Enfim, depois de uma longa e tenebrosa negociação e em meio a uma pandemia, finalmente teremos baseball rolando. E quando eu falo finalmente, é por que teremos muitos motivos para ver o baseball nessa curta temporada. Assistir aos 60 e poucos jogos que teremos até outubro, virou questão de honra.
Para quem não entendeu, a MLB acertou em cheio no marketing para a retomada da temporada. Se estivéssemos no podcast, agora eu teria que soltar um “palmas para o profissional”. Bom, pra quem ainda não entendeu, na última segunda-feira, 20 de julho de 2020, Giants e A’s foram pra campo e rolou uma cena famosa durante o hino nacional americano.
Vários jogadores e treinadores do San Francisco Giants se ajoelharam durante a execução do hino nacional, em apoio ao movimento Black Lives Matter. Era apenas um jogo treino, mas a cena foi para a conta oficial da MLB no Twitter e se espalhou com uma velocidade absurda.
It has never been about the military or the flag. The players and coaches are using their platforms to peacefully protest.
— MLB (@MLB) July 21, 2020
Uma hashtag
Com isso, assim como também conhecemos por aqui, os fiéis de Donald Trump subiram rapidamente a hashtag #BoycottMLB. Ao fazer isso, a MLB passou a responder alguns tweets defendendo o ato e explicando que aquilo era um protesto pacífico e não um desrespeito com a bandeira.
A defesa realizada pela MLB enfureceu Donald Trump, que usou as redes sociais para novamente criticar o protesto e por fim, dizer que o baseball para ele tinha acabado. Bom pra nós, pois o marketing foi muito bom. Então se você, assim como alguns de nossa redação, estava desmotivado para o início dessa temporada… ANIME-SE. Vai rolar muito baseball e assistir virou uma questão de princípios.
Looking forward to live sports, but any time I witness a player kneeling during the National Anthem, a sign of great disrespect for our Country and our Flag, the game is over for me!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) July 21, 2020
Bom, dado o recado (bem longo por sinal, daqueles que o Rafic fica enfurecido), voltemos ao início do baseball; ao Opening Day. Mais especificamente, para algo que o Facebook faz questão de me lembrar em todo mês de abril, uma lembrança incrível e que fomenta mais ainda a minha paixão pelo baseball.
Meu primeiro jogo
O ano era 2015 e essa seria a minha última viagem (trabalho) antes de casar. Não que venha ao caso, mas dólar e casamento não tem espaço na mesma frase. Ou então, melhor, no orçamento de um casal em processo de casamento. Enfim, foram sete dias de evento e com isso, acabei me programando para assistir um jogo de baseball.
No entanto, como era a última viagem, acabei me dando um belo presente e fui logo ver dois jogos. Algo que só não pesa no bolso de quem está em processo de casamento, pois o baseball me parece o esporte mais acessível ($$$) dos Estados Unidos. Enfim, no primeiro jogo cheguei atrasado ao ballpark (obrigado jet lag), mas no segundo não. Nesse eu cheguei bem antes (leia duas horas) e justamente desse segundo jogo, é que vem uma grande memória.
Antes de mais nada, eu não falei ainda, mas eu estava em San Diego… A belíssima San Diego. Lembro-me bem, como se fosse ontem, saindo do hotel, pegando o tal do trolley e chegando duas horas antes do início do jogo. Comprei um ingresso em uma das “maquininhas” do lado de fora e então entrei no ballpark.
Dei uma “volta olímpica”, bebi, comi, bebi mais um pouco, comi mais um pouco; e então me posicionei para ver o jogo. A história toda, de como foi ou quem ganhou, ficará para uma próxima, mas o que aconteceu nesse dia foi o que motivou essa série de dois textos.
Petco Park
Durante o jogo, acabei não ligando muito para a minha cadeira e fiquei de pé, debruçado na “grade” que marcava um dos setores mais próximos a primeira base. Então, pouco antes da sétima entrada, um garoto chegou ao meu lado e deu um berro para o campo, “bullshit” e seguiu ali ao meu lado gritando para o umpire.
Toda essa reação foi por conta de um hit by pitch “inexistente” e é justamente por esse hit by pitch que a minha história existe. Completamente revoltado, o garoto olhou para mim e questionou o que eu achava. Na base do inglês mais básico de todos, prontamente respondi que concordava com ele, seria eu tonto de discordar?
No entanto nesse inglês básico, alguma palavra deve ter ficado com um sotaque nítido de alguém que não é daquele local. Com isso um senhor que estava na primeira fileira (torcedor do Dodgers… não sei como consegui), logo após a grade que eu me apoiava, virou-se e perguntou: “where are you from kid?“. Com aquele sorriso bem vergonhoso e com medo de ter o inglês testado a todo vapor, respondi ao senhor, que era do Brasil.
Após isso, entre um arremesso e outro, entre um inning e outro, fomos conversando; eu aprendendo mais sobre baseball e ballpark; aquele senhor, já aposentado, querendo saber que lugar deveria visitar no Brasil e o porquê do meu interessa no baseball. Foi proveitoso, muito proveitoso e agradeço muito a cervejaria Stone, por me proporcionar boas horas de papo.
Tradição
Enfim, resultado final da noite: “poor Padres”, tomaram uma sacolada dos Astros; 14 a 3. Mas a experiência foi incrível e já era hora de voltar ao hotel. Então, me despedi daquele senhor e antes de partir ele me disse uma frase que ecoa em meus ouvidos até hoje; em tradução livre foi algo do tipo: “não existe lugar melhor para ir na América, do que um ballpark”.
Um aperto de mão e um “seja bem vindo, faça boa viagem”. Peguei o trolley para o hotel pensando em quanta coisa que aprendi e o que aquela frase significava. Quer dizer então que o “estilo de vida americano” passa por um ballpark?
Infelizmente nesse ano ninguém verá baseball in loco, mas ainda (espero) não serão os fins do tempo e em breve, “tem outros campeonato”. Sendo assim, preparar o tailgater para os próximos “campeonato” urge! Então antes da bolinha voar, vamos falar das tradições que existem em alguns ballparks e as tradições que são de praticamente todos. Amanhã logo cedo, sem histórias longas, já teremos as tradições dos ballparks da MLB.