A europa que mudou a NBA

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Quarto período, 9.4 segundos para o fim do jogo, subitamente alguém pede tempo. Esse mesmo alguém pega o microfone e suas primeiras palavras são; “Dirk Nowitzki!”. O ginásio fica de pé para ovacionar o craque alemão. Então, mais palavras vem do microfone; “one of the greatest of all time”. Dessa vez o alemão não se contém e lágrimas vem aos olhos. De todos aliás.

Essa cena muito provavelmente é muito familiar para quem ama o esporte, ela aconteceu no dia 25 de fevereiro desse ano e até publicamos em nossas redes sociais. O técnico responsável por esse momento ímpar foi Doc Rivers. Para esse colunista, 2019 promete ser um ano de choro na NBA. Enquanto Dwayne Wade já fez a declaração que este será seu último ano, Dirk Nowitzki parece indicar o mesmo.

Emoção, ao vivo e em cores

Durante o ano, por onde essas lendas vivas passaram, foram motivos de homenagem e muito respeito de fãs e franquias. Até mesmo quando os Spurs quiseram dar aquela zoada em Wade, não faltaram com respeito. Um de nossos colunistas, sentiu essa emoção e viu as homenagens de perto, durante o jogo entre Wizards e Mavericks, no começo desse mês (06/03).

Cara, sem sacanagem, a homenagem para o Dirk foi animal! Eu estava esperando, mas mesmo assim eu fiquei surpreso.

Henriquetta

Nosso colunista estava com mais um amigo no ginásio e disse que estavam com muita sede e fome, porém não queriam levantar enquanto Dirkão da massa não entrasse em quadra.

De repente, eu tava destraído e todo mundo levanta começa a aplaudir e gritar. Não, não, todo mundo começa a gritar, gritaria! O Dirk tinha só levantado do banco. É igual jogo de futebol no Brasil, quando você vê aquele cara, o xodó da torcida levantar do banco e sair correndo

Henriquetta

A comoção foi geral, todos de pé aplaudindo, jogo parado e sua imagem exibida no telão, junto com todas suas estatísticas e todos os títulos. Foram 12 minutos em quadra registrando dois pontos e dois rebotes.

Um alemão na terra do tio Sam

É fato que o alemão já não é mais o mesmo, o corpo sente e já não responde a mente da mesma forma. Aquele belíssimo fade away, tão perigoso quanto barbeiro com soluço e que deixava qualquer adversário mais perdido que amendoim em boca de banguela, agora ficará eternizado em nossas memórias (também no NBA 2k19). Como Doc Rivers disse, um dos maiores de todos os tempos, sem dúvida.

O mundo da NBA prestou homenagens a Dirk durante a temporada inteira. Considerado o maior jogador europeu, Dirk coleciona recordes pelos Mavs e trouxe o único título da franquia. MVP da liga em 2007 e além de campeão, também foi o MVP das Finais de 2011. São 14 “convocações” para o All-Star Game e hoje é o sexto maior pontuador da história da liga, logo abaixo de Michael Jordan.

Não é bobagem alguma afirmar que Nowitzki já tem assegurada sua passagem para o hall da fama do basquete. Não só por suas conquistas individuais, mas também pela mudança que causou na NBA. Ele mudou muito os moldes do gigantão, muito disso devido ao seu bom arremesso da linha dos três pontos. Hoje ele é o 12º jogador da história com mais bolas de três convertidas.

“A César o que é de César”

Foi por esse alemão que a NBA, seus fãs e também os executivos, perceberam que homens altos não sabem apenas enterrar ou bloquear. Eles podem “chutar”. Além desse ponto já destacado, Dirk Nowitzki, foi draftado em 1998 pelos Bucks (então trocado para Dallas) para alterar a visão de que os europeus eram soft. Naquela época (apenas 21 anos atrás), os americanos não acreditavam que os europeus seriam capazes de lidar com o jogo extremamente físico da NBA.

Bem, a história aqui fica bem engraçada, pois Nowitzki nem precisou moldar seu jogo para a NBA. No entanto, foi a NBA que precisou se adaptar ao estilo de jogo do alemão. Em quadra, você gostasse ou não, concordasse ou não com o estilo que ele “impunha” na NBA, teria que aceitar. Ou então, passaria muita vergonha. Enfim, chegamos a 2011 e a merecida consagração.

