Existem dois tipos de trabalho, aquele que te faz sobreviver e aquele que te satisfaz. Algumas vezes esses dois tipos se encontram no mesmo trabalho, o que é excelente para a pessoa. Em outras vezes, é preciso encontrar dois trabalhos, um de cada tipo, para que a balança da vida fique equilibrada.
Essa segunda situação pode parecer maluca, ou talvez até cansativa, mas é aí que você está enganado. É muito revigorante. Enfim, você, tailgater da classe proletária do brasil, independente do tipo de trabalho que tem, já deve ter chego ao fim de um dia de trabalho, mentalmente esgotado.
Se esse dia de trabalho, foi em outra cidade ou então em uma viagem de trabalho, a canseira mental manda a canseira física pra casa do chapéu. “Tô certo ou não tô”? Eu sei que estou (humildade? humildade?), afinal ontem foi um dia desses. “Tá felipinho, você vai chorar as pitangas para nós?”. Não, muito pelo contrário, eu vou é falar o que tornou esse fim de dia muito melhor.
Enfim, após sair de casa de madrugada, deixando a cachorra Baleia e a dona onça dormindo, meu destino era Joinville. A cidade é a maior do estado de santa catarina e tem a terceira maior população de toda a região sul do Brasil. Duas reuniões no mesmo dia, sendo uma em outra cidade, mais ou menos próxima a Joinville.
“emjoin ville”
Na cabeça a missão era conseguir não atrasar para nenhuma delas, atingir o cliente positivamente e rezar muito para sobrar nem que fossem 30 minutos antes de pegar o voo. Qualquer que fosse o tempo que restasse antes do voo seria de grande valia.
Um grande amigo mora na cidade e seria bom encontrá-lo, já que eu estava visitando “sua terra”. Trocar uma ideia, beber uma cerveja, ou seja, “tailgatear” um pouco. Como tudo pode ficar melhor, ele é um grande conhecedor de cerveja e até está produzindo as suas (Aguardem, em breve no supermercado mais próximo, TPM Beer!).
Felizmente tudo correu da melhor maneira possível. As reuniões foram excelentes e promissoras, ao final, ainda foi possível rolar um tailgate. Aliás, um belo tailgate. Com uma hora e 30 minutos para chegar ao aeroporto, fui apresentado a duas cervejarias sulistas.
zero ibu – locomotive brew
Em um dos basres da cidade, o Zuffa, a primeira cervejaria apresentada foi a Locomotive. Direto da cidade de rio negrinho, também em santa catarina, as cervejas da Locomotive chegam com requintes de crueldade. Provei dois rótulos deles, a extra pulp dragonfruit e a zero ibu. Sem nenhum “clubismo” posso dizer, é uma pancada atrás da outra e a vontade é de tomar barris e barris delas.
A zero ibu é uma IPA sem adição de lúpulo. “Que? Uma IPA sem lúpulo? Que história é essa?”, calma lá jovem. A zero ibu é produzida sem lúpulo em sua fervura, entretanto, uma boa quantidade de lúpulo é colocada no seu processo de fermentação, o que é chamado de dry hopping.
No dry hop dessa cerveja, são utilizados três lúpulos, galaxy (como eu te amo!), mosaic e summer. A combinação desses três causam uma explosão de frutas em sua boca e sem aquele amargo pesado (e gostoso) de uma ipa tradicional. Uma cerveja extremamente refrescante (ímpar!), fácil de beber e que mexe totalmente com a sua cabeça. Sua boca dirá que não é uma ipa, seu nariz não dirá que uma ipa, mas sua cabeça vai gritar “essa ipa é muito gostosa, seu cabeção”.
extra pulp dragonfruit – locomotive brew
Quem também mexe com sua cabeça é a segunda crueldade da locomotive. A extra pulp dragonfruit, pode até enganar com o “extra pulp”, mas não engana com o dragonfruit. Para quem não sabe, dragonfruit nada mais é que a pitaya, já ouviu falar? Uma fruta rosada (e grande) quem também recebe o nome de fruta do dragão.
Apesar da cervejaria dizer que existe uma adição pesada da polpa/extrato da fruta (extra pulp), o sabor não é muito presente, mas não podemos dizer o mesmo de sua cor. Extremamente psicodélica, a cerveja chega num tom extremamente rosado que faz você pensar: “eita, eu não pedi um chopp de vinho!”.
A extra pulp, que foi lançada ontem para os paulistanos, no EAP, é outra IPA que não tem um amargor tão evidente. Entratanto, traz tantas sensações que dificilmente não ficará guardada em seu coração peludo. O paladar ficará mais para os lúpulos americanos utilizados na cerveja, que o sabor da fruta em sí, mas isso não é demérito algum.
