O Super Bowl LVII será o primeiro disputado entre dois quarterbacks negros. A decisão da NFL deste ano já está na história antes mesmo de acontecer.
Não é novidade para ninguém que as grandes ligas americanas estão intrinsecamente ligadas a segregação racial – e a luta contra ela.
O caso mais famoso e emblemático de toda a América – talvez do mundo – seja o de Jackie Robinson. O camisa 42 dos Los Angeles Dodgers se tornou o primeiro negro a vencer a barreira racial no esporte mais tradicional dos Estados Unidos, o beisebol. Portanto, a história de Jackie é a lembrança viva de um passado que jamais poderá ser esquecido – nem perdoado. Seu legado trespassa o beisebol e inspira os jogadores de todos os outros esportes. Então, na semana em que Jackie Robinson faria 104 anos, foi também sacramentado o primeiro Super Bowl decidido entre dois quarterbacks negros.
O quarterback é, sem dúvidas, a posição mais importante de um time. Ele é o líder dentro de campo, chama as jogadas e suas mãos guiam o ataque. Claro, como todo esporte coletivo, ninguém vence sozinho. É imprescindível o trabalho na linha ofensiva, recebedores e corredores. Mas, sem um quarterback minimamente competente, é bastante improvável que se vença grandes jogos.
OS NEGROS NA POSIÇÃO DE QUARTERBACK
Por muito tempo houve o estereótipo de que o quarterback, líder do time, precisaria também ser um cara branco e de boa aparência. Não é preciso ir longe para ver exatamente essa representação em todos os filmes em que o assunto é citado. No mundo real, os casos não eram diferentes; apenas em 2020 tivemos um número considerável de negros iniciando uma temporada como quarterbacks titulares.
Michael Vick, Cam Newton, Russell Wilson e atualmente Lamar Jackson conviveram boa parte de suas carreiras sendo chamados de Running Backs. Claro, sempre foram jogadores que corriam bastante com a bola, o famigerado quarterback scrambler – que tem grande mobilidade. Como esperado, esses comentários nunca foram feitos para jogadores como Josh Allen, que também costuma ganhar várias jardas com suas pernas.
Apenas em 1988, Doug Williams se tornou o primeiro QB negro a disputar e a vencer um Super Bowl. No entanto, foi apenas em 2003 que Steve McNair se tornou o primeiro quarterback negro a vencer um prêmio de MVP.
Ainda que sejam minoria, o espaço vem sendo conquistado cada vez mais. A cada temporada é possível observar mais e mais jogadores desempenhando a função central do ataque. Colin Kaepernick liderou os Niners ao Super Bowl, Russel Wilson levou os Seahawks a primeiro título da história da franquia, Cam Newton foi MVP e levou os Panthers a decisão, Lamar Jackson também conquistou o prêmio de MVP e Patrick Mahomes é o melhor jogador da NFL.
OS PROTAGONISTAS DO SUPER BOWL
Patrick Mahomes é um fenômeno. Desde o seu primeiro ano como titular o quarterback elevou muito o nível de sua franquia, que no ano seguinte viria a ser campeã. Mahomes é um daqueles jogadores que fazem você parar a tarde apenas para apreciar o seu jogo, mesmo que não haja nenhum interesse na partida em questão. É como se houvesse mágica em seus movimentos, ou melhor, é como se a magia de todo os esporte estivesse nele – sinto apenas por todos nós, que não temos um Mahomes em nossos times.
Jalen Hurts é um daqueles jogadores que a sua própria história seria um filme de motivação. Hurts teve um excelente começo em sua carreira na universidade. Liderou Alabama para o título e marcou recordes históricos de jardas corridas. No seu segundo ano, após levar o time para uma outra final, Hurts foi posto no banco para a entrada de Tua Tagovailoa – hoje quarterback do Miami Dolphins. Hurts foi escolhido pelos Eagles na segunda rodada do draft de 2020 e chegou para ser o reserva de Carson Wentz. Com a saída de Wentz dos Eagles, o destino da franquia foi confiado a Jalen Hurts – que agora lidera Philadelphia a tentativa de conquistar o seu segundo título.
OS VENTOS DA MUDANÇA
No entanto, uma coisa inegável é que o novo sempre vem. Também é inegável as barreiras que nunca deveriam ter existido, são quebradas cada vez mais a cada dia que passa. Os jovens atletas que hoje quebram marcas e escrevem a história, serão heróis e inspirações para as futuras gerações – acreditar que é possível é o primeiro passo.
Pioneiros como Vince Lombardi, o lendário técnico dos Packers que dá nome ao troféu do Super Bowl, são imprescindíveis. Lombardi foi voz ativa na luta pelos jogadores negros e homossexuais. Contudo, são necessários também, heróis que representem todas as pessoas.
O Super Bowl LVII ainda nem aconteceu e já está para sempre na história.
Leve-me à magia do momento
Em uma noite de glória
Onde as crianças do amanhã ficam sonhando
No vento da mudança
Scorpions, Winds of Change