Esse texto sobre Martin Dihigo faz parte de uma série em que estamos contando a história das Negro Leagues, que neste ano completam 100 anos. Para conhecer um pouco mais sobre elas, acesse aqui.
Pergunte a um cubano qual o maior jogador de baseball da história do país e ele te responderá: Martin Dihigo. Pergunte a ele qual o maior jogador de baseball de todos os tempos e ele te dará a mesma resposta: Martin Dihigo. Mas se você achar a fala tendenciosa, fique com o que disse o grande Buck Leonard:
“Ele foi o melhor jogador de todos os tempos, negro ou branco”.
Entretanto, o apelido dado a Martin Dihigo fala por si: El Maestro. E era assim que o chamavam, em Cuba ou nos Estados Unidos. Não por acaso Dihigo encerra a série especial do tailgate zone sobre as estrelas das Negro Leagues.
Versatilidade
Martin Dihigo era o Senhor Versatilidade. Dentro de campo ele podia fazer de tudo. Arremessava e rebatia com exatamente a mesma qualidade. Defensivamente impecável, sua carreira se estendeu por muitos anos. Todavia El Maestro foi derrotado pelo racismo e nunca jogou na MLB.
Johnny Mize, membro do Hall da Fama, que jogou com Dihigo nas ligas de inverno em países do Caribe resume a aura da estrela cubana:
“Dihigo foi o único cara que eu já vi, que podia jogar em todas as nove posições, ser manager, correr e rebater tanto com a esquerda como com a direita”.
De fato, Dihigo pode ter sido o jogador mais versátil da história do baseball, se destacando tanto como arremessador quanto como rebatedor. Mas Roy Campanella, outro membro do Hall da Fama, que jogou na Negro Leagues de 1937-42 antes de ingressar no Brooklyn Dodgers, também expressou um sentimento semelhante:
“Dihigo foi um dos maiores que já vi. Ele era um grande rebatedor, tinha muita força. Joguei contra ele na Liga Cubana de inverno, no México e na Negro National League quando ele atuava pelo New York Cubans”.
Cuba, México e Estados Unidos
Natural de Matanzas, Cuba, Dihigo tinha 17 anos quando começou no baseball profissional pelo time de Habana da Liga Cubana em 1922. Mas já em 1923 ele estreou pelo Cuban Stars. Formada em sua maioria por jogadores cubanos, a equipe competiu nos Estados Unidos como parte da Eastern Colored League.
Em sua carreira nas Negro Leagues, que se estendeu até a década de 1940, Dihigo também atuou pelo Homestead Grays (1927-1928); pelo Hilldale Athletic Club (1929, 1930-1931); e pelo New York Cubans (1935-1936, 1945). Além desses times, durante esse tempo, Dihigo continuou a jogar em Cuba, México, Venezuela e República Dominicana.
Embora tenha sido duas vezes All-Star nas Negro Leagues, a melhor temporada de Dihigo veio na Liga Mexicana em 1938, com o Águila de Veracruz, onde ele foi 18-2 com um ERA de 0.90 como arremessador. Enquanto isso, no bastão, recebia o prêmio de rebatidas com uma média de .387.
Em outra temporada na Liga Mexicana, ele registrou um ERA de 0.15. Em sua carreira no México, ele teve, como arremessador, 119 vitórias e 57 derrotas. No bastão Dihigo sustentou uma média de rebatidas de .317. Na Liga Cubana, ele foi 107-56 com uma média de .298. Dihigo continuou com sua carreira de jogador no México até o início dos anos 1950.
Estatísticas
Embora as estatísticas daquele período geralmente sejam incompletas e devam ser consideradas não oficiais, os números disponíveis dão ideia do impacto geral que Martin Dihigo teve no jogo.
No banco de dados das Negro Leagues, no site seamheads.com, Dihigo tem média de rebatidas de .300, OPS de .500 com 85 home runs em sua carreira. Como arremessador, os números colocam Dihigo com 51 vitórias e com um ERA de 3.41.
Em campo e no dugout
Na medida em que se tornava mais experiente, seu atleticismo era cada vez mais percebido. Por isso, Dihigo começou a jogar em mais posições no campo. Ele jogou como shortstop, onde sua rapidez lhe dava vantagem. Com um braço direito poderoso, El Maestro também se destacou no outfield. Martin Dihigo foi um dos melhores 3B do baseball. Mas foi como arremessador seu grande destaque. No montinho, Dihigo possuía velocidade e controle. Em 1938, ele lançou o primeiro no-hitter da história da Liga Mexicana, rebateu para mais de .300 e liderou a liga em eliminações.
O carisma de Dihigo o tornou extremamente popular entre seus companheiros de time. Fluente em inglês ele não tinha problemas para se comunicar. Extremamente experiente, Martin Dihigo compartilhava abertamente todo seu conhecimento sobre o esporte. Assim, foi natural que ele desempenhasse a função de jogador-manager. Seu feeling e sua compreensão dos jogadores também o tornavam uma estrela no dugout.
Em 1943, aos 38 anos, Dihigo foi manager de um time na República Dominicana que contava com Johnny Mize, então uma estrela do New York Giants. Foi nessa época que Mize afirmou ser Dihigo o maior jogador que ele já viu.
Aposentadoria
Finalmente, aos 41 anos, Dihigo declarou sua aposentadoria e voltou para sua Cuba natal. Foi Ministro do Esporte de Cuba de 1959 até sua morte, onde foi chamado de O Imortal. Sua entrada em Cooperstown, o primeiro cubano, se deu em 1977. Junto com Willie Wells, Dihigo é apenas um dos dois jogadores a serem indicados para o Hall da Fama do Baseball americano, cubano, mexicano, da República Dominicana e da Venezuela.
Minnie Miñoso, também nascido em Matanzas, jogou nas Negro Leagues antes de estrear na MLB em 1949, idolatrava Dihigo em sua juventude.
“Dihigo uma vez me deixou carregar seus sapatos e luva e foi assim que entrei no estádio [em Cuba] quando era criança”.
A admiração de Miñoso a Dihigo é incomensurável.
“Quando joguei alguns anos nas Negro Leagues, com New York Cubans, Dihigo já havia passado do seu auge e era manager. Então, nunca competi realmente contra ele como jogador. Mas é difícil explicar o grande herói que ele foi em Cuba. Onde quer que fosse, ele era reconhecido e procurado para autógrafos. Ele foi o maior responsável por eu chegar à MLB. Ele era um homem grande, mas era grande em todos os sentidos, como jogador, como manager, como professor, como humano”.
Martin Dihigo morreu em 20 de maio de 1971.
El Maestro, O Imortal, o maior de todos: Martin Dihigo!