Que presente você quer hoje? (2020)

Tempo de leitura: 7 minutos

Que presente você quer hoje? Esse texto foi originalmente escrito para o MLB da Massa no ano retrasado. No ano passado foi adaptado, e chega na sua segunda adaptação, nesse ano maluco de 2020. Sempre quando chega esse época do ano, mais precisamente no dia de hoje, 12 de outubro, o conteúdo dele continua fazendo sentido para mim. Sendo assim, pode até parecer repetitivo, ou até igual ao do ano passado, mas é um sentimento tão gostoso, que preciso continuar escrevendo.

Bom, talvez nesse ano o sentimento apesar de continuar gostoso, seja igual uma cerveja sour; gostosa, mas azeda. Pra quem leu os textos dos dois últimos anos, talvez lembre que tive duas viagens internacionais. Em 2018, uma viagem de trabalho, em que fiquei praticamente três semanas sem escrever para o MLB da Massa. Já em 2019, nada de trabalho, apenas curtição e já sem MLB da Massa, mas com muito tailgate zone. Muito mesmo, produzindo conteúdo mesmo a distância.

Retrospectiva

Bom, voltando um pouco na história para quem não acompanhou nada nesses dois últimos anos. Em 2018, naquela viagem de trabalho, eu quase não acompanhei o que tinha acontecido no mundo do baseball. Eu tinha muitas dúvidas sobre o que o Padres faria na offseason e quais passos seriam dados para que o time finalmente engrenasse. Hoje é até engraçado relembrar os meus questionamentos.

Quem será o nosso shortstop? Quando Fernando Tatis Jr entrará para o elenco principal? Quem será o nosso terceira base? Christian Villanueva, Wil Myers? Nesse caso, os dois continuam no time? E nossa rotação? Mejia ou Hedges? Quem vamos cortar? Quem podemos pegar na free agency? Mas vamos pegar alguém mesmo, será que seremos tão ativos nela?

Olha lá, foram questionamentos providenciais até. O shortstop do time foi Fernando Tatis Jr mesmo, pelo menos até ele se lesionar e acabar “perdendo” até o prêmio de calouro do ano. O terceira base (vixe), esse eu errei e por muito, mas pelo menos acertei que o time seria ativo na free agency. Manny Machado, o homem foi para o Padres com um contrato altíssimo.

A rotação? Essa foi de calouros e caras que jogavam pelo segundo ano na liga. O bullpen, continuou seguro e a posição de catcher foi tomada por Mejía. O ano do Padres foi intenso, começando bem, surpreendendo muitos, mas depois foi caindo demais. Tanto que o time terminou em último na divisão oeste da liga nacional.

E já que estamos falando em Padres, quem diria que nesse 2020 maluco, eles teriam bons resultados. Além disso, muitas mudanças também. Rotação com Dinelson Lamet, que foi o Ace do time e até pode ser considerado para o prêmio de Cy Young. Machado e Tatis fazendo uma dupla espetacular de sluggers. Sam Diego virando Slam Diego. Resumindo, um ano excelente para a cidade mais legal de toda a América.

Minha temporada

Entretanto, como na coluna do ano passado, as mudanças não foram apenas nos Padres. A mudança também aconteceu aqui, com esse colunista e mais ainda com esse mundão. Fora as mesmas reclamações de sempre, semanas corridas, trabalho aumentando e as atividades até o último fio de cabelo; tivemos uma pedra no meio do caminho. Uma pandemia… PANDEMIA!

Eu não tinha a menor ideia do que seria isso! Quando foi a última pandemia? A gripe espanhola? Pois é, isso pra mim só estava nos livros. O nosso modo de vida mudou… muito! Começando pelo trabalho, todo mundo que podia, home office, ou seja, trabalhar de casa. Num curto período de tempo, uma transformação no modo de trabalho do brasileiro.

Reuniões constantes, todo mundo checando se o outro estava trabalhando mesmo, ou se estava levando tudo como férias. Bem, com tanta tragédia chega até parecer maluco alguém levar a situação como férias, mas sabemos como as coisas andam, não é mesmo? Continuando as mudanças de 2020, isolamento social!

Nada de ver amiguinhos, nada de ver a família, nada de abraços, nada de passeios, nada de nada. “Fique em casa!”. Essa era a frase mais escutada, ou lida, em tudo quanto é lugar que fosse minimamente sério. Ah, claro, também teve muito do “lavem as mãos” e “usem máscara”. Se muito do que disse nos outros anos eram mudanças que pareciam abstratas, esse ano as mudanças foram bem perceptíveis.

As mudanças

No entanto, é engraçado que tudo isso levou ao mesmo ponto do ano passado; grandes momentos de reflexão. Até por que, nada de sair pra tomar uma cerveja com os amigos, nada de ficar de 3 a 4 horas no trânsito e nada de rolês em parques. Sim, ganhamos tempos que antes não tínhamos.

