vencendo como meninas

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Embora o judô só tenha reconhecido as mulheres em 1934 e o primeiro campeonato feminino de judô ter acontecido na década de 80, a luta feminina é bem mais antiga. Claramente me aproveitando de uma metáfora boba, o tailgate zone abre suas homenagens ao dia internacional das mulheres.

Nesse dia em que lembramos e celebramos a luta das mulheres pela igualdade dos gêneros, não podemos ficar de fora. Guerreiras do esporte precisam ser lembradas, suas histórias e suas conquistas, mulheres que fizeram a diferença e esmagaram a (ridícula) frase “esporte não é coisa de mulher”.

Pois é, mesmo que ridícula, ainda podemos ouvir de muitas bocas essa inverdade. E por mais que seja a casa de grandes mentes, é da Grécia antiga que vem essa frase. Para os gregos, as mulheres além de não possuírem capacidades físicas para a prática esportiva, poderiam ficar masculinizadas se a fizessem. 

Inclusive, elas eram tão excluídas, que não poderiam nem assistir. Como de costume da época, os homens competiam nus e se as mulheres fossem flagradas vendo qualquer competição, eram condenadas a morte. Um absurdo, mas mesmo assim essas ideias persistiam nas cabeças de muitos, por muitos anos.

a primeira combatente

Entretanto, assim como as mulheres lutaram por suas conquistas no convívio social, no trabalho e pelo direito ao voto, não abaixaram a cabeça no esporte. Vamos voltar um pouco no tempo, para 1900. Antes mesmo de termos as primeiras celebrações (datadas de 1909), Alice Melliat travou a primeira batalha. 

A francesa, junto de seu esquadrão, que trazia mais 10 mulheres, foram até Paris para participar da primeira edição da era moderna dos jogos olímpicos. Foi ela quem reivindicou a participação das mulheres em algumas modalidades esportivas. Alice acreditava que o esporte era uma excelente ferramenta de desenvolvimento de personalidade.

Em 1917, por fim, ela fundou a FFSF (Federação de Sociedades Femininas da França), responsável pela regulamentação das atividades esportivas para as mulheres. Alguns anos depois, em 1921, ela organizou a primeira olimpíada feminina, que teve Mônaco como a sua sede.

alice melliat, fundou a federação internacional desportiva feminina. como atleta, se destacou na natação, hockey e remo. (fonte: imagem ig)

No mesmo ano, ainda conseguiu apoio da extinta tchecoslováquia, Itália, França e os Estados Unidos, para fundar a FSFI (Federação Internacional Desportiva Feminina). Por fim, o burburinho foi tão grande, que em 1936, o COI (comitê olímpico internacional) finalmente reconheceu as mulheres como atletas olímpicas.

Logo após, em 1938, a FSFI foi se desfazendo, pois as crenças de que mulheres eram frágeis e submissas foram caindo por terra. Ao mesmo tempo, diversas provas femininas foram sendo adicionadas as olimpíadas. Alice Melliat lutou e derrotou muitas paradigmas, um ícone até para mulheres que não se consideravam feministas.

Existe um dado muito interessante, que vale ser ressaltado. Mesmo com tanta luta e com a mulher cada vez mais encontrando o seu espaço, apenas em 2012 é que as mulheres conseguiram competir em todas as modalidades olímpicas.

nossa primeira combatente

Em meio as lutas de Alice, uma brasileira também apareceu. A guerreira tupiniquim é paulistana e competiu nas olimpíadas de 1932, em Los Angeles. Maria Lenk nadou desde as primeiras competições brasileiras, ainda em mar aberto. Sua história entretanto, começou de forma bem curiosa e digno de uma vitoriosa.

A primeira batalha de nossa nadadora foi aos 10 anos e contra uma pneumonia dupla. Coisa pouca para nossa guerreira, que acabou por praticar a natação justamente pelo motivo de seus pais acreditarem que isso faria bem a sua saúde. Sem muitas piscinas para treinar, as primeiras braçadas da paulistana, foram no rio tietê.

Isso mesmo, nessa época o rio ainda não era poluído e era possível tanto a prática esportiva, quanto recreativa. Sete anos depois, no alto de seus 17 anos, Maria Lenk foi a primeira mulher sul-americana a competir nos jogos olímpicos. Nesse ano, a delegação brasileira contava com 68 atletas que acabaram por financiar sua viagem vendendo café no navio. Pois é, o descaso não é só de hoje.

