Na semana do Super Bowl LVII, faremos uma série com 4 textos falando um pouco mais dos envolvidos nesse jogo. O Kansas City Chiefs, o Philadelphia Eagles, o show do Intervalo e o palco de tudo, o State Farm Stadium.
Que o Super Bowl é um dos maiores eventos esportivos do mundo, ninguém deve duvidar. Quando falamos em audiência, realmente é difícil competir com outros eventos, como por exemplo uma Copa do Mundo FIFA ou os Jogos Olímpicos, mas em resultados finais, em “dinheiros”, o que os americanos fazem não é bolinho.
A audiência anual do Super Bowl varia entre 100 milhões a 120 milhões de pessoas em todo o mundo. O jogo é transmitido para mais de 170 países e é uma das principais fontes de receita publicitária na televisão dos Estados Unidos. Os anúncios chegam a custar mais de 5 milhões de dólares por 30 segundos de tempo de tela. Mas nem só do jogo em si vive o Super Bowl.
O show do intervalo
Os shows do intervalo são uma tradição durante os jogos de futebol americano, seja no nível universitário ou profissional. Mas mais do que isso, esses show ajudam a maximizar a audiência e o interesse nacional. Ele é um dos momentos mais esperados do evento e por trás dele existe uma história muito rica e interessante, que de certa forma se une com a sociedade americana.
O primeiro Super Bowl, jogado em 1967, entre o Green Bay Packers e o Kansas City Chiefs, teve como seu show do intervalo, a apresentação de um grupo militar e uma banda universitária junto do ganhador do Grammy, Al Hirt. No entanto, essas apresentações não eram nada sofisticadas e de certa forma até comum, pois já aconteciam em momentos que os jogadores estavam descansando.
Passados alguns anos, a NFL começou a ver a popularidade do Super Bowl crescer rapidamente, com isso, aumentou a necessidade de entretenimento extra e de qualidade durante o intervalo. Então, em 1976 a liga foi atrás do primeiro grupo icônico da época para realizar um show bem mais elaborado. O Up with People (o grupo da imagem destacada) foi o responsável por abalar as estruturas no Super Bowl 10.
Foi uma apresentação musical e cênica com mensagens positivas e temáticas sociais, apresentada por uma trupe de jovens universitários. Esta apresentação foi um dos primeiros grandes shows do intervalo do Super Bowl e é lembrada como uma das mais polêmicas, já que algumas pessoas acreditavam que a mensagem era inadequada para um evento esportivo.
A evolução do show
O grupo ainda estrelou outras três edições de Super Bowl, em 1980 (Super Bowl XIV), 1982 (Super Bowl XVI) e 1986 (Super Bowl XX). As polêmicas seguiram e o sucesso também, mas no meio da terceira década do Super Bowl, novas alterações foram feitas no formato, sempre com o intuito de atrair mais o público e gerar mais atenção para o evento.
No começo da década de 90, a NFL começou a enxergar programas que faziam frente ao show do intervalo. Com isso em 1991, o Super Bowl começou a ver a invasão de artistas POP. O New Kids on the Block foi a primeira atração principal do intervalo no “novo formato”. No ano seguinte veio Gloria Estefan e depois dela, a NFL que de boba não tem nada, quis causar um boom.
Em 1993, no Super Bowl 27, Michael Jackson tomou o palco. Certamente esse show é um dos mais icônicos e memoráveis da história do evento. MJ levou para o palco sucessos como “Jam” e “Billie Jean”, além de uma performance de “Heal the World” que incluiu uma apresentação de 3.500 crianças da região de Los Angeles.
A performance de Jackson foi aclamada pela crítica e foi vista por milhões de pessoas em todo o mundo. O boom fez os artistas POP seguirem no show do intervalo. Nessa época ainda tivemos Tony Bennet, Diana Ross, ZZ Top e até Steve Wonder. Mas como tudo na vida, o formato esgotou novamente e a NFL foi atrás de produções quase que cinematográficas.
