Com a recente conquista da medalha de prata no beisebol dos Jogos Pan-Americanos de Santiago 2023, um ciclo bastante duradouro no beisebol brasileiro se aproxima de um fim há tempos esperado. À frente da CBBS – Confederação Brasileira de Beisebol e Softbol – desde a fundação no início dos anos 1990, Jorge Otsuka, presidente e principal liderança, projeta a conclusão de um trabalho antigo – embora intensificado na atual gestão (iniciada em 2021).
São mais de três décadas comandando o beisebol no Brasil, desde as categorias de base até adultos (igualmente no softbol). Ao longo deste período, muitos êxitos e muito questionamento – ao mesmo tempo em que centenas de adolescentes e jovens receberam oportunidade de estudar e atuar profissionalmente no exterior, o país segue enfrentando um contexto amador na prática – que já existe no Brasil desde a vinda de imigrantes japoneses e trabalhadores estadunidenses no início do século 20.
Prestes a iniciar o último ano de gestão (a CBBS terá eleições ao final de 2024), Otsuka fala em desacelerar e em recuperar tempo com a família. Aos 76 anos, o presidente não poderá concorrer a um novo mandato e mira aposentadoria. A conversa aconteceu no saguão de um hotel na capital Santiago, durante intervalo de reuniões de trabalho. Confira a entrevista exclusiva que o tailgate zone fez com o presidente durante a cobertura do Pan de Santiago! (a partir de 17h00 de sexta-feira, 03 de novembro)
Atual ciclo e auge do trabalho
A Seleção Brasileira garantiu em Santiago o melhor resultado da história em competições internacionais, sendo a ‘glória’ na visão da CBBS. “Quase ninguém acreditava nessa possibilidade, nem no Brasil (…); foi um grande ‘up’ que o beisebol brasileiro conseguiu”, lembrou Otsuka.
Essa conquista é atribuída ao bom trabalho de um corpo técnico construído para a disputa do Campeonato Sulamericano de Beisebol, realizado no Peru em 2022, e vencido pelo Brasil. O título deu direito ao Brasil voltar a disputar o Pan. “O Márcio (Irikura), com um jeito calmo e tranquilo, conseguiu trabalhar o grupo”, completou, destacando a diferença do trabalho realizado pela comissão no Pan com os atletas em relação à disputa das qualificatórias do Clássico Mundial de Beisebol ano passado, no Panamá.
As vitórias memoráveis contaram com protagonismo de jovens como Victor Coutinho (22), Gabriel Barbosa (21) e Osvaldo Carvalho Jr. (22), no que é um processo claro de renovação – nomes como André Rienzo (35) e Jean Tomé (34) tiveram a provável ‘última dança’ com a Seleção. O reflexo acontece também na gestão do esporte – há um preparo da transição, com nomes jovens. “São mais jovens e mais acostumados com o clima do beisebol; seguiremos auxiliando (…), pois temos que introduzir os novos gestores nas organizações internacionais”, completou.
Internacionalização mudou o panorama do esporte
Atualmente o beisebol brasileiro conta com algumas dezenas de atletas que atuam em equipes profissionais (EUA, Japão, Europa, América Latina) e também com bolsas de estudo pelo esporte (Japão e EUA), tudo em função do beisebol. O processo começou há cerca de 15 anos, por meio do contato entre a CBBS e instituições de ensino dos Estados Unidos e Japão, além da MLB. Em geral, os atletas beneficiados fazem parte do Centro de Treinamento da Yakult, localizado em Ibiúna-SP, e principal local de desenvolvimento de beisebol no Brasil.
Ao longo de 15 anos o Brasil alcançou patamares de destaque. Ao passo que a primeira leva de atletas brasileiros se destacou nas principais ligas de beisebol do mundo – nomes como Felipe Natel, André Rienzo e, mais recentemente, Eric Pardinho -, o trabalho desenvolvido em Ibiúna ganhou ainda mais relevância e interesse.
Com mais atenção e investimento, a tendência é ampliar a formação.“Eu vejo com muito otimismo o futuro para o beisebol brasileiro”, pontuou Jorge. “Precisa haver outros polos de beisebol, tanto no interior de São Paulo como no norte do Paraná e em Mato Grosso; o impasse é a grande quantidade de material necessária”, completou.
Relação com a MLB
Otsuka revelou que uma recente visita de oficiais da Major League Baseball passou por cidades como Londrina, Marília e Atibaia, locais com forte desenvolvimento de atletas. A ideia foi prospectar espaço para novos centros de treinamento. “O modelo é o CT Yakult, em Ibiúna, e o pessoal da MLB está com vontade de tocar este projeto com a gente”.
Da visita com a MLB surgiu a possibilidade de a organização cobrir as despesas dos 50 atletas que residem em Ibiúna em regime de internato (estudam e vivem dentro do CT).O investimento é de cerca de R$ 3 mil por mês para cada atleta (aproximadamente R$150 mil mensais. “Também estamos trabalhando com prefeituras como São Paulo e Atibaia, além do Ministério do Esporte, para facilitar a importação dos materiais com isenção das taxas de importação”, concluiu Otsuka.
Futuro próximo e ‘pé no breque’
Com o fim da atual gestão em 2024 e a necessária renovação na cara da CBBS, Jorge fala em parar definitivamente. “Eu tenho 4 netos; minhas filhas cobram isso”, comentou com descontração. “A gente perde muito da companhia familiar”. Mas mesmo nos bastidores, o atual presidente explicou que seguirá dando suporte às atividades.
O maior salto que o esporte dará em décadas será em um contexto completamente diferente, com outros nomes na liderança da CBBS. Futuros investimentos, novas possibilidades de patrocínio e eventuais parcerias; tudo será promovido e organizado pela nova gestão da Confederação. A eleição tem participação de conselho e atletas, e deve ter ampliação no número de votos. “Estamos analisando a possibilidade de ampliar em 10 nomes entre os atletas, mesmo que não seja obrigatório; e os atletas são escolhidos pela própria comunidade de atletas”, revelou Otsuka. “De qualquer forma, acredito que estaremos em boas mãos”, concluiu.
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Muito boa a entrevista. Belo trabalho vocês fazem. Parabéns!