O rugido das Onças #1: Emoção “Nassauturas”

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Minha memória mais próxima sobre hóquei sem gelo, era minha performance atlética jogando bets, ou então, o famoso “taco” na rua com a galera no final da tarde. Morávamos perto de um rio, e era uma alegria só quando alguém batia um pouco mais forte e mandava a bolinha – que era de tênis, para os lados do rio.

Lembro-me que cruzávamos as bases, nossas marcações de “gol” – feitas de chinelo e tijolo. Corríamos até o meio da rua, batíamos os bastões (pedaços de madeira) até alguém voltar com a bola numa das bases de chinelo.Como era divertido, como as horas voavam! Os times eram mistos, sem essa de time de menino e time de menina.

Era tudo junto e misturado mesmo, não dava problema, estávamos ali para brincar e estar juntos. Se bem que, hoje, eu sei que o tal do “taco”, tá mais pra baseball que para hóquei, mas… enfim, era o que eu imaginava. Além dessa maravilhosa vivência esportiva, outra lembrança que veio à mente é da sessão da tarde, assistindo “Nós somos os campeões”. 

Os Patos e Eu

É a história de um time de hóquei que passa a ser treinado por Gordon Bombay, um cara que foi condenado a 500 horas de serviço comunitário por dirigir embriagado. Lembro-me da fascinação de ver aquele pessoal em cima do patins… e no gelo. Pelo que eu me lembro, foi meu primeiro contato com esse mundo.

Meu segundo impacto foi com a velocidade que aquele povo patinava, e mais… como tinham habilidade para jogar com o stick e puck (bastão e bolinha do hóquei – bem vulgarmente falando, mas para facilitar). Para uma pessoa que não consegue fazer um “número 3” com a mão direita (juntando o mindinho no dedão – é desse 3 que estou falando), sem a ajuda da mão esquerda, dá para potencializar o tamanho da fascinação que tenho com a habilidade de quem joga esse esporte.

Sempre guardei essas admirações comigo, até que recentemente, no auge dos meus 30 anos, tive a oportunidade de assistir dois jogos de hóquei e… foi mágico! Obrigada ao meu amigo e companheiro de jornada, Feffos, por ter me dado essa vivência! Aliás, é disso que quero falar hoje, a aventura que foi o primeiro jogo.

Uma das poucas fotos que consegui tirar, por causa da pressa!
Uma das poucas fotos que consegui tirar, por causa da pressa!

Nossa viagem

Saímos do Brasil virados no Jyraia. Correria estava alta, muita coisa para equilibrar nos últimos dias… Ultimas entregas no trabalho, Baleia e Peyton – nossa doguinha e nosso hamster – precisavam ficar com a vovó (leia-se minha mãe), fazer as malas horas antes de viajar, ou seja, poucas horas de sono.

Sabia que seria uma viagem corrida, mas, não sabia que o Feffos tinha cronometrado cada segundo da viagem. Chegamos em Nova Iorque cedinho, passamos pela imigração, fomos para o hotel, deixamos as malas. Eu mal consegui fazer um xixi, que o apressadinho do “Senhor Onço”, já estava me pressionando para sair e desbravar.

Costumamos, e gostamos muito, de quando viajamos, sentir como os locais vivem. Conhecer bairros que não estão nos guias, os restaurantes que os turistas não vão, e também, como é se deslocar de transporte público. Já fizemos algumas viagens em que nos deslocamos grandes distâncias com malas pesadas (sim, eu levo o mundo em viagens, na ida ou na volta – de tranqueiras).

Fomos de trem mesmo, não é mentira.

Nosso rolê é raiz

Nunca tivemos grandes complicações e devo confessar para vocês, acho que nunca passei tanta aflição e medo quanto nessa primeira experiência no jogo de hóquei. Não pelo jogo em si, mas pela experiência de deslocamento. Nosso primeiro jogo foi no Nassau Veterans Memorial Coliseum. Que lugar maravilhoso, uma pena que chegamos em cima da hora e não curtimos tanto o ginásio como gostaríamos.

E aí, na hora de ir embora, literalmente foi preciso correr. Já tivemos oportunidade de ir à outros estádios, também de transporte público, mas algo durante o trajeto já estava estranho. Menos de duas horas antes do jogo… cadê a galera uniformizada e misturada? Vimos poucos gatos pingados no nosso trem e quando descemos para pegar um ônibus, vimos menos ainda.