Novos nomes e o incidente
Sendo assim, foi decidido por trazer artistas que faziam shows em estádios e lotavam todos. Nesse período vimos nomes como Aerosmith, U2, No Doubt, Britney Spears e Phill Colins. Foram tantos artistas e tantos espetáculos, que novamente o formato cansaria. Errado, dessa vez o problema foi outro. No Super Bowl 38, durante o show de Justin Timberlake e Janet Jackson, ocorre “um incidente”.
Justin Timberlake num ato que até hoje não se sabe se foi pensado ou mal ensaiado, rasgava a roupa de Janet Jackson, deixando o seio dela exposto. Com isso, o show do intervalo que era considerado um produto totalmente “family friend”, foi altamente criticado pela mídia e pelo público. A CBS, quem transmitia o Super Bowl na época, se desculpou publicamente pelo ocorrido e foi multada em $ 550.000 pelo Federal Communications Commission (FCC).
Além disso, a NFL passou a exercer mais rigor na seleção de artistas para o show de intervalo e a supervisão dos shows em si. Sem contar o atraso de alguns segundos na transmissão, que possibilitam um corte em caso de outro “incidente”. Enfim, o caso Justin-Janet abriu espaço para uma nova leva de artistas, nomes muito renomados e que receberiam maior supervisão dos organizadores.
A velha guarda do Rock
A velha guarda do rock assumiu os palcos do show do intervalo. Nessa leva tivemos Rolling Stones, Tom Petty, Bruce Springsteen, um show memorável de The Who lá em 2010 e até uma linda “chuva púrpura” junto de Prince. No Super Bowl XLI, em 2007, Prince fez um daqueles shows que ficam na história, afinal a chuva resolveu colocar mais tempero no script.
O show de Prince durou cerca de 12 minutos, onde tivemos as músicas “Baby I’m a Star”, “Let’s Go Crazy” e “Purple Rain”, que teve uma performance incrível de Prince, incorporando a chuva que caía durante o show em sua performance. Prince ainda joga sua guitarra na chuva e leva todos ao delírio.
Durante essa fase da velha guarda do Rock, mais uma mudança ocorre, mas de certa forma era apenas nos bastidores do show. Em 2004, a NFL começou a cobrar pelos direitos de apresentação do show de intervalo. Antes disso, as empresas pagavam para anunciar durante o jogo, mas o show de intervalo era considerado gratuito. A mudança permitiu que a NFL ganhasse uma boa renda adicional.
Nesse formato de patrocínio, a Pepsi foi dona do show do intervalo por quase três décadas, mas nesse ano as coisas começam a mudar novamente. Para 2023 a NFL fechou com a Apple. No show do intervalo que veremos no domingo, a Apple Music será a “dona”. Os valores não foram revelados, mas a NFL buscava algo em torno de $ 50 milhões pelo show do intervalo.
O retorno do POP
Enfim, seguindo na história, depois dos dinossauros do Rock, em 2011 tivemos o “perdão” aos artistas POP por conta do show do Black Eyed Peas, que foi muito elogiado pela crítica, pelo seu alto nível de energia e produção visual. Era o que o POP precisava para voltar a cena. Então, no ano seguinte Madonna (2012) fez outro belíssimo show e pavimentou o caminho do POP.
Depois de Madonna vimos grandes shows com Bruno Mars (2014), Kate Perry e seus tubarões (2015), Lady Gaga (2017), a volta de Justin Timberlake (2018) e mais recentemente um show muito performático de The Weeknd (2021). Aliás, se você não esteva na terra em 2017, vale contar que o show da Lady Gaga no Super Bowl 51, tomou proporções estratosféricas no Brasil.
Everaldo Marques mandou um “Lady Gaga você é ridícula”, e os little monsters (fãs da Lady Gaga) não gostaram nada, acharam que era uma ofensa e não um elogio. Enfim, vamos aqui chegando ao final da história do show do intervalo, mas não posso deixar de falar de outros dois shows; o desse ano e o icônico show que tivemos no último Super Bowl.
