Hall da Fama: Lou Gehrig

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Este texto sobre Lou Gehrig faz parte da série ‘Hall da Fama’ em que contamos a história de alguns de seus membros. Toda terça-feira uma estrela será apresentada.

De todos os jogadores da história do baseball, nenhum possuía tanto talento e humildade quanto Lou Gehrig. Seus feitos em campo o tornaram uma verdadeira estrela. Sua trágica morte precoce o tornou uma lenda.

A carreira gloriosa de Gehrig teve origens humildes. Nascido em Nova Iorque, em 19 de junho de 1903. Filho de imigrantes alemães, Gehrig foi o único de quatro filhos a sobreviver. Sua mãe, Christina, trabalhava incansavelmente, cozinhando, limpando casas e lavando roupa para pagar as contas. Seu pai, Heinrich, muitas vezes tinha problemas para encontrar trabalho e tinha problemas de saúde.

Jogador de baseball

Se você procurar a palavra ‘jogador de beisebol’ (ballplayer) em uma enciclopédia é possível que a ilustração para esse verbete tenha uma foto de Lou Gehrig. Ele era um incansável trabalhador do esporte. Mas foi Bill Dickey, estrela dos Yankees, Membro do Hall da Fama e companheiro de Gehrig quem bem o definiu:

“Ele apenas ia para o campo e fazia seu trabalho todos os dias”.

Mas realmente interessante foi como Lou assumiu a titularidade nos Bronx Bombers. Wally Pipp, primeira base dos Yankees em 1925, certa vez disse que havia tomado as duas Aspirinas mais caras da história. Tudo por conta de uma dor de cabeça que o retirou de uma partida. Seu substituto foi Lou Gehrig. Desse dia em diante Pipp nunca mais jogou na 1B dos Yankees e Lou fez todos os jogos até sua aposentadoria em 1939.

Gehrig usou a #4 dos Yankees porque batia logo depois de Babe Ruth, o terceiro da ordem. Embora um dos rebatedores e impulsionador de corridas mais magníficos da história, Gehrig era quase sempre ofuscado por Ruth. Mas não somente porque Babe era um excepcional rebatedor. A figura reservada e humilde de Gehrig era sobrepujada pela extravagância e carisma de Babe Ruth.

Iron Horse e a sequência de 2.130 jogos

A impressionante sequência de 2.130 jogos de Gehrig (esse recorde seria quebrado por Cal Ripken Jr em setembro de 1995) não foi fácil de se alcançar. Apesar de um polegar e um dedo do pé quebrados, além de espasmos nas costas, Lou Gehrig sempre atuou brilhantemente.

Já em uma fase mais avançada de sua carreira, as mãos de Gehrig foram radiografadas. Os médicos detectaram 17 fraturas diferentes que “cicatrizaram” enquanto Gehrig continuava a jogar. Mas a sequência esteve em perigo. Sentindo uma dor forte na lombar, Lou foi listado como o shortstop e rebatedor de leadoff nos Yankees. Pois bem, Gehrig foi lá, rebateu uma simples e logo depois foi substituído, mantendo a sequência intacta. Sua resistência e resiliência valeram-lhe o apelido de “Iron Horse” (Cavalo de Ferro).

Lou Gehrig e Babe Ruth monopolizaram as manchetes de jornais.
Babe e Lou.
Fonte: Hall da Fama do Basebal

Em 1927, a dupla Lou Gehrig e Babe Ruth começou a dominar as manchetes do baseball. Nunca se havia visto algo parecido. Naquele ano, Ruth rebateu 60 home runs, quebrando seu antigo recorde de 59, e Gehrig rebateu outros 47, mais do que qualquer outro jogador, exceto Ruth, já havia acertado. Em 10 de agosto, Gehrig tinha mais home runs do que o Babe. Mas a reta final de temporada de Ruth foi espetacular. Juntos, eles superaram todos os times na MLB em home runs, exceto um, o New York Giants.

O domínio de Lou Gehrig

No entanto, o domínio de Ruth como rebatedor de força estava diminuindo. Gehrig começou a tomar seu lugar. Em 3 de junho de 1932, Lou Gehrig se tornou o primeiro jogador da American League a rebater quatro home runs em um jogo.