Como a própria cervejaria diz “essa béra é a pura manifestação dos desejos mais inconscientes da sua mente, produzindo efeitos profundos sobre a sua experiência consciente! Psicodelia pura garantida!”. E foi logo após do último (precioso) gole dessa psicodélica cerveja, que saímos da zuffa e corremos para o aeroporto.
river falls
Bem, bota correndo nisso. Com uma hora faltando para o voo, meu amigo chamou o Uber e disse: “você tem uma hora para o voo, mas antes, tem que conhecer isso!”. Então ele me levou para uma última experiência cervejeira em joiville. A mais ou menos 10 minutos (de carro) do aeroporto, existe uma jóia.
Com portões “de grade” e um estacionamento de “cascalho”, existe um galpão que sustenta muito mais que um banner preto e com um jacaré verde desenhado nele. Sob o comando de Marcelo Monich, um “ex garoto de ti”, obras de arte são produzidas naquele galpão.
Ao entrar no galpão eu só conseguia enxergar uma coisa: Um belo tailgate acontecendo. Um espaço muito grande, muito simples, mas muito mais acolhedor ainda e com jacarés por todos os lados. Logo na frente, além do melhor lugar de uma cervejaria, a mesa do bar com banquetas altas, também vemos grandes mesas de madeira. Mesas comunitárias, amplas, que permitem a confraternização entre todos que estão dividindo ela.
Um grande espaço, sem barreiras para a alegria, essa é a river falls. Logo que entramos, meu amigo me apresentou ao seu amigo, o mestre Monich. Nos cumprimentamos e então pedimos a primeira cerveja, que por incrível que pareça, não era a minha tão preferida IPA.
. Logo que entramos, meu amigo me apresentou ao seu amigo, o mestre Monich. Nos cumprimentamos e então pedimos a primeira cerveja, que por incrível que pareça, não era a minha tão preferida IPA.
catharina sour, manga + goiaba – river falls
A primeira degustação foi um belo exemplar de catharina sour de manga e goiaba. Não pretendo falar muito dela agora, pois a catharina sour gera algumas polêmicas. Após ser tida como o primeiro estilo puramente brasileiro, muitas discussões surgiram. Esse ponto faz com que esse estilo de cerveja mereça um texto só para ele.
Apenas uma breve descrição sobre o que é. Uma catharina sour, é uma cerveja de trigo de alta fermentação e carbonatação. Nessas cervejas existe o acréscimo de frutas e são donas de uma acidez lática única.
Leves e com baixo teor alcoólico são fáceis de beber. Como seu estilo é muito diferente, divide muito a opinião de quem experimenta. Enquanto para muitos é algo ruim, outros gostam muito e chegam a falar que é uma berliner weisse brasileira, que é uma mentira, mas não é um sacrilégio. Dessa maneira, a experiência na river falls já começou lá em cima.
louquissada – river falls
Por fim, os últimos goles antes de partir para o aeroporto foram em uma excelente west coast ipa. Essa derivação da ipa, “como o nome diz”, é típica da costa oeste americana. O que torna elas diferente é que o lúpulo nada mais é que o Giancarlo Stanton (na época de marlins) da cerveja. Pra quem não entendeu, eu quis dizer que o lúpulo é a estrela da cerveja, nada além dele será relevante.
A loquissada é saborosíssima. Infelizmente o tempo era curto e não consegui nem parabenizar o mestre Monich, muito menos tomar essa breja como ela merecia: Com muito tempo de copo e com diversas perguntas ao mestre que estava na minha frente. A “refrescância” dessa breja é o primeiro ponto que preciso apontar.
Muito mais que fácil de beber, ele é refrescante. Entre um gole e outro, enquanto ouvia meu amigo conversar com o mestre Monich sobre a refrigeração do galpão, eu só pensava: “O que esses doidos estão falando de calor, to sentindo nada!”. Refrescante até o talo e cheia de sabores, meio pint foi muito pouco para essa iguaria. Quando ao seu aroma e sabor, dizer que são diversos tons cítricos seria muito vago para a Loquissada.
Ao sentir o cheiro do copo, o cítrico já vem a sua mente, mas a cada gole um sabor distinto vem a cabeça. Desde as famosas ipas britânicas, muito floral, até as ipas americanas, mais frutadas e cítricas, a loquissada parece passar por todas elas. São muitas misturas e uma ótima experiência sensorial. Agora entendo porque esse meu amigo comprou um colchão para dormir lá na river falls.
terra da garoa
Então o relógio badalou como se fosse meia-noite e a carruagem fosse virar abóbora. O uber chegou e a corrida até o aeroporto valeu a pena. Cada segundo das cervejas degustadas e a boa resenha com meu camarada, venceram o esgotamento físico e mental do dia. Fui o último a entrar no avião? Acreditem se quiser, não fui, consegui perder esse prêmio.
No final, graças a chuva Tom Brady (parece que não termina nunca e sempre faz estragos) que atacou são paulo, meu voo teve seu destino final alterado. De congonhas, fui parar em guarulhos e o resultado da manobra me custou mais algumas horas com dona onça e baleia. Embora essas horas façam falta, posso dizer que o resultado do dia foi positivo demais.