Normalmente os estádios estão bem próximos a saídas de metrô. Justamente para facilitar chegada e escoamento da galera, mas não foi o que vivemos no trajeto para o Nassau Coliseum. Se eu pudesse dar um conselho a alguém hoje, falaria: vá e volte de Uber, economize em outro lugar!

Para ir, até foi tranquilo, mas na volta, meu amigo… que tensão! Como tínhamos sentido a diferença na chegada de transporte público com poucos torcedores, achamos por bem corrermos para pegar logo o primeiro ônibus, de volta para a estação de trem. Nem fomos no banheiro, nem nada, só saímos correndo para o ponto.

Corremos mesmo, mas eu fiz de tudo para tirar uma última foto, com quase tudo vazio.
Corremos mesmo, mas eu fiz de tudo para tirar uma última foto, com quase tudo vazio.

Emoção “Nassauturas”

Eis então, que o bendito demorou bastante para chegar. Enquanto estávamos no ponto de ônibus, encontramos menos da metade daqueles gatos pingados da ida. Olha… isso que não eram nem 22:30, de uma sexta-feira! Percebemos que tinha uma quantidade de carros além do que estamos acostumados a ver. 

Ou seja, da pior forma possível, percebemos que nesse estádio, em específico, o deslocamento é prioritariamente particular, de carro. Vá com o seu e pare no estacionamento, ou então vá de uber. Então, o bendito do ônibus chegou e fomos para a tal da estação de trem.

Quando chegamos lá, ela estava simplesmente deserta! Fiquei tensa, então focamos em comprar logo os bilhetes, para assim que o trem chegasse, conseguíssemos embarcar. Quando passamos pela entrada da estação, já passamos com o passo mais apertado pois nos sentimos observados por um grupo de cinco pessoas que ali estavam.

Até então não estávamos preocupados. A chapa esquentou mesmo quando vimos que não era nem 23:15, o próximo trem só passaria depois da meia noite e só estávamos nós, ali no meio daquela plataforma sem fim. Uma angústia passou a tomar conta de mim.

Aquele grupo passou a nos observar mais de perto… e alguns – uns dois, passaram e voltaram por nós umas duas vezes. Você acredita em sexto sentido? Eu não sei se realmente existe, mas quando senti meu coro cabeludo arrepiar e meu coração disparar, não pensei duas vezes e pedi para o Feffos chamar um Uber.

Muita tensão

Longe de mim ser preconceituosa com alguém ou algum lugar, mas o desconhecido nos gera insegurança mesmo. Talvez, todas as percepções de dificuldade de chegar nesse ginásio, tenham me deixado mais tensa ainda. No geral, sempre foi muito tranquilo chegar aos estádios de transporte público. O Feffos sempre me incentivou a fazer isso e nunca foi ruim, mas dessa vez em específico, fica até difícil descrever o que senti.

Enfim, tirando toda a mística que foi assistir um jogo de hóquei in loco, fiquei #chateada com a ida e com a volta ao Nassau. Aliás, fico mais chateada ainda, quando lembro da Filadélfia. Lá, existe um complexo esportivo, o estádio do Eagles, o ballpark do Phillies e o Ginásio do 76ers e do Flyers, ficam na boca de uma estação de metrô.

Se pode ficar melhor? Geral pega o metrô, geral vai comentando o jogo, geral vai confraternizando e não tivemos nenhum problema. Além do mais, nos dois jogos que assistimos, só foi preciso pagar a ida, ainda não entendemos direito, mas pelo que o segurança nos disse, “victory? free ride”.

Minha experiência

Ganhei até uma toalinha! Era o primeiro jogo em casa do Islanders.
Ganhei até uma toalinha! era o primeiro jogo em casa dos islanders.

Agora, pra fechar. Se você puder, vá a um jogo de hóquei. Pra mim foi impossível não ouvir a voz dos minions (isso, aqueles amarelinhos) falando, “briga, briga, briga”, quando os jogadores se enroscavam. Ouvir o silêncio da torcida enquanto seu time está jogando (sim, dá para ouvir o silêncio, se nunca fez isso, experimente! É maravilhoso!).

Sentir a energia e a vibração da torcida, empurrando o time, ainda mais quando rolava um power play (ai eu ouvia muito barulho). Minha fascinação em ver ao vivo esse povo em cima de um patins no gelo só aumentou, aliás, como trocam mega rápido as linhas de tempos em tempos. 

É meus amigos… é louco! Vocês tem que estar bem atentos, porque aquele puck não é um passarinho, mas VOA!

Beijos,
Dona Onça

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