Mas o engraçado nessa história é que depois do terceiro home run de Gehrig para o right field, num jogo contra o Philadelphia Athletics, Connie Mack, manager do time, tirou o arremessador George Earnshaw e exigiu que Earnshaw ficasse com ele para assistir o reliever Roy Mahaffey arremessar para Gehrig. O quarto home run de Gehrig foi para o left field.

Lou Gehrig se dava muito bem com os bastões.
Rebater era uma rotina para Lou Gehrig.
Fonte: The ALS Association

Embora todo o sucesso da dupla Gehrig e Ruth, os Yankees deixaram de fazer a pós-temporada por três anos consecutivos (1933-1935). Durante uma viagem ao Japão, na offseason de 1933, a relação entre as duas estrelas se deteriorou. Aparentemente por conta de comentários feitos pela mãe de Gehrig sobre como a filha de Ruth se vestia. Babe disse a Lou que nunca mais falaria com ele fora do campo. Os dois nunca trocaram palavras até o famoso “Lou Gehrig Appreciation Day” seis anos depois.

A doença de Lou Gehrig

Durante 12 temporadas consecutivas Lou Gehrig rebateu com média acima de 0.300. Mas em 1938 a média caiu abaixo desse número pela primeira vez desde 1925. Estava claro que havia algo errado. A força das rebatidas havia sumido. Os home runs se transformaram em flyouts.

Primeiramente, os médicos diagnosticaram um problema de vesícula biliar e prescreveram uma dieta leve, o que só deixou Gehrig ainda mais fraco. Wes Ferrell, companheiro de Lou, percebeu que no campo de golfe, em vez de chuteiras, Gehrig estava usando tênis e caminhava arrastando os pés no chão. Joe McCarthy, manager dos Yankees, foi questionado se retiraria Gehrig do lineup do time ao que respondeu: “Essa é a decisão de Lou”.

Gehrig jogou os primeiros oito jogos da temporada de 1939. No entanto, conseguiu apenas quatro rebatidas. Em uma rebatida na direção do arremessador Johnny Murphy, Gehrig teve problemas para chegar à primeira base para receber o lançamento. Quando ele voltou para o banco de reservas, seus companheiros o elogiaram pela “boa jogada”. Gehrig sabia que quando o time precisava parabenizá-lo por fazer uma jogada trivial era hora de ir embora. Ele deixou o jogo.

Em 2 de maio de 1939, como capitão dos Yankees, ele levou o cartão de escalação aos árbitros, como de costume. Mas seu nome não estava na lista. Babe Dahlgren foi colocado na primeira base. O locutor do jogo anunciou para estupefação de todos:

“Senhoras e senhores, a sequência de 2.130 jogos disputados de Lou Gehrig terminou”.

Os médicos diagnosticaram Gehrig com uma forma muito rara de doença degenerativa: esclerose lateral amiotrófica (ELA). A ELA ficou conhecida como “Doença de Lou Gehrig”. Infelizmente, o baseball não veria Lou em campo nunca mais.

“Sou o homem mais sortudo na face da Terra”

Paul Gallico, jornalista esportivo, sugeriu que os Yankees criassem um dia para homenagear Gehrig. Em 4 de julho de 1939, no “Lou Gehrig Appreciation Day”, a estrela dos Yankees lutou contra as lágrimas. Foi nesse dia que ele pronunciou a famosa frase: “sou o homem mais sortudo na face da terra”.

No final do discurso de Gehrig, Babe Ruth se aproximou, colocou o braço em volta de seu ex-companheiro de equipe e falou em seu ouvido as primeiras palavras desde a briga entre eles em 1934.

Gehrig foi o capitão dos Yankees de 1935 até sua morte em 1941. Em 1969, ele foi eleito o maior jogador de primeira base de todos os tempos pela Associação de Escritores de Beisebol da América (BBWAA, sigla em inglês). Já em 1989, no 50º aniversário do fim de sua sequência, ele foi homenageado com um selo postal dos Estados Unidos. Em 1999, ele liderou a votação para o All-Century Team da MLB.

Gehrig e Ruth se reencontram.
O abraço que esperou 6 anos.
Fonte: Society of American Baseball Research

Companheiro de equipe, George Selkirk disse sobre Gehrig:

“Lou Gehrig era um cara que realmente conseguia rebater, era confiável e parecia tão durável que muitos de nós pensamos que ele poderia jogar para sempre”.

Gehrig foi eleito para o Hall da Fama em 1939. Ele faleceu em 2 de junho de 1941.

Lou Gehrig: uma lenda de fato!

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