“o que valia era o conceito do amadorismo. eu competi com um uniforme emprestado, que tive de devolver quando as provas acabaram” (fonte: folha imagem)

um feito maior que medalha

Embora não tenha conseguido medalhas, Maria Lenk trouxe algo muito mais valioso. A nadadora foi inspiração para outras mulheres. Em 1936, voltou as olimpíadas, mas dessa vez acompanhada por mais três nadadoras. Em 1939, durante a preparação para as olimpíadas de tóquio, quebrou dois recordes mundiais (200m e 400m peito).

Ela foi a primeira e única mulher brasileira a conseguir tal feito. Para a tal olimpíada que nunca aconteceu, ela era a favorita a ganhar a medalha de ouro. Dessa forma, ela teria sido também pioneira como medalhista. Fato esse que só ocorreu 68 anos depois, nos jogos olímpicos de pequim, pela saltadora maurren maggi.

Mesmo assim, isso não é algo que diminua sua história. Seu nome é gigante dentro do esporte nacional e inclusive recebeu homenagem nos jogos pan-americanos de 2007. Seu nome foi dado ao parque aquático utilizado nos jogos. Entretanto, infelizmente não recebeu a homenagem ainda em vida (faleceu três meses antes da inauguração).

salvando o baseball dos meninos

A história das mulheres no esporte, não fica a cargo apenas de pioneirismo e garra, elas também já salvaram ao menos uma modalidade. Com a entrada dos estados unidos da américa na segunda guerra mundial, muitos americanos foram a guerra, incluindo jogadores.

lavone paire davis, também conhecida como pepper paire, jogadora da all-american girls professional baseball league (fonte: pinterest)

Com isso, executivos da MLB, no intuito de manter o baseball sob os olhos dos americanos, criaram a All-American Girls Professional Baseball League (AAGPBL). A liga fundada por Philip K. Wrigley, existiu entre os anos de 1943 e 1954, e foi a precursora do baseball feminino.

Mais de 600 mulheres jogaram na liga, que tinha como base o centro oeste americano. Composta por 10 times, sendo o mais vitorioso Rockford Peaches, que ganhou quatro campeonatos. A liga seguia as mesmas diretrizes da MLB, ou seja, existia uma segregação informal. 

Mulheres negras não foram recrutadas ou contratadas. Além disso, as mulheres não eram selecionadas apenas por suas habilidades. Elas também precisavam se encaixar no modelo “marketeiro” da liga. 

Nos primeiros anos, as regras do jogo eram um misto de softball com baseball. Enquanto a bola utilizada era a do softball, a quantidade de jogadores era a mesma do baseball. Diferente do softball, o arremessador subia ao montinho, entretanto, o arremesso era igual ao do softball.

a liga das meninas

Com o passar dos anos a liga foi se modificando e deixando as regras mais parecidas com o baseball. No último ano da liga, o tamanho da bola, a distancia do montinho para o home plate e até as distâncias entre as bases, já eram praticamente iguais a da MLB. 

Inclusive, os times eram gerenciados por ex atletas homens da MLB, que segundo os organizadores traria mais credibilidade a liga. Os salários giravam em torno de $45 a $85 (em torno de $652 a $1231 nos dias de hoje), por semana, nos primeiros anos de liga e $125 (em torno de $1207 nos dias de hoje) por semana nos últimos anos.

o time de 1945 do racine belles (fonte: www.wuwm.com)

Os uniformes utilizados pelas jogadoras eram vestidos de manga curta, com um cinto e saia levemente ondulada. As regras também diziam que as saias não poderiam ficar mais que 15 centímetros para cima do joelho. Entretanto isso não era checado com tanta vontade pela liga, afinal, o intuito era favorecer o lado atlético das jogadoras.

O ápice da liga foi em 1948, quando os 10 times conseguiram atrair um público de 910.000 pagantes. Em 1992, o filme “uma equipe muito especial” (a league of their own), foi lançado com essa história por trás. Mesmo sendo bem romantizado, ele traz a história da criação da liga.

São muitas histórias, muitas figuras, se fossemos falar de tantas outras, um texto só não serviria. Talvez nem um livro fosse capaz de reunir todas elas, precisaríamos de diversos volumes. Entretanto, a mensagem que qualquer uma nos dá é a mesma. O esporte também é delas, até porque, o lugar da mulher é onde ela quiser.

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