Este texto sobre Roberto Clemente faz parte da série ‘Hall da Fama’ em que contamos a história de alguns de seus membros. Toda terça-feira uma estrela será apresentada.
Roberto Enrique Clemente Walker nasceu em Carolina, Porto Rico, no dia 18 de agosto de 1934. Mas o mundo o conhece como Roberto Clemente, right fielder do Pittsburgh Pirates, jogador que, nas palavras do ensaísta Roger Angell, “jogava um tipo de baseball que ninguém havia visto anteriormente”. Todavia, sua história no esporte começa logo na juventude. Durante o ensino médio, na escola Julio Vizcarrondo Coronado, Clemente causou tamanha impressão que foi convidado atuar na liga amadora de baseball de Porto Rico, isso aos 16 anos.
Mas já com 18 anos Roberto Clemente assinou com o Cangrejeros de Santurce (Caranguejeiros de Santurce), pela Liga Profissional de Baseball de Porto Rico. Ainda que não tenha começado como titular na temporada de 1952, jogando como shortstop, ele rebateu a .288 ocupando a função de leadoff do time.
Mais uma vez suas atuações impressionaram os especialistas que o assistiam. E foi isso que fez com que o Brooklyn Dodgers (atual Los Angeles Dodgers) oferecesse a Clemente um contrato com sua equipe de Triple-A, o Montreal Royals.
Dos Dodgers para os Pirates
Clemente assinou originalmente um contrato com o Brooklyn Dodgers em 1954. Ele recebeu um bônus de $10.000 – bem acima do que era comum na Liga. Mas ele foi enviado para as minors naquela temporada. No entanto, havia uma regra na MLB obrigando que o jogador que recebesse um bônus acimas de $4.000 deveria ser mantido no roster do time das Grandes Ligas por toda a temporada de rookie. Não foi o que aconteceu. E, também por conta da regra, Clemente foi colocado no draft. Os Dodgers haviam perdido Roberto Clemente!
Pittsburgh, que havia terminado em último na Liga Nacional em 1954, o selecionou; Clemente fez sua estreia na MLB em 1º de abril de 1955 e passou toda a sua carreira com os Pirates. O que Roberto fez durante suas 18 temporadas na MLB refletem a excelência de um jogador completo.
No entanto, as primeiras temporadas de Clemente nas Majors passaram longe da tranquilidade. Nas cinco temporadas iniciais ele lutou contra lesões e, principalmente, com a dificuldade de se comunicar em inglês. Mas em 1960, Pirates e Clemente amadureceram. Roberto rebateu para .312, liderando o time em corridas impulsionadas (94). Ele foi determinante para a chegada dos Pirates à World Series e para vencê-la, numa série dura de sete jogos contra o New York Yankees.
Durante as sete temporadas seguintes, Clemente foi quatro vezes o líder de rebatidas da National League (NL). Além disso, foi escolhido o MVP da NL, em 1966, e iniciou a série de 12 temporadas consecutivas de Gold Glove na posição de right fielder.
De volta à World Series
Roberto Clemente, já aos 37 anos, na temporada de 1971 liderou os Pirates de volta à World Series. Além de sustentar uma média de rebatidas absurda durante a série (.414) e de se sagrar novamente campeão, ele foi eleito MVP daquela Série Mundial.
Clemente acumulou uma montanha de estatísticas impressionantes durante sua carreira. Ao fim da temporada de 1972 ele registrou sua rebatida 3.000, sendo um dos 11 jogadores a ostentar essa marca. Embora tenham chegado à National League Championship Series (NLCS) nessa temporada, a jornada para uma outra World Series parou diante da Big Red Machine, o Cincinnati Reds.
O Comissário da MLB, de 1969 a 1984, Bowie Kuhn definiu bem a magnitude de Roberto Clemente,
“Ele deu ao termo ‘completo’ um novo significado. Ele fez a palavra ‘superstar’ parecer inadequada. Roberto tinha sobre ele o toque da realeza”
Clemente esteve em 15 All-Star Games (1960-1967; 1969-1972). Mas sua notoriedade transcendia o esporte e os ballparks. Roberto Clemente era ativista da igualdade de tratamento para os jogadores latino-americanos da MLB.
Discriminação e luta por igualdade
Roberto era frequentemente ridicularizado pela mídia impressa dos Estados Unidos por seu forte sotaque espanhol. Clemente também foi submetido à dupla discriminação por ser estrangeiro e ser negro em uma sociedade racialmente segregada.
Todavia, tão importante quanto o que Clemente fazia em campo foi seu papel na luta por igualdade no tratamento dos jogadores latino-americanos, algo que ele se orgulhava muito. Próximo ao fim de sua carreira, Roberto Clemente comentou,
“Minha maior felicidade está em contribuir para quebrar o preconceito sobre latino-americanos e negros”.
Luis Rodriguez Mayoral, embaixador do baseball e amigo de Clemente, fez a comparação correta sobre o tamanho da luta de Roberto,
“Roberto Clemente foi para os latinos o que Jackie Robinson representou para os jogadores negros de baseball. Ele falou pelos latinos; ele foi o primeiro a falar”.
O Baseball sobrevive
Na offseason de 1972, Clemente voltou para sua terra natal. Ele jogava na Liga de Inverno de Porto Rico. Além disso, ele oferecia clínicas de baseball para jovens jogadores. Mas depois de saber dos efeitos devastadores de um terremoto na Nicarágua, no fim do mês de dezembro, Roberto liderou os esforços de socorro e apoio em Porto Rico.
Entretanto, quando Clemente recebeu relatos de que o exército nicaraguense havia roubado suprimentos destinados ao povo, ele decidiu embarcar no próximo avião que levaria comida e material de primeiras necessidades. Contudo, logo depois de levantar voo no aeroporto de San Juan, em 31 de dezembro de 1972, o avião caiu. O corpo de Roberto nunca foi encontrado.
A indicação de Roberto Clemente para o Hall da Fama dispensou a obrigatoriedade do cumprimento do interregno de cinco anos pós-aposentadoria para acontecer. Em julho de 1973 ele se tornaria o primeiro jogador nascido na América Latina a ser colocado no panteão do baseball.
Também como homenagem a Roberto Clemente o Commissioner’s Award foi rebatizado para Roberto Clemente Award. A distinção é concedida anualmente ao jogador que demonstra o maior comprometimento com a comunidade e entende a importância de trabalhar para mitigar a desigualdade.
A camisa #21 de Clemente está aposentada nos Pirates. A MLB comemora, desde 2002, em todo mês de setembro, o Roberto Clemente Day. Mas na temporada 2020, para celebrar a data, todos os jogadores Pittsburgh Pirates jogaram com o número #21 às costas. A Liga também autorizou que os jogadores porto-riquenhos ostentassem o número no uniforme.
Mas foi Jimmy Cannon, do New York Journal-American, quem deu o tom sobre o que Clemente representa para o esporte
“O baseball sobrevive porque caras como Roberto Clemente ainda o jogam”.