“Toy Story”, “O Rei Leão”, “O Corcunda de Notre Dame”, “Pinóquio”, “Divertidamente”. Camufladas em filmes infantis, muitas aulas já nos foram dadas pela Disney. Você pode ser um pouco coração peludo como eu e dizer que não, que isso é só coisa de criança. Tudo bem, não tem problema, você não precisa se abrir comigo, a intenção não é nem essa.
Também não vou julgar, por muitas vezes já fui o que falou isso; aquele que vê alguém viajando, ou sonhando, com as terras da ratazana de voz fina e pensa, “que perda de tempo, que gasto absurdo”. No entanto é difícil negar as aulas que já foram nos dadas através de várias animações. As lições de amizade que aprendemos com o Woody; a coragem de Buzz Lightyear; Timão e Pumba com sua Hakuna Matata e Quasímodo clamando por sair de sua “prisão”.
A fábrica de sonhos
São muitas histórias infantis, com personagens infantis, gerando ensinamentos para “crianças” de todas as idades. “Vá em frente, faça um tolo de você mesmo, talvez assim você ouça sua consciência”; a frase poderia até ser de algum dos famosos escritores sempre ressaltados pelo Fernandão. Mas ela é do Grilo Falante de Pinóquio. Aliás, esse personagem é tremendo.
Bem, depois de tantas aulas por desenho animado, em meio a pandemia, a Disney cede seus “estúdios” para uma série de curta temporada, que muito marmanjo está assistindo com muito gosto. Logo no momento em que o que mais se ouve é; “deixa o meu jogo em paz”; a Disney empresta seus estúdios para a NBA ensinar que o esporte vai além das quatro linhas.
Atendendo o pedido dos jogadores, a NBA abraçou de vez a luta antirracista e está fazendo isso muito bem. Com personagens bem menos infantis que o Sr. Cabeça de Batata, ou o Olaf, a cada jogo são deixadas mensagens muito claras. Alertando para muitos pontos que precisamos dar mais atenção em nossa sociedade.
Luz, câmera, ação!
Além do Black Lives Matter (que vem estampado gigantescamente nas quadras) e do hino nacional norte americano vir acompanhado de jogadores e comissão técnica de mãos dadas e joelhos no chão; ainda podemos ver coisas que vão da importância do voto, reforma da educação e até uma chamada de atenção para o Group Economics.
Esse último para quem não entendeu é a definição de um grupo de pessoas que concordam em buscar ativa e conscientemente um interesse econômico comum para se sustentar e se proteger. Não exatamente igual, mas talvez algo próximo desse conceito seja a Laboratório Fantasma do Emicida; que como o próprio diz, está aí para que “artistas como a Aparecida não precisem escrever canções como ‘Foram 17 anos’”.
Enfim, esse conceito do Group Economics já é muito usado por comunidades judaicas, asiáticas e italianas, e agora comunidades afro-americanas caminham para utilizar esse conceito também. Andre Iguodala, hoje no Miami Heat, é um dos jogadores que em sua camisa traz estampado essas palavras. Mas não é são só em frases nas camisas que a NBA está dando a sua aula nos “estúdios” da Disney.
Nos intervalos entre os quartos, ou em pedidos de tempo, antes, depois ou até durante os comerciais; uma série de vídeos com falas de jogadores e cenas dos protestos que aconteceram lá em maio, são sempre presentes. Jogadores como Malcolm Brogdon, Russel Westbrook, Enes Kanter e Damian Lillard, participaram ativamente dos protestos e deixam suas falas em todo momento que lhes é dado algum “palanque”.
Além das quadras
Além de tudo isso, ainda vemos uma aula de respeito e de liberdade sendo ensinadas pelos jogadores. Lebron foi um dos primeiros a dizer que não usaria nenhuma das palavras que a NBA disponibilizou para as camisas. Para ele, suas ações dizem muito mais do que simplesmente utilizar um “Justice Now” no uniforme. Por outro lado, o ala do Orlando Magic, Jonathan Isaac, decidiu não ajoelhar durante o hino… e tudo bem.
Dentro de suas diferenças, dentro da competitividade que é a liga, até mesmo a rivalidade entre James Harden e Giannis Antetokounmpo ficou apagada no jogo do último domingo. Tudo bem, sei que é difícil isso seguir conforme os jogos forem avançando e os confrontos fiquem mais acirrados.
No entanto, a unidade que vem sendo apresentada e a necessidade de manter todos confinados numa bolha; junto com as lutas de cada um dos jogadores, talvez possa aproximar muito mais todos eles. Talvez o que fique claro depois de alguns meses dessa curta temporada é que não importa a nossa idade, precisamos de um pouco desse mundo mágico da ratazana.
Essa minissérie da NBA que está rolando na Disney veio para nos entreter como qualquer outro filme deles, não tem como negar. Mas também como os filmes da Disney, essa minissérie NBA, veio para nos ensinar que o que está rolando por lá é muito mais do que basquete. Até por que além da luta pelos playoffs, também temos outras lutas, tão, ou mais, importantes.
Por fim, que o espírito dos sonhos e de esperança que aquele castelo do Magic Kingdom transmite a gerações, invada todos os televisores, celulares e notebooks pelo mundo; aqueça os corações tão peludos quanto o meu e nos tragam mais otimismo para os dias que virão. Tanto agora, quanto para o pós pandemia.