Olá “au,au”migos, bem vindos de volta a coluna mais animal dos esportes. Após quase dois meses, resolvi nessa semana retomar minha série sobre as mascotes olímpicas marcantes. Depois de ter que “voltar no tempo” para falar de Waldi, a mascote de Munique 1972, logo após Los Angeles 1984, a partir de agora poderemos retomar o curso normal.
Dessa forma, chegamos hoje a Barcelona 1992 e sua revolução de conceitos, seja de organização, legado ou de marketing. Um dos resultados dessa “missão revolucionária” foi a mascote CoBi, que também quebrou paradigmas.
Obs: não, eu posso ser uma cachorra mas não esqueci como se digita em teclado: o nome oficial da mascote tem esse B em maiúsculo no meio do nome como explicaremos mais abaixo.
Processo de Escolha
Depois de Misha e Sam, a instituição “mascote olímpica” já era algo tradicional. Sendo assim, o departamento de marketing de qualquer edição dos Jogos Olímpicos deveria dar muita atenção a ele e o Comitê Organizador dos Jogos de Barcelona 1992, o COOB, decidiu montar um concurso para escolher a mascote. Só que não foi um concurso aberto como é comum hoje: ele convidou seis designers espanhóis para criarem seus projetos e depois um júri escolheria o melhor.
Como resultado desse processo de escolha, o projeto vencedor foi o do designer industrial Javier Mariscal, que já havia ganho fama com a logo “Bar Cel Ona” na década de 80, que ainda é uma marca forte de propaganda da cidade.
Origem do nome
O seu nome, derivado da sigla do Comitê Organizador, COOB, foi escolhido por ser um nome de fácil memorização e pronúncia na maior parte das línguas mais faladas do mundo. Já o tal B maiúsculo foi uma ideia do próprio Mariscal pois ele percebeu nesse toque excêntrico a chance de não só nomear uma mascote, mas criar uma verdadeira logomarca para ele.
Também por isso, Mariscal também fez uma série de desenhos que mostrava CoBi praticando todos os esportes olímpicos. Mais tarde, tais desenhos serviram de base para booblehead vendidos.
Inspiração para Criação
Mariscal criou um projeto totalmente inovador. Sua inspiração foram meus primos da raça pastor catalão. Porém, nos 20 dias que trabalhou para criar CoBi, ele modificou bastante o desenho incial. Como resultado, à primeira vista, ele sequer parece um cachorro. Quem quiser maiores informações sobre esse processo de maturação do desenho pode ver o vídeo explicativo abaixo.
Porém, assim que é revelada a fonte de inspiração, logo reconhecemos os traços da mascote que remetem ao pastor catalão. Foi a primeira vez que esse fenômeno apareceu em uma mascote olímpica. Muitos anos depois ele voltaria, mas isso é assunto para daqui a 2 colunas “olímpicas”.
Assim como seus antecessores, CoBi não esqueceu o país e a cidade sede da edição em sua concepção. Para tal, Mariscal se inspirou nos traços cubistas do pintor espanhol Pablo Picasso para desenhar sua mascote. Mais especificamente, na série quadro “Las Meninas”, que se encontra completa no Museu Picasso, justamente na cidade de Barcelona. Por sua vez, essa série foi uma releitura ao estilo de Picasso do quadro Las Meninas, obra-prima do mestre barroco espanhol Diego Velasquez.
Ousadia Revolucionária
O traço cubista desviava do padrão de todas as mascotes olímpicas anteriores. Para aumentar ainda mais a estranheza, ele usou uma falsa perspectiva, com cores planas e sem qualquer gradação ou textura. O resultado foi uma imagem extremamente chapada. Isso diferia de todos as mascotes anteriores, mesmo o soviético Misha, que beberam nas águas do desenho de Walt Disney, que tinha por premissa o exato oposto.
Mas Barcelona 92 queria ser registrada como os Jogos Olímpicos da mudança. Para atingir este objetivo, nada melhor que uma mascote completamente diferente, longe da linha “doce e amoroso”. O projeto de Mariscal se encaixou nessa vontade, trazendo uma nova estética e um novo conceito teórico para marcar essa posição. Porém, para diminuir o estranhamento do público, Josep M. Trias, o criador da logo de Barcelona 92, suavizou alguns traços criados nos desenhos de Mariscal usando o computador.
A ousadia deu muito certo. Apesar de um forte estranhamento inicial, que criou uma onda rejeição logo após a sua primeira exibição, os traços suavizados e a forma já consagrada para uma mascote de um bichano humanizado fizeram CoBi atingir grande sucesso a medida que todos se familiarizaram com ele. Outro ponto positivo é que tal processo não retirou a essência cubista da mascote.
Sucesso Comercial
O resultado foi esplendoroso e as vendas da linha “cobiana”, nome da série de souvenirs vendidos com base na figura de CoBi, foram um sucesso. Até, aqui, Cobi nada fez de diferente de outras mascotes anteriores, mas ele foi além. Como seu desenho é chapado e simples, apesar de bastante autoral, várias patrocinadoras olímpicas, tais como Coca-Cola e Danone, usaram a imagem de CoBi para ilustrar seus produtos e peças de marketing. Em virtude dessa última característica, na qual CoBi foi único, o COI o reconhece como a mascote olímpica mais rentável da história.
Assim como os mascotes anteriores, CoBi também teve seu desenho: “The Cobi Troupe” (“Cobi e sua Turma” no Brasil) fez considerável sucesso na Espanha e foi exibido em mais de 20 países.
A popularidade de Cobi foi tão grande que o COOB decidiu colocar um enorme boneco inflável de Cobi na orla de Barcelona.
Legado
Juntamente com o CoBi inflável, obviamente provisório para a época dos Jogos, também foi inaugurada uma estátua em metal no bairro da Vila Olímpica que ficou de lembrança e legado para a cidade e pode ser visitada até hoje no Parque do Porto Olímpico.
Além desse legado físico e turístico para a cidade, CoBi mostrou que não é necessário que uma mascote siga a fórmula dos anteriores. Ousar em alguns momentos é fundamental e pode levar a conquistas que a “receita de bolo” tradicional não alcançaria e mostrar novas possibilidades.
Infelizmente, logo após CoBi, houve uma série de mascotes olímpicos extremamente computadorizados e abstratos que simplesmente não foram bem aceitos e tiveram pouco sucesso comercial. Pequim 2008 em uma tentativa de “customizar” as mascotes, criou 5 de uma só vez.
A ideia também não obteve popularidade e, ao invés de customizar, apenas afastou o público e diminuiu sua importância em todo planejamento dos Jogos. Por isso, quando eu voltar a falar de mascote olímpica darei um grande salto na história, justamente para pular essa fase triste.
Por isso, por mais de 20 anos CoBi continuou sendo o último modelo de sucesso para os Comitês Organizadores e, até hoje, é o melhor exemplo para mostrar como conceito artístico, mascote e popularidade podem se juntar para criar um sucesso tanto de popularidade e comercialização para quem organiza um evento esportivo.