Mesmo recebendo ligação de Kobe Bryant, pedindo que ele se juntasse aos Lakers, Nowitzki seguiu nos Mavs e teve o mundo da NBA aos seus pés. Inclusive, é interessante comentar que mesmo após a aposentadoria, Dirk continue aos redores de Dallas. O alemão carregou o seu time na final contra Lebron James, Dwayne Wade e Chris Bosh. No melhor estilo Michael Jordan (no “flu game”), se recuperando de lesão e com uma bela de uma febre. O alemão tirou a franquia de Dallas do 1-2 para o 4-2. Enfim a coroa, o título.

O futuro europeu na NBA

Dirk Nowitzki abriu os olhos da NBA para a europa, quebrando alguns paradigmas de longa data. Giannis Antetokounmpo (the greek freak), já deixa suas marcas e está na conversa para MVP da temporada. O grego é uma sensação entre os fãs. Alguns dizem que será ele a “tomar o lugar” de Lebron James após sua aposentadoria. 

Talvez seja grandioso demais e até precipitado, mas uma coisa é certa, o bastão de europeu ele receberá. Além do grego, ainda temos uma dupla que causará muito nos Mavs. Luka Doncic, terceira escolha geral do Draft de 2018 e Kristaps Porzingis, vindo dos Knicks. O esloveno e o letão prometem carregar a franquia e ser o “futuro europeu” da NBA junto de Antetokounmpo.

O basquete é do mundo

Se pegarmos os drafts pós Nowitzki, percebemos o crescimento de jogadores europeus na liga. De 1983 até 1997, 58 europeus foram draftados. Cinco anos após o draft de 1998, 52 europeus chegaram a liga americana. Certo, alguns deles não vingaram, mas isso é parte do processo. Até porque, não são todos os americanos draftados que seguem na NBA.

Na noite de abertura dessa temporada, 108 jogadores estrangeiros estavam inscritos, representando 42 países. Dentre eles, 65 eram europeus, onde França, Espanha, Alemanha, Croácia, Turquia e Sérvia tem a maior representatividade. Pois é, que o basquete já não é mais exclusividade dos americanos, sabemos há algum tempo.

Nos últimos cinco mundiais, tivemos a Iugoslávia e os Estados Unidos ganhando dois títulos, enquanto a Espanha levou um. Na história do mundial, os americanos não ficam sozinhos em quantidade de medalhas. Embora sejam o país com o maior número delas, o segundo colocado, Iugoslávia, só perde por dois bronzes. São cinco ouros e três pratas para cada lado, enquanto os Estados Unidos guardam quatro bronzes e a Iugoslávia dois.

Mesmo sabendo disso, em 1998, quando aquele alemão gigantesco chegou a liga, ninguém imaginava que ele marcaria uma geração. Não só por seu jogo, mas também pelas mudanças que causou no estilo de jogo da NBA. Além disso, quem diria que esse mesmo alemão incentivaria garotos ao redor do mundo, a investirem no basquete e alimentarem o sonho de jogar em uma das maiores ligas do mundo. 

E agora José?

Encerrar a carreira para um atleta de alto nível não deve ser nada fácil. O grito da torcida, seu nome sendo ovacionado, as entrevistas, o glamour de ser uma estrela. Mas mais que tudo isso, o vestiário, a “resenha”. Dirk ainda não deixou claro se essa é sua última temporada. Analisando de maneira mais frias, pelas suas palavras, talvez venha mais um ano.

Em algumas entrevistas no mês passado, deixou algumas palavras esperançosas. Ele disse que seria muito bom estar com os garotos (Doncic e Porzingis) por mais um ano, mas tudo dependerá de seu corpo. Bom, se essa segunda opção realmente for real, pode ser que a homenagem de Doc Rivers vire uma piada.

Para nós nunca será, em tempos que nunca sabemos agradecer e elogiar pessoas durante sua trajetória em vida, o que o técnico dos Clippers fez foi lindo. Isso é o esporte, em sua forma mais simples e emocionante. De qualquer forma, seja a última ou não: Obrigado Dirk Nowitzki, ou melhor, danke Dirk Nowitzki.

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