Todos os dias homens e mulheres deixam suas casas, filhos e famílias e vão trabalhar. No esporte também. Atletas homens e mulheres treinam, competem, ganham e perdem. Mas há um adversário comum para trabalhadoras e as atletas: o sexismo.
Estudo do IBGE, publicado em 2018, aponta que mulheres, de 25 a 49 anos, no mercado de trabalho recebem salários menores que os homens, apesar de realizarem exatamente as mesmas funções.
A diferença fica ainda mais gritante na faixa etária dos 40 aos 49 anos. As trabalhadoras nessa idade recebem 75% do que ganham homens na mesma função.
NO ESPORTE A MESMA DESIGUALDADE
A realidade das atletas não é nem um pouco diferente quanto à desigualdade nos salários e premiações.
Casos de pagamento inferior para as mulheres são muitos. Em 2018, o Oi Park Jam, competição relevante no cenário nacional do skate, teve uma defasagem de R$ 12 mil no prêmio das categorias masculina e feminina. Enquanto Pedro Barros levou R$ 17 mil pelo título, a campeã Yndiara Asp recebeu R$ 5 mil (???).
Em 2016, outro exemplo ocorreu na premiação da Liga Mundial e do Grand Prix. Enquanto os sérvios levaram US$ 1 milhão, as brasileiras dividiram US$ 200 mil. À época, Sheila, a oposto da seleção, foi perguntada sobre essa diferença e disse: “É uma sacanagem. Pronto, já respondi. É um absurdo. Falamos isso desde o meu primeiro Grand Prix. É injusto”.
O jornal britânico “The Guardian” publicou artigo em 2018 mostrando que 70% dos tenistas homens recebiam prêmios maiores que as tenistas mulheres. Mais precisamente, 71% do top 100 masculino ganham mais do que as mulheres no mesmo ranking.
IRMÃS WILLIAMS E BILLIE JEAN KING
Em 2005, um dia antes de jogar e vencer a final de Wimbledon, Venus Williams convocou uma entrevista coletiva onde exigia que o tradicional torneio inglês de tennis e Roland Garros pagassem premiações iguais para homens e mulheres.
“Os nossos corações batem do mesmo jeito. Quando fechamos os olhos não podemos dizer se são homens ou mulheres que estão do nosso lado. Pedi a eles que pensassem nas suas filhas, esposas e irmãs. Como elas gostariam de ser tratadas?”, disse Venus.
Em 2007 Wimbledon anunciou que pagaria a mesma premiação para homens e mulheres. O que foi seguido depois pelo Open francês.
Ainda no mundo do tennis, o US Open foi o primeiro Grand Slam a pagar a mesma premiação para as e os tenistas. Graças à legendária Billie Jean King, que ameaçou boicotar o torneio em 1973. Naquele ano, a campeã Margaret Court levou os mesmos US$ 25 mil que John Newcomb, o campeão masculino. Em 2019, Bianca Andreescu e Rafael Nadal receberam US$ 3.85 milhões pelo título no Major americano.
IGUALDADE PARA TODO LADO
Aliás, as irmãs Williams junto com o Billie Jean King Leadership Initiative (BJKLI) dão voz à luta por salários e premiações iguais para mulheres em todos os ramos de atividades. “O BJKLI não é sobre esportes. É sobre a indústria. Queremos pagamento igual para trabalhos iguais, desde CEOs aos postos mais básicos”, disse Billie Jean King.
ONDE HÁ IGUALDDE
Mas nem tudo está perdido. Além do BJKLI, há outros movimentos que buscam igualdade. Esportes como judô, atletismo e o surfe pagam as mesmas premiações para homens e mulheres. A World Surf League (WSL) anunciou em 2018 que passaria a premiar com o mesmo valor seus surfistas e suas surfistas.
Na natação também não há diferença no dinheiro recebido por nadadoras e nadadores. Etiene Medeiros, primeira mulher do país a conquistar uma medalha de ouro em um Campeonato Mundial de Natação (seja em piscina curta ou longa) e em Jogos Pan-americanos disse “na natação, nunca passei por isso. Só há premiação em dinheiro nas categorias adultas e são iguais para homens e mulheres. Mas defendo a igualdade. O esporte feminino está cada vez mais forte. Vejo isso no vôlei, mas as meninas batalham muito contra isso”.
LADO POSITIVO
A BBC Sports realizou estudo, em junho 2017, que mostrava que 83% dos esportes pagam mulheres e homens da mesma forma. Dos 44 torneios analisados, 33 pagam prêmios iguais.
A pesquisa se concentrou em mundiais e eventos do mesmo patamar de importância. Salários, bônus e patrocínios não foram incluídos.
Percebe-se que o caminho para a igualdade vem sendo trilhado graças à luta de mulheres como Billie Jean King, as irmãs Williams, Yane Marques, Etiene Medeiros e Sheila.
A mesma pesquisa da BBC, em 2014, mostrava que 30% das competições premiavam homens com remuneração maior que a das mulheres.
NO BRASIL
Por aqui, em terras brasileiras, a desigualdade é igual à de outros países. A premiação no futebol, por exemplo, é um abismo entre homens e mulheres. Em 2013, o Cruzeiro, campeão brasileiro, levou R$ 9 milhões em prêmios. No entanto, o Centro Olímpico, campeão do torneio nacional feminino, ficou com o prêmio de R$ 0 (ZERO)!!!
Mas as coisas parecem estar mudando. O deputado federal pelo PTB-MA, Pedro Lucas Fernandes, apresentou o PL 1416/19 que prevê isonomia nas premiações de homens e mulheres nas competições em que haja financiamento público. “Se for aprovada, vai direto para o Senado. E lá, se aprovada, vira lei”, comentou o deputado.
A iniciativa do parlamentar brasileiro foi motivada pela repercussão da luta travada e vocalizada pela atacante da seleção dos EUA Megan Rapinoe, durante a Copa do Mundo de futebol. “Eu vi as entrevistas de atletas femininas reclamando das condições de trabalho e premiações. O Estado brasileiro precisa começar a dar exemplo. Eu recebo muita mensagem sobre isso e pelo projeto de lei, não importa a quantidade de patrocínio, se tem 50% ou apenas R$ 1 de dinheiro público, vai precisar ter isonomia nas premiações”.
Para o advogado Samuel Bueno, da área de esportes e entretenimento da ASBZ Advogados, é “uma pauta que deve ser discutida e tem por objetivo final o desenvolvimento do desporto feminino a partir da igualdade de premiação entre homens e mulheres. Esse pode ser um primeiro passo fundamental para a diminuição da desigualdade hoje existente”, afirma.
AQUI NO TAILGATE
Aqui na redação do tailgate a gente vê com bons olhos a iniciativa, mas este que vos escreve tem um pezinho atrás. Sobretudo porque o atual governo extinguiu o Ministério dos Esportes, além de trabalhar arduamente no desmonte da cultura e, mais ainda, ter dito por meio de seu ministro da Economia, Paulo “Posto Ipiranga” Guedes, que o Estado reduzirá drasticamente o patrocínio aos esportes.
Por tanto, o que queremos é que essa iniciativa do legislativo chegue ao mercado para que todos os esportes e profissões ocupadas por mulheres, indistintamente, paguem os mesmos prêmios e salários que os homens recebem.