de que aquela seria a última temporada de Al Kaline.
As estatísticas de Al no fechamento de sua história na MLB só comprovam o nível altíssimo no qual ele sempre atuou. Kaline terminou sua carreira com 3.007 rebatidas (atualmente o 31º na lista de todos os tempos), 498 duplas, 75 triplas, 399 home runs (um recorde do Tigres e atualmente 58º na lista de todos os tempos), 1.622 corridas anotadas, 1.277 walks e 1.582 RBIs (atualmente 44º da história).
Além disso, ele rebateu para mais de .300 nove vezes para terminar com uma média de acertos ao longo da vida de .297 e acertou 25 ou mais home runs sete vezes nos 22 anos de atividade. Kaline também detém os recordes da carreira do Tigre em jogos disputados (2.834), walks (1.277) e sac flies (104). Mas não só, ele teve mais walks do que eliminações (1.020). Seu maior número de eliminações na temporada veio em sua última temporada, com 75. Até então, seu limite eram 66. Entre os jogadores de posição, Kaline é o 29º da história em WAR (wins above replacement). Entre os outfielders ele é o 15º. Seu WAR acumulado é de 92,8.
Hall da Fama
Os Tigers retiraram a camisa #6 de Al Kaline. A nomeação para o Hall da Fama veio em 1980. Al está entre os mais versáteis, constantes e dinâmicos jogadores que o baseball já viu. Em 6 de abril de 2020 o mundo se despediu de Al Kaline.
Johnny Podres, companheiro de Al nos Tigers e campeão da World Series de 1955 pelo Brooklyn Dodgers, mostrou exatamente quem era o Mr. Tiger
“Você precisa vê-lo jogar todos os dias para apreciar o que ele faz. Você ouve sobre ele, claro, mas não entende de fato até que você o veja. Ele simplesmente nunca comete um erro”.