Esse texto sobre Toni Stone, Mamie Johnson e Connie Morgan faz parte de uma série em que estamos contando a história das Negro Leagues, que neste ano completam 100 anos. Para conhecer um pouco mais sobre elas, acesse aqui.
As Negro Leagues floresceram em 1920 como forma de apresentar ao mundo do baseball os jogadores negros invisibilizados pelo racismo. Entretanto, o pioneirismo das Ligas Negras não se restringe à questão racial apenas. Mas também às questões de gênero. Já nos últimos anos da Liga, na década de 1950, três mulheres fizeram de suas também a história do baseball nos EUA: Connie Morgan, Toni Stone e Mamie Johnson.
Embora o protagonismo da mulher no baseball não seja dessas jogadoras, elas foram as primeiras a aceitarem o desafio de atuar em jogos de baseball profissional contra homens.
Após os primeiros passos na integração entre negros e brancos na MLB, em 1947, as Negro Leagues acabaram perdendo espaço. Logo em 1948 a Negro National League foi encerrada. O time do Homestead Grays tentou se manter em atividade transformando-se em uma equipe de jogos-exibição. Mas os prejuízos acabaram levando à falência do time. O encerramento das atividades do New York Black Yankees também foi um duro golpe na continuidade da Liga.
Portanto, a Negro American League era a única Liga Negra “principal” em funcionamento em 1949. Mas dois anos depois ela seria reduzida ao calibre de ligas menores até seu completo fechamento em 1958.
Declínio das Negro Leagues
É importante ressaltar que mesmo em seu período de declínio as Negro Leagues ainda produziram jogadores como Ernie Banks (Kansas City Monarchs; 1951 e 1953), que depois seria estrela do Chicago Cubs. Além disso, Hank Aaron (Indianapolis Clowns; 1952), que se tornaria um dos maiores da história da MLB pelo Milwaukee/Atlanta Braves (1954-1974) e Milwaukee Brewers (1975-1976), também atuou na Liga.
Toni Stone
A estreia de Toni Stone aconteceu pelo Indianapolis Clowns. Nascida Marcenia Lyle Stone, em 17 de julho de 1921, em Bluefield (West Virginia), Stone esteve envolvida com o baseball desde a infância. Ela jogou pelo San Francisco Sea Lions (1949), The New Orleans Creoles (1949-1952) até se juntar ao Clowns (1953) e depois passar pelo Monarchs, antes de se aposentar em 1954.
Toni Stone chegou ao Indianapolis Clowns para atuar na segunda base. Syd Pollack, dono do Clowns, já havia tentado contratar Stone em 1950. Mas somente em 1953 essa aspiração seria concretizada. Todavia, a imprensa da época dava como uma estratégia de marketing a contratação de Toni Stone. Mas ela sempre jogou com seriedade.
Em sua primeira temporada profissional Stone rebateu a .364, o que deu a ela o quarto melhor aproveitamento da Liga. Os jogos com ela trouxeram mais público e acabaram usando sua imagem para promover as partidas do time. No entanto, em 1954 seu contrato foi vendido ao Kansas City Monarchs, sua última equipe nas Negro Leagues. Entretanto, Stone se aposentaria ao fim daquela temporada e depois seguiria carreira como enfermeira. Toni Stone morreu em 1996, aos 75 anos.
Toni Stone: Reconhecimento
Em 1985, Stone foi indicada para o Hall da Fama do Esporte Feminino Internacional da Fundação de Esportes Femininos. Em 1990, ela foi incluída em duas exposições no Hall da Fama do Baseball: “Mulheres no Baseball” e outra sobre “Liga Negra de Baseball”.
Mas em 1993, Stone foi indicada para o Hall da Fama do Esporte Feminino. Foi neste mesmo ano que ela foi indicada para o Hall da Fama do Esporte Internacional para Mulheres. Em 1990, a cidade de Saint Paul, onde Stone passou boa parte de sua vida, declarou o 6 de março como o “Dia de Toni Stone”. No Complexo de Baseball Dunning, também em Saint Paul, há um campo com seu nome.
Mamie Johnson
Mamie Belton nasceu em Ridgeway (Carolina do Sul), em 27 de setembro de 1935. Mas no baseball ela seria conhecida como Mamie Johnson, uma das três mulheres a atuar nas Negro Leagues. No entanto, ela foi a primeira na posição de arremessador. O Indianapolis Clowns foi seu único time entre as temporadas de 1953-1955.
Johnson ficou conhecida como “Peanut” (amendoim). O apelido pegou depois de um duelo em que enfrentou Hank Baylis, do Kansas City Monarchs. Depois de um arremesso forte, Baylis saiu da batter’s box e disse: “Ora, aquela menina não é maior do que um amendoim. Não tenho medo dela”. Mas logo depois ele seria eliminado por strikeout.
Após a aposentadoria, Mamie fez uma longa carreira como enfermeira.
Em 5 de junho de 2008, Mamie Johnson e outros jogadores vivos da Era das Negro Leagues foram simbolicamente draftados por times da MLB na temporda 2008. Johnson foi selecionada pelo Washington Nationals. Em 3 de outubro de 2009, Mamie foi uma das estrelas que falou no evento Baseball Americana 2009, organizado pela Biblioteca do Congresso, na companhia de Larry Dierker, Ernie Banks e outras figuras históricas do baseball.
O presidente do Museu do Baseball das Negro Leagues, Bob Kendrick, se referiu assim a Mamie Johnson,
“A dela é uma história de esperança, uma história de perseverança e um exemplo de como superar as adversidades e realizar seus sonhos”.
Mas em 2015 seu nome ficou gravado para sempre quando em Washington foi criado o time Mamie Johnson Little League.
Connie Morgan
Connie Morgan foi a terceira mulher a fazer história nas Negro Leagues. Ela se juntou ao Indianapolis Clowns, em 1954. Jogadora de segunda base, ela foi comandada por Oscar Charleston, manager do time e membro do Hall da Fama.
Constance Enola Morgan nasceu na Filadélfia (Pensilvânia), em 17 de outubro de 1935. Em 1953 ela terminou o ensino médio na John Bartram High School e frequentou a William Penn Business Institute. Mas antes de seguir os estudos na universidade, ela assinou um contrato com o Indianapolis Clowns.
Com a ida de Toni Stone para o Monarchs, ela se tornou a 2B do time. Connie Morgan estreou no Opening Day da temporada de 1954. Morgan jogou com o Clowns até 1955. No entanto, depois de deixar a carreira no baseball, Connie terminou o curso de Contabilidade e trabalhou na Federação Americana do Trabalho e Congresso de Organizações Industriais, até se aposentar em 1974.
Mas seu maior reconhecimento como atleta veio com a indicação para o Hall da Fama dos Esportes da Pensilvânia. Connie Morgan morreu em 14 de outubro de 1996, pouco antes de completar 61 anos de idade.
Também segregadas
Embora a liga profissional de baseball feminino existisse, a All American Girls Professional Baseball League (AAGPBL), também lá existia a segregação racial, assim como acontecia na MLB. No entanto, o que se alegava para não permitir que jogadoras negras atuassem nas equipes da Liga era que “apenas as mulheres brancas atendiam aos seus exigentes padrões de beleza”.
A filósofa Angela Davis é categórica ao dizer,
“Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”.
A história de lutas dessas mulheres negras jogadoras de baseball inspira. Sobretudo em tempos de luta antirracista e por igualdade de gênero conhecer o legado de Toni, Mamie e Connie fortalece.