O Hip Hop
No Super Bowl LVI tivemos o primeiro show do intervalo centrado inteiramente no Hip Hop. A mais alta nata do hip hop se encontrou num palco totalmente diferente e inusitado. Dr. Dre, Snoop Dogg, Eminem, Mary J. Blige e Kendrick Lamar, além das participações especiais de 50 Cent e Anderson .Paak., levaram o público ao delírio.
A performance foi muito aclamada pela crítica e esse foi o primeiro show do intervalo do Super Bowl a ganhar o Primetime Emmy Award de Melhor Especial de Variedades (Ao Vivo). O show ainda ganhou outros dois Primetime Emmy Award; Melhor Design de Produção para um Especial de Variedades e Melhor Direção Musical. A performance trouxe muita nostalgia, num momento onde vemos o cenário da música ser dominado por isso.
Para a revista Rolling Stone o show foi uma “aula de história do rap da velha escola da Costa Oeste” e ainda classificaram como o quarto melhor show do intervalo da história do Super Bowl, atrás de Beyoncé, U2 e Prince. Mas além da performance, o show também foi marcado por muitas polêmicas antes mesmo de subir ao palco.
Segundo muitos portais, a NFL teria impedido que os artistas fizessem qualquer tipo de manifestações. Enfim, eles não ligaram e soltaram o verbo. Snoop Dogg entra em cena fumando e Eminem fica ajoelhado em determinado momento da apresentação. Além disso, é possível perceber diversas manifestações políticas em trechos cantados por Kendrick Lamar.
O show foi tão marcante, que teve uma média de 103,4 milhões de telespectadores, um aumento de 7% em relação ao show do intervalo do ano anterior (The Weeknd) e até mesmo maior que a do próprio jogo, que foi visto por uma média de 101,1 milhões de telespectadores.
Rihanna
Já nesse ano, o show do intervalo ficará a cargo de Rihanna. Esse é o retorno de Riri aos palcos após cinco anos de hiato. Sua última aparição cantando em público foi no Grammy de 2018. Recentemente ela lançou duas músicas, que fazem parte da trilha sonora do filme “Pantera Negra: Wakanda Para Sempre“. Uma das canções, “Lift me up”, foi indicada ao Oscar como Melhor Canção Original.
Como o último álbum lançado por Rihanna foi em 2016, “ANTI”, que contém as conhecidas “Work” e “Love on the brain”, pelos bastidores existe muita expectativas de que um novo projeto deve ser anunciado após essa apresentação. Quanto ao show, já correm boatos de que o setlist será composto principalmente de sucessos mais antigos e muito pouco do “ANTI”.
Já as músicas do filme do Pantera Negra, parece que Riri não pretende performa-las. Mas se serve de consolo aos fãs, Rihanna adora mudar o setlist de última hora. Quanto a convidados, não temos nada divulgado até agora, mas Adele já confirmou que deve aparecer por Arizona, além de Jay-Z e A$AP Rocky (namorado de Rihanna e com quem tem um filho) serem nomes sempre especulados.
Pronto pra assistir?
Bom, o show de intervalo é isso. Um dos eventos mais assistidos da televisão americana e com uma audiência global que ultrapassa os 100 milhões de espectadores. Isso faz com que seja uma plataforma atraente para artistas e patrocinadores, e também cria expectativas enormes para cada apresentação. Além disso, como vimos no show de intervalo do último ano, também se tornou um evento polêmico em algumas ocasiões.
Alguns artistas têm usado o palco para fazer declarações políticas ou sociais, o que às vezes resulta em controvérsia e debate. No entanto, a NFL tem permitido que os artistas usem o espaço para expressar suas opiniões, desde que elas sejam apropriadas e não ofendam o público. O que você espera da Rihanna nesse ano? Empolgado com o show depois de saber um pouco mais da história dele?