Então, ao contrário do que foi dito no ano passado, o tempo livre, de uma certa forma, aumentou. Foi possível ter mais contato com a Dona Onça (mesmo com ela trabalhando na área da saúde, ou seja, o problema era eu mesmo), coisa que não acontecia desde o longínquo 2016 quando casamos. Com os esportes travados, sem nenhuma liga acontecendo, as horas de jogos viraram livros, filmes, conversas longas e boas risadas.

Lógico, nunca que a vida são só flores. Convivendo tanto tempo assim, muito mais do que o normal e trancafiado num apartamento, tiveram aquelas DRs interessantes, mas passou. Bom, além de Dona Onça, aumentaram também as movimentações do tailgate zone. Começamos a produzir mais conteúdo das redes sociais e também muitos vídeos.

Trouxemos até gente nova para o site! Enfim, junto com todas as mudanças que aconteciam dentro de casa, a nossa janela passou a ser a TV. Noticiário muitas horas do dia, sempre preocupado com que acontecia, ligados a todo instante em tantas coisas que aconteciam no mundo. Da pandemia e da luta antirracista nos Estados Unidos, até o nosso quintal pegando fogo.

Nosso quintal

Mas apesar dessa última frase que pode ser levada muito bem no seu sentido literal da palavra, pode ser no figurado também. Reformas sem reforma, preconceitos, ecossistemas indo pro espaço, o estapafúrdio crescimento da negação à ciência e, o azedo que comentei no começo do texto; quantas crianças não saberão o quão é especial o dia de hoje.

E quando eu digo isso, não estou “culpando” apenas a COVID-19, mas sim os “fatores externos”. João Pedro, Ágatha Félix, Kauê Ribeiro dos Santos e Kauan Rosário. Uma ação policial que lá em maio, levou sonhos e a alegria de famílias. Miguel, que só queria estar perto de sua mãe, mas foi tratado como um estorvo e também acabou com seus sonhos jogados do alto de um prédio de luxo.

Negligência? Não, isso é assassinato. É assustador como já conseguimos “aprender” a lidar com um vírus, mas ainda não conseguimos lidar com esses “fatores externos” que tem matado nossas crianças. Então, hoje, da mesma forma como aconteceu em anos anteriores, quando levantei da cama e peguei o celular, o estopim do texto não foi uma notificação no Facebook.

Estopim e recordações

No entanto, foi a mesma foto de sempre. 12 de Outubro de 2014, MetLife Stadium. O primeiro jogo de NFL visto ao vivo e no dia das crianças. Era impossível eu passar por essa foto e não entrar um cisco no meu olho, impressionante. Mas hoje não caiu, o que bateu foi apenas saudade. O cisco desse ano ficou por conta de imaginar todos esses sonhos que terminaram tão cedo.

Tenho tantas recordações, muitas mesmo. Nos dois últimos textos eu cheguei a escrever sobre elas, mas nesse ano fica quase impossível digitar uma palavra sobre isso. “O show tem que continuar”, é o que diz a propaganda daquele grande grupo de comunicação do Brasil. Mas de que forma queremos que esse show continue?

O show tem que continuar (?)

O caminho que temos trilhado parece nos levar para um lugar muito longe de tudo aquilo que sempre lembrei nesse dia. Um lugar em que talvez nem o esporte consiga salvar os meus dias. De qualquer forma, eu nunca deixarei de sonhar e não farei isso só por mim, farei por esses meninos e meninas que tiveram seus sonhos tão brevemente roubados.

Afinal, os altos e baixos sempre estarão aí, mas a última “temporada” me ensinou muito. Talvez o show não tenha que continuar, talvez seja necessário produzirmos outro e que dessa vez seja produzido em conjunto com essa criança, que está escondida atrás desse seu coração peludo. Deve ser um show que crianças criariam.

O que eu quero de presente

Como a bela frase dita por Lebron James ao ganhar o título pelos Lakers ontem, um show (um mundo) em que o amor valha mais que qualquer coisa. Afinal, como dito no texto do ano passado, quero poder voltar nos próximos anos e escrever essa coluna como aquele colunista com a bola embaixo do braço.

Que na escola jogava basquete, mesmo sendo o menor da sala. Aquele lá não ligava pra isso não, só queria se divertir e tinha os maiores sonhos do mundo! Vamos produzir um novo show e aí sim seguir com ele. Pois assim como no ano passado, se eu puder continuar escolhendo o meu presente, eu quero entrar em um estádio final de semana sim, final de semana sim!

Sempre ao lado dos meus, deixando a minha criança interior dominar todo o meu final de semana e invadir o máximo que ela puder da minha semana. Mas também quero que de quem mais for esse sonho, isso não seja tirado; e daqueles que sonham com tantas outras coisas para além desse meu desejo, igualmente sejam mantidos.

E vocês? O que querem de presente?

Deixe uma resposta