Manual de análise de rebatedor – Parte 1

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Uma das grandes dificuldades do beisebol é a interpretação das estatísticas. Elas não significam nada, até que se entenda o objetivo delas. Mas para o que devemos olhar quando analisar um rebatedor? A média? O número de home runs? A resposta não é tão simples. Por isso, eu vou nessa série de textos expor o meu método de análise, para ajudar todos que querem conhecer mais sobre o esporte, desde o mais casual até o avançado, a entender como interpretar aquela gigante planilha de números.

O DUELO

Vamos desde o mais básico de tudo, ali que está o cerne do jogo. Um arremessador sobe ao montinho e lança os arremessos que o catcher, jogador que se posiciona entre o rebatedor e o árbitro, pede. A tarefa do rebatedor é chegar em base, de preferência, com uma rebatida. O jogo de beisebol é esse duelo entre o arremessador e o rebatedor. Cada um com seus objetivos e meta completamente opostos. Entendemos assim que, o beisebol é um jogo não de rebatidas, mas de arremessos. Por quê?

O motivo é bem simples, um jogo de beisebol vai ter, em média, 11 ou 12 rebatidas. Mas com certeza terá mais de 250 arremessos. Qual número aqui é mais relevante? Com certeza o maior, por conta do seu impacto no jogo.

Um rebatedor só pode ser bom se ele entende bem esses arremessos. Quanto mais domínio ele tiver sobre a sua zona de strike e sobre a trajetória da bola, melhor ele vai ser. E o contrário também é verdade, quanto mais afobado ele for, menor a chance de sucesso.

APRENDENDO COM OS MESTRES

Vamos usar como exemplo a temporada de 2022 de Aaron Judge, outfielder do NY Yankees, MVP de 2022 e dono de uma das melhores temporadas de rebatedor da história da liga. Vamos analisar suas estatísticas daquele ano.

Em 2022, ele rebateu .311 (ou seja, 3 rebatidas a cada 10 idas ao bastão), teve 62 home runs, chegou em base 42% das vezes e teve 1.111 em OPS, e um OPS+ de 211 (todas essas siglas serão explicadas futuramente). Números extraordinários! Agora a pergunta é: por que ele foi tão bom? A resposta está no modo como ele se comportava diante dos arremessos.

Aaron Judge, em 2022.
Fonte: FanGraphs

Acessando suas estatísticas, chegamos num gráfico chamado Run Values by Pitch Type, ou valor de corridas por tipo de arremesso. Essa é uma métrica usada para medir a eficiência de um rebatedor (convertido em corridas) diante de arremessos específicos. Assim, zero é a média da liga e quanto maior, melhor. Podemos notar, por exemplo, que o seu valor de corridas contra bolas rápidas (4-seamer) foi de 26, que é insanamente alto.

Ele também foi muito bem contra sliders (13 RV), sinkers (15 RV), changeups (6 RV) e curveballs (10 RV). Ele dominou diversos tipos de arremesso. Praticamente não tendo defeitos no seu ano. Mas você pode dizer: contra a slurve o aproveitamento foi de -1”! Sim, aí entramos na parte real da análise, quais arremessos importam e o quanto importam?

DIANTE DO ARREMESSO

Ao lado do Run Value, temos o dado de quantas vezes ele enfrentou esse arremesso. Ele enfrentou 795 bolas rápidas, 662 sliders, 461 sinkers, 388 changeups e 212 curveballs. No entanto, Judge só “viu” 22 slurves. Qual arremesso foi mais importante para ele, qual ele mais viu? Bolas rápidas e sliders. Somados eles são quase 50% de todos os arremessos e são os mais comuns da liga. Ele dominou os dois arremessos mais comuns, logo, ele teve considerável vantagem na grande parte dos duelos, isso foi a chave do sucesso dele, isso foi o que o fez ganhar o prêmio de MVP.

Agora prestem atenção a essa frase: “Bons rebatedores dominam duas das três categorias de arremessos”, as categorias são: bolas rápidas (4-seam, 2-seam, cutter…), bolas de quebra (curveball, slider…) e bolas lentas (change-up, splitter…) . Assim, esse é um fato incontestável. Ninguém que tenha boas estatísticas vai ter um aproveitamento ruim contra as três categorias.

Mas, qual a mais importante? A que tem a maior porcentagem de uso, geralmente a de bolas rápidas. Entretanto, cuidado! A diferença de aproveitamento não pode ser muito grande, não importa se o rebatedor explode as bolas rápidas se ele não acerta as de curva. É necessária a consistência entre os três.

CAUTELA

Por que é importante prestar atenção nisso? O aproveitamento contra arremessos não só indica porque um rebatedor é bom. Mas também ajuda a entender se o aproveitamento é real. Como assim? Bem, vamos ver um exemplo hipotético. Um rebatedor é conhecido por rebater abaixo da média da liga por muitos anos. Mas, do nada, ele começa a rebater bem, muito bem. Significa que agora ele aprendeu a rebater e vai se tornar um jogador melhor?

Muito simples! Veja o seu aproveitamento contra os arremessos e dê um espaço amostral de tempo. Veja como ele está reagindo contra categorias específicas. Se esses dados não forem orgânicos e homogêneos, provavelmente seja só um hit de carnaval.

A TOMADA DE DECISÃO

Depois do seu aproveitamento contra os arremessos, observe como ele se comporta diante dos arremessos. Como assim? Ora, digamos que em algum momento do jogo, dois jogadores se encontrem numa situação em que a sua contagem esteja 3-2. Mas um teve dois swings errados que causaram seus strikes e o outro simplesmente não moveu o bastão nenhuma vez. Qual dos dois tem maior chance de receber um walk no arremesso seguinte? Qual deles vai buscar o walk? Essas tendências do rebatedor nós conseguimos ver com algumas estatísticas específicas.

Primeiro de tudo, por que isso é importante? Vamos lá, um rebatedor que tenta buscar muitas bolas fora da zona vai ter mais ou menos walks? Mais ou menos strikeouts? Menos walks e mais strikeouts, claro, pois é um swing “desnecessário”, mostrando que ele é mais facilmente enganado. Por conseguinte, ele vai ser mais ou menos produtivo? E se ele está sendo muito produtivo, o quanto essa produção vai ser sustentável no futuro?

FIQUE ATENTO

Preste atenção principalmente a sua porcentagem de swing (Swing%). Quando MENOR a taxa de swing, melhor a produção. Quanto MAIOR a taxa de swing, pior a produção. Isso mostra o quanto o rebatedor consegue escolher os melhores arremessos para rebater, isso faz com que os contatos tenham muito mais qualidade e, por osmose, as estatísticas de contato sejam mais altas. Jogadores bons costumam ter poucos swings, e jogadores ruins tem muitos swings.

Um jogador pode sim ser produtivo mesmo tendo alta taxa de swing, como é o caso de Nick Castellanos (OF-PHI) e Brent Rooker (OF-OAK). Mas eles são muito mais exponenciais ao longo da temporada, quando estão bem estão muito bem. No entanto, quando estão mal estão muito mal, além do crônico problema de strikeout. Já um jogador com baixa taxa de swing costuma ser muito mais regular. Mesmo quando não está conseguindo rebater, ele consegue manter a produção e contribuir graças à taxa de walks.

VAMOS JUNTOS

Aqui termina a parte 1 do texto. Na parte 2, vamos ver mais a fundo as estatísticas de contato e por fim o que significam as estatísticas de produção. Nem tudo se resume a uma única coluna. Vamos juntos aprender a como analisar um rebatedor. Até a próxima!

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